Em 2024, centenas de malas de marca foram rejeitadas pelos especialistas de moda internos da Catawiki, marketplace de objetos especiais, devido a preocupações com a autenticidade. Em Portugal houve um aumento de cerca de 11,37% do total de malas de marca oferecidas para leilão, comparativamente com 2023.
A verdade é que poucas categorias unem o peso cultural e o apelo comercial como as malas de mão, e os falsificadores estão bem cientes disso. Segundo Fleur Feijen, especialista em moda da Catawiki, “uma mala de mão de designer nunca é apenas um objeto prático. Pode ser um reflexo da visão do designer, uma forma de arte usável, ou algo profundamente pessoal, como uma recompensa para assinalar um marco importante. Alguém pode comprar uma Hermès Birkin para celebrar um feito importante, e isso dá à mala um significado muito para além do seu valor material”. É isto que “torna certas peças tão procuradas – e, infelizmente, muito imitadas”.
Fleur Feijen, especialista em moda da Catawiki
Mais sofisticadas do que nunca, as contrafações de hoje muitas vezes já incluem “embalagem, documentação e até microchips incorporados”. Fleur Feijen descreve as técnicas em que os falsificadores mais confiam atualmente.
Tipografia
A tipografia é um dos sinais mais negligenciados, mas reveladores de uma falsificação. Nas malas de luxo, os logótipos devem obedecer a critérios precisos: A curva do “C” da Chanel, o espaçamento entre o ‘L’ e o “V” da Louis Vuitton ou o peso de uma serifa podem revelar rapidamente se uma peça é autêntica. Embora os falsificadores possam acertar nas letras, muitas vezes não conseguem ver a profundidade do relevo, a sua colocação relativamente à costura ou o subtil espaçamento que define a peça verdadeira. Estas margens são pequenas, mas são exatamente o que os peritos treinados procuram.
Tipografia autêntica
Tipografia não autêntica
Números de série
Para além dos números de série, a própria gravação revela frequentemente inconsistências. Nas malas autênticas, os selos e códigos da marca são gravados de forma limpa, com espaçamento, profundidade e tipo de letra precisos e consistentes. Nas peças de contrafação, as gravações falham frequentemente o alvo. Podem ser demasiado superficiais ou demasiado profundas, com formas de letras distorcidas, pressão irregular ou colocação desalinhada. Estas subtilezas fazem das marcas de série um dos indicadores mais fiáveis de autenticidade, especialmente quando combinadas com verificações de material.
Número de série autêntico
Número de série não autêntico
Monogramas
Pode parecer simples reproduzir uma impressão em tela, mas os monogramas específicos de uma marca são incrivelmente precisos. As falsificações apresentam frequentemente uma saturação incorreta, um espaçamento deficiente entre símbolos ou padrões que se desalinham em costuras, bolsos ou fechos de correr. Um monograma Louis Vuitton, por exemplo, pode aparecer com uma impressão demasiado densa ou dividido de forma desigual num painel.
“A melhor forma de compreender a linguagem visual de uma marca não é apenas conhecer o seu aspeto, mas também saber como os seus designs se comportam em todos os materiais e modelos”, afirma Fleur Feijen.
Monograma autêntico
Monograma não autêntico
Ferragens
As ferragens de luxo não são apenas decorativas, são funcionais, pesadas e meticulosamente acabadas. As réplicas de má qualidade podem imitar a forma geral, mas perdem as nuances: logótipos desfocados, parafusos desalinhados ou chapeamento anormalmente brilhante. Quanto mais minimalista for o hardware, mais importante se torna a textura e o tom. Em modelos ultra-minimalistas da Hermès, Chanel ou The Row, mesmo um milímetro de espessura extra ou uma gravação ligeiramente descentrada pode revelar discretamente uma falsificação.
Ferragens autênticas
Ferragens não autênticas
Contrafações mais sofisticadas do que nunca
Hoje em dia, as contrafações estão sofisticadas do que nunca e muitas vezes já incluem:
- Chips NFC: algumas malas contrafeitas incluem agora chips de Comunicação de Campo Próximo (NFC), imitando de perto as características tecnológicas da marca. Embora o chip possa funcionar, o acabamento artesanal e o material raramente resistem ao escrutínio de um especialista.
- Recibos e embalagem: Os falsificadores incluem cada vez mais recibos de loja falsos ou reutilizados, cartões de cuidados e caixas de marca para recriar toda a experiência de retalho. Nalguns casos, o recibo e a embalagem são autênticos – comprados separadamente – o que coloca todo o peso nos detalhes da própria mala para confirmar a sua legitimidade, como os materiais, os acabamentos e a construção geral.
- Modelos minimalistas: as malas com uma marca subtil, como a Margaux da The Row ou a Le Chiquito e Extra Pocket da Jacquemus, são cada vez mais visadas. O seu design minimalista torna-as populares, mas também mais difíceis de detetar, uma vez que menos pormenores visíveis significam uma maior pressão sobre a qualidade dos materiais, das costuras e da estrutura.
No final, nenhuma lista supera a verificação por um perito. A forma mais segura de evitar as contrafações? Utilizar mercados de confiança: evite vendedores privados ou não verificados e mantenha-se em plataformas com boa reputação.