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Quando o medo de ficar de fora impede de viver

A Psicóloga Clínica no Centro do Bebé explica o que é a síndrome de FOMO (Fear Of Missing Out) e relembra que “a vida real só existe offline”

Certamente que já se sentiu mal por não ter feito parte de algum evento divulgado nas redes sociais pelos seus amigos, ou por não ter experimentado determinada comida viral que passou pela sua timeline – linha do tempo – do Instagram ou TikTok.  Já se perguntou que espécie de sentimento é este, que a deixa tão ansiosa que está constantemente a verificar o seu telemóvel, que a faz sentir-se de parte quando não está presente num local em que estão várias pessoas que segue online ou que a impede de deixar um evento quando se sente casada? Chama-se FOMO (Fear Of Missing Out), que, traduzindo para a língua portuguesa, significa o medo de ficar de fora.

Andreia Bastos, Psicóloga Clínica no Centro do Bebé, explicou à LuxWoman mais sobre este estado, que “não é considerado uma perturbação mental, mas sim uma manifestação de sintomas de ansiedade”, e existe, maioritariamente, associado ao consumo de redes sociais.

Andreia Bastos, Psicóloga Clínica no Centro do Bebé

Andreia Bastos, Psicóloga Clínica no Centro do Bebé

O que é o FOMO (Fear Of Missing Out)?

O FOMO é um estado de ansiedade sentido por uma pessoa que não quer perder eventos divertidos ou massivamente divulgados nas redes sociais por amigos ou pessoas que seguem online ou, dito de outra forma, a ansiedade que uma pessoa sente por não estar a viver a vida que os outros divulgam online.

Esta síndrome é algo diagnosticável? Pode ser considerada uma doença?

Não, este estado não é considerado uma perturbação mental, mas sim uma manifestação de sintomas de ansiedade. Tendencialmente, o FOMO não é a única queixa identificada pela pessoa. É comum estar associado a outros sintomas de ansiedade (por exemplo: dificuldade em descansar/realizar atividades de maior relaxamento), a um consumo excessivo de redes sociais, a dificuldades de sono e a algum grau de insatisfação com dimensões da vida atual.

Que sintomas são esses?

Estar constantemente a verificar o smartphone, sintomas de ansiedade quando recebe uma notificação e não consegue ver do que se trata no mesmo momento, querer ir a todas as atividades/locais massivamente divulgados online, sensações desagradáveis quando não foi está num local/evento em que estão várias pessoas que segue online, gastos financeiros excessivos, dificuldade em sair de eventos quando se sente cansado/a e/ou doente são alguns dos sinais que nos podem alertar que estamos a sentir FOMO.

As redes sociais têm aumentado este sentimento e, consequentemente, esta síndrome? 

Absolutamente, esta síndrome existe maioritariamente associada ao consumo de redes sociais. Estas plataformas vieram invadir o nosso tempo e retirar espaço a outras atividades do nosso dia a dia. O facto de as redes sociais potenciam a exposição a conteúdo do nosso interesse faz com que seja mais difícil interromper a sua utilização e, por esse conteúdo estar permanentemente alinhado com a nossa perspetiva, impede-nos de ter acesso a informação discordante. Como é que se torna possível desenvolver pensamento crítico se diariamente só ouvimos pessoas que acreditam no mesmo do que nós? Por outro lado, as redes sociais passaram a comparação que antes existia na nossa rua, na nossa escola, no nosso local de trabalho, para uma escala global. Hoje temos adultos e jovens a compararem-se à vida de pessoas que estão pelo mundo inteiro. Também as noções de privacidade e intimidade têm vindo a mudar, fruto da exposição online, o que promove erradamente a sensação de que conhecemos a vida de alguém só pelo que publicam online. Como só temos acesso ao que sentimos e pensamos dentro de nós, torna-se muito apetecível acreditar que se a outra pessoa publica uma fotografia com um sorriso está a ter um dia e uma vida muito mais maravilhosa do que a nossa, o que não é de todo verdade.


O facto de as redes sociais potenciam a exposição a conteúdo do nosso interesse faz com que seja mais difícil interromper a sua utilização e, por esse conteúdo estar permanentemente alinhado com a nossa perspetiva, impede-nos de ter acesso a informação discordante


O caso do chocolate do Dubai, que tem esgotado no dia em que é colocado à venda e das centenas de vídeos partilhados a experimentar, é um exemplo desta síndrome?

Esse pode ser um exemplo claro dos sinais que falávamos anteriormente. Um comportamento repetido por milhares de pessoas e divulgado online que, quando não realizado, pode evocar a sensação de que não estamos a fazer parte da mais recente tendência. Se esse chocolate não tivesse sido divulgado massivamente online, quantas pessoas o teriam comprado? Pode até ser uma questão interessante para nos colocarmos: se eu não publicar online o registo deste objeto/local/experiência continuo a querer estar neste local ou a ter este objeto?

Que impacto pode ter, especialmente, nas gerações mais novas?

Tem sido alvo de discussão pública o acesso às redes sociais e aos telemóveis pelos mais jovens e o impacto do FOMO está alinhado com os pontos tendencialmente identificados. Há o risco de sintomas de ansiedade, dificuldades de sono, consumo excessivo de redes sociais, desinteresse por atividades offline, alterações do comportamento, alterações dos padrões de alimentação, sensação de menor satisfação com a vida, entre outros.


Pode até ser uma questão interessante para nos colocarmos: se eu não publicar online o registo deste objeto/local/experiência continuo a querer estar neste local ou a ter este objeto?


De que forma podem os pais ajudar a combater este sentimento?

É importante que os pais estejam alerta que os seus próprios comportamentos vão ser um referencial importante para os comportamentos dos mais jovens. Por isso, os pais podem envolver-se em tempo de família offline, criar momentos de reflexão sobre comportamentos online, investir tempo em interesses pessoais offline, clarificar que a vida real e a online são diferentes, clarificar a ideia que somos todos diferentes e cada um terá o seu percurso, valorizar elementos imateriais da família e do/a jovem, pedir ajuda profissional, caso identifiquem que estes comportamentos estão a ter um impacto na funcionalidade dos/as filhos/as.

Que estratégias recomenda para lidar com o FOMO?

A estratégia mais simples e eficaz para reduzir os sinais de FOMO é relembrarmo-nos diariamente que a vida real só existe offline, o que vemos online é uma representação muito reduzida da vida de outra pessoa que não nos dá qualquer informação sobre como é a sua vida. Outras estratégias que podem ajudar são reduzir o tempo online, criar um álbum pessoal e/ou familiar com memórias, escrever uma lista das 10 pessoas/objetos/memórias que sentiríamos mais saudades caso perdêssemos, explorar hobbies, fazer exercício físico, e caso as queixas de ansiedade estejam a interferir com o quotidiano, recorrer a acompanhamento psicológico.

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