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Rodrigo Matta: “Quero fazer isto para sempre!”

Compara o desenho à meditação. Assim como esta, a sua arte também o leva para um estado de calma e relaxamento. Sem estar preocupado em transmitir uma mensagem política,  através do seu estilo “naive” e monocromático, retrata a sociedade em que vivemos e a Bohemia aparece regularmente nas suas criações. Criado por artistas, frequentou a Escola do Arco e, desde então, nunca mais parou de se dedicar à ilustração. Da carreira artística fazem parte murais em locais privados, clubes noturnos e espaços culturais, como o recém pintado no espaço Mirari, em Lisboa. Além disso, tem vindo a explorar outras técnicas, como a colagem, a cerâmica e a ilustração digital. Rodrigo Matta em entrevista.

Como começou o seu percurso na arte?

O meu percurso na arte começou com uma ilustração sobre o dia dos namorados para a Plum, na altura a marca de joalharia da Paula Paour. Estávamos em 2008 e eu ainda frequentava a Escola do Arco, quando surgiu este desafio. A ideia de receber dinheiro para executar uma paixão minha, representava a possibilidade de enveredar por uma carreira nas artes gráficas.

Nos seus trabalhos, há uma paleta sempre presente. O representam estas cores?

O meu trabalho de ilustração foi, inicialmente, a preto e branco. Não sei bem explicar o que as cores representavam, pode ter sido por não haver dinheiro para materiais ou posso ter sido influenciado pelos meus professores do Arco. Mais tarde, foi-me pedido um mural para uma marca de comida vermelha e branca, a Hotdog lovers, e, ao adaptar a pintura ao espaço, surgiu a cor “red cherry” da Posca, que resultava muito bem e acabou por dar início à era red line by Matta. 

Foi o autor do mural que podemos ver no espaço Mirari, em Lisboa. Como surgiu este projeto?

Surgiu de uma conversa entre o meu agente, Pedro Barbosa, com um dos donos do Mirari. Por sorte, o sentido estético do Marco Antoine era bastante apurado, tal como a sua visão para o projeto Mirari e, logo ali, definimos que eu iria desenvolver um mural estilo banda desenhada que percorria todo o recinto.

Qual é o storytelling por trás deste mural?

Fala de um pescador oriundo de uma ilha isolada do resto do mundo, perdido no vasto oceano Atlântico, que, com a ajuda de duas sereias, descobre Lisboa. Depois de absorver a cultura do nosso país, é confrontado com o sentimento de culpa, luxúria e, finalmente, de saudade das suas origens.

Que desafios encontra neste tipo de projetos?

A solidão com os meus pensamentos, um sentimento que está bastante presente na vida dos ilustradores, a humidade nas paredes e as condições meteorológicas.

Até hoje, qual foi o trabalho mais desafiante que fez?

Deve ter sido os murais que fiz para um hostel perto do Campo Pequeno. Na altura ainda não tinha experiência nenhuma e acabei por dar um passo maior que a perna. Demorei uma eternidade para acabar o trabalho que me tinha proposto a fazer. Cheguei a ter que conviver com os hóspedes e dormir num dos quartos. O dono do hostel já não me podia ver nem pintado.

Onde podemos encontrar a sua arte?

O meu trabalho vive online na minha página de instagram (@rodrigo_matta15) e nas paredes dos meus clientes privados. Atualmente, o Mirari é o melhor local para ver a minha arte ao vivo. Os murais anteriores, infelizmente, desapareceram devido ao insucesso dos negócios que os adquiriram. Falo de hostéis, bares, restaurantes, etc.

Para além de murais, em que outros “tecidos” pode ser reconhecida a sua identidade enquanto artista?

É engraçado terem falado em tecidos, à uns tempos atrás a Martine Love pediu-me para ilustrar aspetos da vida dela e desenvolver rasgos de criatividade direcionados à sua marca de roupa. O resultado foi um vestido com bordados multi colores, feitos com a maior precisão, meticulosamente colocados ao longo da peça. Tenho muito apreço por esta colaboração!

Tenho explorado, também, a cerâmica. Na última peça que fiz queria que a personagem ganhasse vida e saísse da parede, partindo a monotonia e entrando no universo tridimensional.  Ando também a transpor os bonecos para a tapeçaria.  

Com trabalhos tão diferentes, mas que mantém a mesma linha identificativa, onde vai buscar inspiração?

A inspiração surge quando se menos espera. Tenho vindo a perceber que pinto porque preciso de me exprimir e porque traz sentido à minha vida. Quero fazer isto para sempre! O facto de experimentar diferentes meios obriga-me a sair da minha zona de conforto e a ter que aprender a resolver o problema que se encontra diante de mim. No final obtenho o resultado de um esforço motivado pela vontade de criar.

Se tivesse de descrever a sua arte em uma palavra, qual seria?

Forma.

Que projetos tem para o futuro?

Gostava de fazer um livro foto/arte com o fotógrafo Bruno Veiga, ir para Sagres pintar armazéns abandonados e expor na Dizpensa, que é um projeto cultural do Gonçalo Guerra.  Quero também colaborar com o artista Diogo Moniz na intervenção de realidade aumentada e tenciono desenvolver outras técnicas, como a escultura.

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