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Menina-coragem

Desde os 11 anos que luta pelo direito ao ensino das mulheres paquistanesas. Aos 15, tentaram matá-la, mas sobreviveu a um tiro na cabeça. Aos 16, refugiada em Londres, é uma inspiração para todos os que se preocupam com os direitos humanos, galardoada com importantes prémios internacionais, vencendo a edição 2013 do Prémio Sakharov. Esteve também nomeada para o Prémio Nobel da Paz.

A paquistanesa tornou-se um símbolo da luta pelo acesso universal à educação, depois de se recusar a seguir a lei imposta pelos taliban no vale do Swat, onde vivia, que não permitia às mulheres frequentarem a escola. Malala insistiu em continuar a estudar, ao mesmo tempo que ia dando a conhecer ao mundo a sua luta através de um diário publicado pela BBC. A sua irreverência tornou-a um alvo a abater. A ativista, fã confessa do próprio pai, tem dois irmãos e fala inglês, urdu e pastum, uma língua indoeuropeia falada no Paquistão e no Afeganistão por 45 milhões de pessoas.

Malala fez o seu primeiro discurso público em setembro de 2008, sob o título ‘Como se atrevem os talibãs a retirar o meu direito básico à educação?’ Poucos meses depois, em janeiro de 2009, sob ordem talibã, todas as escolas para raparigas da região foram encerradas. Malala escrevia então um diário para a BBC Urdu, a língua oficial do Paquistão. Fazia-o sob o pseudónimo Gul Makai, uma heroína de um conto popular paquistanês. Ainda assim, a sua identidade foi descoberta e a menina e a sua família passaram a ser alvo de ameaças.

Corajosa, continuou a ir às aulas e a escrever. Em consequência, no dia 9 de outubro de 2012, apenas com 15 anos, foi atingida a tiro, quando voltava para casa num autocarro escolar. Depois do ataque, foi levada de helicóptero para um hospital militar e operada ao crânio. Uma das cirurgias consistiu em colocar uma placa de titânio na cabeça. Outra, na reconstrução de um tímpano destruído pela bala. Antes de ser operada, gravou uma entrevista, só mais tarde divulgada, na qual declarou: “Deus deu-me esta nova vida, é uma segunda vida. Eu quero servir, quero servir as pessoas. Quero que todas meninas e crianças, recebam instrução.”

Outras duas estudantes ficaram feridas no atentado, e centenas de pessoas manifestaram-se junto à escola onde estudavam as três meninas.

Os protestos tiveram ampla cobertura dos meios de comunicação paquistaneses. O atentado foi também condenado pela comunidade internacional, nomeadamente por figuras públicas, como Desmond Tutu, Barack Obama, Hillary Clinton, Laura Bush, Selena Gomez e Madonna. Um porta-voz dos talibãs paquistaneses, Ehsanullah Ehsan, assumiu a responsabilidade pelo vil ato e ameaçou atacar Malala novamente se ela sobrevivesse às cirurgias, justificando-se da seguinte forma:

Ela é pró-Ocidente, estava a criticar os talibãs e a chamar ao presidente Obama seu ídolo. Ela ainda é jovem, mas estava a promover a cultura ocidental em áreas pastum [o maior grupo étnico do Afeganistão].” O ex-editor do site da BBC no Paquistão, Mirza Waheed , respondeu a estas declarações do radical talibã com o seguinte: “Ela é apenas uma menina que queria ir à escola.

Fama na BBC e prémio atribuído por unanimidade

No início de 2009, estava Mirza no escritório do canal britânico em Londres quando um dos seus repórteres, que cobria as ações dos militantes talibãs no vale do Swat, Abdul Hai Kakkar, lhe contou que tentara convencer Ziauddin Yousafzai, o diretor de uma escola local, a persuadir um dos seus professores a escrever sobre a vida no Swat sob o domínio talibã.

Nenhum dos professores quis fazê-lo, mas a filha do diretor, à época apenas com 11 anos, aluna do sétimo ano, mostrou-se interessada em escrever um diário. Era Malala Yousafzai. “Será que a BBC publica o diário?”, perguntou o repórter ao editor. “Estávamos a cobrir a violência e a política no vale do Swat, mas não sabíamos muito sobre como as pessoas viviam o dia a dia”, acrescentou Mirza. “Assim, por unanimidade, decidimos publicar o diário, mas a segurança de Malala sempre foi uma grande preocupação, e decidimos publicá-lo sob um pseudónimo”, acrescentou.

O ‘Diário Escolar de uma Menina do Paquistão’, escrito por Malala Yousafzai, começou assim a ser publicado sob o pseudónimo Gul Makki. “Malala passava as páginas do diário escritas à mão ao nosso repórter, ele digitalizava-as e enviava-as para Londres. Eu editava o texto de forma a preservar a sua franqueza, a deixá-lo cru, e, às vezes, os meus olhos enchiam-se de lágrimas.”

Recuperação demorada

A 15 de outubro de 2012, seis dias após a tentativa de assassinato, Malala foi transferida para o Hospital Rainha Isabel, no Reino Unido, para continuar a recuperação. Só teve alta alguns meses depois, no dia 4 de janeiro de 2013.

A 12 de julho, comemorou o seu 16.º aniversário a discursar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, sob o olhar emocionado da sua família, onde voltou a apelar ao acesso à educação para todas as crianças: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação primeiro”, destacou a jovem.

Esta foi a sua primeira aparição pública após recuperar do ataque. Nesse mesmo dia, inaugurou em Birmingham, Inglaterra, onde agora vive, a maior biblioteca pública da Europa.

Entrevistada pelo comediante norte-americano Jon Stewart, quando este lhe perguntou qual a sua reação quando soube que os talibãs queriam matá-la, respondeu:

Comecei a pensar sobre isso e costumava pensar que ele viria e simplesmente me mataria, mas depois disse para mim própria: ‘Se ele vier, o que farás, Malala?’, e imaginava a resposta: ‘Acerta-lhe com um sapato.’ Foi então que pensei: ‘Se atirares um sapato ao talibã, não haverá grande diferença entre ti e ele. Não deves ameaçar os outros com crueldade e ódio, deves enfrentá-los através da paz, do diálogo e da educação. Depois dizia-lhe como a educação é importante e que até a desejo para os filhos dele. Seria o que lhe diria, e depois acrescentaria: ‘Agora faz o que quiseres.’

A 12 de julho de 2013, no dia do seu aniversário, Malala Yousafzai discursou na Assembleia da Juventude das Nações Unidas e emocionou o mundo.

Video do discurso de Malala Yousafzai na ONU:

Imagem de destaque Reuters

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