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Rita Anjos, a maquilhadora portuguesa do GAME OF THRONES

Por Eduardo Estevam – Make up Artist

Rita Anjos iniciou sua carreira em Efeitos Especiais de Maquiagem e Próteses em 2012, depois de se formar no prestigiado Neill Gorton Studio, em Londres. Desde então, ela trabalhou com várias empresas britânicas de efeitos, incluindo Krystian Mallet, Millennium FX e Barrie Gower FX.

Até o momento, trabalhou em várias produções de filmes de alto nível e anúncios de TV, além de fazer importantes contribuições para os programas de TV premiados Emmy e BAFTA, Dr Who e Game of Thrones.

Rita, sei que a maior parte do teu trabalho é internacional e que um dos passos que deste para começar a tua carreira internacional foi na escola Neill Gorton Studio em Londres, onde deste continuidade aos teus estudos de efeitos especiais.  Como chegaste até essa escola? Como foi a experiência?

Decidi fazer o curso de efeitos especiais em Inglaterra porque sabia que em termos de ensino eles estavam bem mais avançados do que nós. E por coincidência ou sorte, a indústria cinematográfica britânica na altura estava num grande boom devido aos incentivos fiscais criados pelo governo para atrair grandes produções. Este impulso é crucial pois ajuda a criar mais treino e oportunidades de negócios que por sua vez vão permitir que as suas próprias produções independentes prosperem. Depois de alguma pesquisa fiquei convencida de que o Neill Gorton Studios era o melhor escola para começar e penso que não poderia ter escolhido melhor. Foram 7 semanas super intensas de aprendizagem, cheias de constante entusiasmo e felicidade porque senti que era aquilo que eu queria e, inclusive, superou as minhas expectativas.

Qual foi o teu primeiro contacto com a industria  cinematográfica internacional?  Quais são as maiores diferenças que sentes entre trabalhar em projetos internacionais e nacionais? 

O meu primeiro contacto com a indústria foi a minha participação no filme Child 44 que aconteceu através de um post no Facebook em que procuravam maquilhadores de efeitos especiais para ir a Praga aplicar feridas numa multidão de pessoas que iam aparecer mortas no filme. Penso que essa sequência, durante a montagem, foi cortada mas adorei a experiência e conheci artistas fantásticos. As maiores diferenças que encontro entre estar em Inglaterra e Portugal é talvez a diversidade de projetos em que tive a oportunidade de participar e a quantidade de artistas maravilhosos que conheci. Em Portugal também existem pessoas com um talento enorme mas que por um motivo ou outro nunca tiveram essas mesmas oportunidades. Outra diferença é que quando lá estou, estou sempre a trabalhar o que me dá uma segurança económica que em Portugal ainda não existe.

 Game of Thrones é um dos nomes que ficou registado no teu currículo. Fala me um pouco sobre a tua experiência… O que mais te impressionou ? Em que locais filmaste? O que é que mais gostaste de fazer? 

Game of Thrones é sem dúvida um grande marco na minha carreira e do qual sinto bastante orgulho. Tinha apenas cerca de 4 ou 5 horas para dormir e tinha de me levantar às 2h da manhã para começar a aplicar uma maquilhagem às 4h, mas sentia-me entusiasmada todos os dias por fazer parte de algo tão fantástico e tão grandioso. E fiquei com uma estima enorme por todos os meus colegas, funcionávamos como uma família, passávamos imenso tempo juntos e é magnífico descobrir que, de certa forma, todos temos os mesmos interesses, a mesma paixão pelo que fazemos. Filmamos, maioritariamente, nos arredores de Belfast, na Irlanda do Norte, e todas as manhãs saíamos juntos do hotel e íamos de carrinha até ao local de filmagens, ou estúdio. No entanto quase todas as cenas em que estive envolvida foram filmadas em exteriores pois envolviam as Crianças da Floresta ou os White Walkers e as suas presas, que eram chamados de “Wights” .

O que mais me impressionou..? Tudo! Tudo estava desenhado ao pormenor para não existirem falhas… Adorei a cumplicidade de todos os envolvidos e até certos pormenores como o facto de todos os dias as montanhas daquele vale imenso serem cobertas por neve artificial por enormes mangueiras que cuspiam jatos de neve. O que eu mais gostei de fazer?

Como é que o teu departamento recebeu a notícia de que tinham ganho um Emmy? Qual foi a sensação?

Os Emmys foram atribuídos à empresa com quem trabalhei, a BGFX, mas tínhamos um patrão tão generoso que partilhou os seus Emmys com todos os membros da equipa e fez questão de dizer os nossos nomes na cerimónia da entrega.

A tua página no IMDB já conta com títulos e nomes conhecidos como Game of Thrones , The WitcherThe ForestChild 44TitãDoctor Who, entre muitos outros. Qual é o projeto de que mais lembranças guardas e porquê? 

É uma pergunta complicada porque guardo boas memórias de quase tudo em que participei mas talvez tenha sido o filme “The Forest” porque estive envolvida nele do principio ao fim. Foi lá que tive a oportunidade, pela 1ª vez, de esculpir uma maquilhagem para ser aplicada no rosto, antes disso só me confiavam a escultura de mãos, pés, coisas que nunca têm muito tempo de antena. Essa maquilhagem e muitas outras coisas que construímos durante a preparação foram, infelizmente, retiradas do filme e hoje em dia tenho apenas fotos disso mas senti-me super agradecida pela confiança que depositaram em mim e pelo resultado final.

Em Portugal o cinema internacional tem vindo a crescer vez mais com o aumento de grandes produções filmadas cá ou co-produzidas por portugueses como “O homem que matou Dom Quixote”, “Fátima” , e “Color Out of Space”. Achas que a exploração desta indústria traz mais valias para o nosso país e para os nossos profissionais? De que forma?

Sim, claro que sim, se tivéssemos uma indústria saudável criar-se-iam mais postos de trabalho, não só para os profissionais do Audiovisual, mas para todos os sectores que o complementam, desde a hotelaria, ao catering, até mesmo à segurança.

Que ambições tens para o teu futuro profissional e quais são os teus próximos projetos?

As minhas ambições são de continuar a fazer o que tenho feito até agora, aprender mais e quando estou em Portugal, gostava de poder dar resposta a produções estrangeiras e/ou nacionais para que, na falta de técnicos de efeitos especiais, não tenham que recorrer a técnicos estrangeiros para atingir os seus fins.

Para terminar, que conselho darias a alguém que queira seguir uma carreira semelhante à tua? Qual seria o primeiro passo a dar?

O primeiro passo a dar é adquirir formação na área. Penso que é importante para todos os profissionais ou para os que o desejam ser, ter contacto com o mundo exterior pois aprende-se bastante a observar e partilhar experiências com outros artistas do meio. Se se isolarem em Portugal, infelizmente irão aprender muito devagar e serão facilmente superados por novas técnicas, novos materiais e até mesmo novas tendências. Há 15 ou 20 anos, por exemplo, todos os escultores de maquilhagem tinham que saber como esculpir um gorila, hoje em dia têm que saber esculpir envelhecimentos e semelhanças. No fundo é preciso haver uma combinação de fatores, algum talento, perseverança e sorte, é preciso saber trabalhar em equipa e dar o melhor. Simplesmente não existe espaço para o “eu tentei”.

Para todos os que têm paixão  ou gostariam de experimentar esta área, a Rita e o seu parceiro David têm um atelier em Portugal onde fazem workshops básicos de introdução aos FX com módulos semelhantes ao curso e à experiência que tiveram em Londres.

Para poderem seguir de perto o seu trabalho, deixo os links das suas páginas!

 https://www.imdb.com/name/nm5287583/

https://www.effectart.com.pt

https://www.ritaanjos.com

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