[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

Mulheres ganham menos

1 de 3

As mulheres são mais escolarizadas do que os homens. Apesar disso, ganham menos do que eles, têm menos segurança no emprego, quase não chegam aos lugares de topo… As portuguesas também são as que mais trabalham – se as compararmos com as outras mulheres europeias – dentro e fora de casa.

O retrato da mulher portuguesa no mercado de trabalho não é bonito, mas está descrito na edição de outubro da LuxWOMAN, numa grande reportagem para a qual entrevistámos uma das maiores especialistas na área do trabalho e questões de género.

Sara Falcão Casaca tem 42 anos, é doutorada em Sociologia Económica e das Organizações, dá aulas no Instituto Superior de Economia e Gestão, foi presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e publica estudos sobre as mulheres e o trabalho, tanto em Portugal como em instituições internacionais.

É claramente apaixonada pelo que faz: a sua página no Facebook é a parte mais visível do seu ativismo pelos direitos das mulheres. “Não é só a minha área científica, é a minha área de intervenção cívica”, diz.

Desde 2005, quando começou a abordar a questão das diferenças entre homens e mulheres no que toca ao trabalho, as diferenças esbateram-se?

A situação não se alterou para melhor. Pelo contrário, a situação tem-se vindo a agravar no mercado de trabalho. Se falarmos do campo da educação, a feminização dos mestrados e dos doutoramentos é diferente. No mercado de trabalho, principalmente desde 2008, a questão tem vindo a agravar-se.

Em 2008, rebenta a crise. A partir de então, em vez de aproximação dos salários, há uma diferenciação maior?

Sim. Portugal tem sido um caso muito singular na União Europeia. Enquanto socióloga, comecei a analisar os dados estatísticos do mercado de trabalho e a compará-los com a União Europeia.
Percebi que a taxa de emprego das mulheres em Portugal era relativamente elevada.

Mais: quando comparávamos a situação das mulheres em Portugal com a dos outros países com os quais somos sistematicamente comparados – Itália, Espanha e Grécia, a chamada “Europa do sul” –, a taxa de emprego das mulheres era muito, muito superior. Por exemplo, em 1999, em Espanha a taxa de emprego das mulheres não chegava aos 40%. Em Portugal, era de quase 60%. Depois, há um conjunto de características sociais e económicas muito semelhantes. Portugal torna-se, logo por aí, um caso único. Importa perceber a razão destas diferenças.

Quem olhasse só para estes números pensaria: ‘Uau, que sociedade tão moderna!’

Exatamente. Na verdade, basta ler a literatura feminista e os documentos políticos internacionais referentes aos direitos das mulheres para perceber que a participação laboral sempre foi vista como fundamental no sentido da modernização das questões de género e da igualdade, porque é portadora de independência económica. A independência económica é a autonomia simbólica. Não era só esse indicador que destacava Portugal dos demais países.As mulheres portuguesas, além de terem uma taxa de emprego alta, também trabalham intensivamente. Mais de 85% das mulheres que trabalhavam em Portugal faziam-no a tempo inteiro, e isso mantém-se.

Outra característica muito particular é que, em Portugal, há um padrão de continuidade no trabalho após a maternidade. A taxa diminui, mas muito pouco, é praticamente impercetível. O problema está na qualidade do emprego. É essa qualidade de emprego que eu considero ter vindo a degradar-se.

Que razões encontra para trabalharmos mais do que as outras mulheres europeias?

A partir dos anos 50/60, torna-se um padrão as mulheres terem uma atividade remunerada. Isso explica-se pelo facto de termos tido vagas de emigração essencialmente de mão de obra masculina, e pelo recrutamento dos homens para a guerra colonial. As mulheres ficaram no país a sustentar as suas famílias. Depois, houve o 25 de Abril, com a expansão de todas as atividades ligadas à administração pública, que passam a ser muito feminizadas. O nosso padrão de socialização, ou seja, as referências das avós e das mães, que passa de geração para geração, é de uma ética de trabalho que se escreve no feminino.

Crescermos a ver as nossas mães trabalharem faz-nos querer repetir esse papel, mas trabalhamos muito, também, para compensar os baixos salários dos homens, não é verdade?

Essa é uma das razões, mas não podemos confundir duas realidades. A maioria dos homens e das mulheres em Portugal gostaria de trabalhar menos horas. Não tem havido grande apetência, nem em Portugal, nem na Europa, pelo trabalho a tempo parcial. É outra realidade, e eu fico muito feliz com isso, porque considero o trabalho a tempo parcial uma armadilha para as mulheres.

No entanto, não é o único fator explicativo. Na verdade, quanto mais elevada a escolaridade, mais as mulheres tendem a participar no mercado de trabalho. Aí, as taxas de emprego são de mais de 80%, estão muito próximas das dos homens.

É legítimo equacionarmos que o aumento da escolaridade na população feminina fez também aumentar as suas aspirações no domínio profissional. As mulheres trabalham muito e não deixam de o fazer depois da maternidade por uma questão de independência económica e de realização pessoal.

1 de 3

Veja mais em Pessoas

PUB