Segundo Cátia Silva, a série da Netflix convida a refletir sobre os desafios da juventude e da parentalidade no mundo digital
A série “Adolescência” tem sido, nas últimas semanas, um dos temas mais falados nas redes sociais – e com razão, segundo a psicóloga Cátia Silva. A produção da Netflix mergulha nos desafios da adolescência, explorando a influência das redes sociais, a desconexão entre pais e filhos e o impacto emocional que este afastamento pode ter no desenvolvimento dos nossos jovens. Como psicóloga e mãe, Cátia Silva considera fundamental que se reflita sobre as questões levantadas ao longo da série e sobre como elas ecoam na nossa sociedade.
Cátia Silva, Psicóloga
A manosfera
Um dos temas centrais da narrativa é a manosfera — um espaço digital onde discursos misóginos se difundem, moldando negativamente a visão do mundo destes jovens que ainda estão a desenvolver a sua identidade. A exposição contínua a conteúdos que promovem violência e ódio levanta um alerta preocupante sobre o impacto das redes sociais no desenvolvimento emocional e comportamental dos adolescentes. Num mundo onde tudo acontece a um ritmo acelerado, a falta de vigilância sobre os conteúdos que os jovens consomem pode resultar na perda de oportunidades cruciais para intervir a tempo e evitar consequências mais graves.
Desconexão emocional entre pais e filhos
Outro ponto essencial abordado pela série é a desconexão emocional entre pais e filhos – um dos maiores desafios da parentalidade moderna. Muitos pais sentem dificuldade em compreender o universo digital em que os filhos estão imersos, e esta lacuna gera um afastamento gradual. O abandono emocional sentido pelos jovens, mesmo que não intencional, é uma realidade com consequências profundas para o bem-estar psicológico dos mesmos. Cátia Silva refere que, na prática clínica, encontra frequentemente jovens que se sentem incompreendidos e desamparados, procurando no mundo digital a validação e o apoio que não encontram em casa. Este ciclo pode ser perigoso, especialmente quando os conteúdos a que têm acesso são prejudiciais.
O mundo digital
Do ponto de vista psicológico, “Adolescência” convida-nos a refletir sobre como podemos apoiar melhor os jovens nesta era hiperconectada, onde as redes sociais ocupam um papel central nas suas vidas. Para mitigar os riscos, é essencial um diálogo intergeracional mais eficaz, no qual os pais se disponham a compreender o mundo digital dos filhos e a construir uma relação de confiança. Criar um ambiente seguro e acolhedor, onde os adolescentes se sintam livres para expressar as suas preocupações e desafios, pode fazer toda a diferença. Para os profissionais de saúde mental, a série reforça a importância de educar as famílias sobre os riscos emocionais do uso excessivo das redes e a necessidade de estratégias de prevenção que promovam o equilíbrio e o bem-estar dos adolescentes.
A série estreou no dia 13 de março e conta a história de como a realidade de uma família é virada do avesso quando Jamie Miller (Owen Cooper), de 13 anos, é detido pelo homicídio de uma adolescente que frequenta a mesma escola que ele.
Segundo a Cátia, “Adolescência não é apenas um drama televisivo – é um convite para uma reflexão profunda sobre os desafios da juventude e da parentalidade no mundo digital”. Como psicóloga, refere que “esta série reforça a urgência de criarmos espaços seguros, tanto em casa como no consultório, para que os jovens possam expressar as suas dificuldades e atravessar esta fase turbulenta com o apoio necessário”.