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Mulheres ganham menos

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Estes problemas não se põem só em Portugal. Já falámos de outros países em que foi necessária a implementação de quotas…

Quando, há relativamente pouco tempo, a comissária Viviane Reding falou na possibilidade de haver quotas na Europa, enfrentou imensas resistências. Muitos estudos agora mostram que é muito importante promovermos a igualdade, colocar as mulheres em lugares de decisão na esfera económica e política, aumentar o emprego das mulheres. Isso ativa o crescimento económico, a produtividade das empresas e a competitividade das empresas e da economia, reforça a sustentabilidade financeira de segurança social…

Dou aulas numa escola de economia e gestão e, obviamente, interiorizo e divulgo esses resultados. No entanto, para mim, há uma questão que coloco em primeiro lugar: o plano dos direitos humanos. Promover a participação das mulheres no mercado de trabalho, a sua independência económica e a sua participação na esfera da tomada de decisão é uma matéria elementar no funcionamento da democracia, no fundamento da cidadania. Portanto, é uma dimensão fundamental para que a igualdade de género se concretize.

É mesmo verdade que, entrando no mercado de trabalho, aumentamos a qualidade da economia?

Sim. Os estudos que indicam que sim. Basta pensar o seguinte: se as mulheres hoje são sobreescolarizadas em relação aos homens, estamos claramente a falar de desperdício de capital humano. Aliás, o ministro que implementou as quotas na Noruega disse: ‘Venho de uma família conservadora, não sou nada feminista, mas tenho responsabilidades com o meu país. Tenho a função governativa e, portanto, não posso aceitar, tendo esta função, não promover o acesso das mulheres a lugares de topo, para bem da economia e do desenvolvimento do meu país.’

Depois, há estudos que permitem analisar a excelência numa organização. Aquilo que se verificou é que as empresas com pelo menos três mulheres nos conselhos de administração tinham melhor desempenho do que as que não tinham. Foi uma amostra muito significativa.

O que se pode esperar do futuro, e o que seria útil para o futuro, dos dois pontos de vista de aumentar a taxa de natalidade e de não perdermos os direitos das mulheres na dispensa ao trabalho?

Temos claramente um problema de organização do trabalho. São modelos muito tradicionais, nos quais não há gestão por objetivos, as pessoas não têm autonomia para organizar o seu trabalho e o seu tempo de trabalho. Para mais de 75% dos trabalhadores em Portugal, o horário é determinado unilateralmente pela entidade empregadora. Falta autonomia, não só relativamente ao tempo, mas à organização do trabalho.

O facto de termos um modelo de organização tradicional é um dos principais obstáculos. É preciso inovar sem, claro, pôr em causa o desempenho, mas permitindo às pessoas terem mais autonomia sobre a forma como organizam e realizam o seu tempo de trabalho. As empresas que temos em Portugal são ainda muito pouco socialmente responsáveis para quem tem pais, mães, filhos ou irmãos, porque entra aqui também a velhice. Há quem não tenha filhos mas tenha outras pessoas dependentes.

O respeito por quem tem obrigações familiares não está interiorizado. Isto remete-nos para outro problema, que é temos em Portugal gestores muito pouco qualificados. Nesses novos modelos de organização do trabalho, estará a flexibilidade negociada, e poderá ser equacionada alguma redução do tempo de trabalho, que as pessoas podem compensar noutros momentos.

Estamos numa encruzilhada. O que se esperava era que o progresso económico das sociedades mais desenvolvidas viesse a permitir uma redução do tempo de trabalho. Ora, ao mesmo tempo que o nosso Governo está muito preocupado com a natalidade, os sinais que dá às empresas é de aumento do horário de trabalho. Foi o que aconteceu com a administração pública.

Neste momento, é esse o exemplo que temos. Há aqui sinais contraditórios. É preciso pôr a economia a crescer, porque esta austeridade asfixiante está a retirar as mulheres do mercado de trabalho.

Temos hoje mais de 13 mil casais em que nenhum dos membros tem emprego. Se as pessoas não têm condições objetivas e subjetivas para pensarem os seus projetos de vida, designadamente familiares, como é que se pode pensar em políticas de natalidade?

A natalidade requer políticas coerentes e, portanto, tudo isto tem de ser pensado. É preciso travar a imigração de jovens e de potenciais mães e pais, que estão a partir porque não encontram qualquer oportunidade de emprego no seu país. É preciso devolver esse sentido de esperança à população jovem.

Qual era o cenário ideal, na sua perspetiva?

Defino sempre igualdade de género como a partilha efetiva da esfera pública (economia, política, cultura) e da esfera privada. Por aí, há tanto por fazer! Só teremos uma sociedade ideal quando a partilha da esfera pública e da esfera privada se fizer e, obviamente, quando todas as mulheres e todos os homens se puderem realizar enquanto indivíduos.

Imagem de destaque: Sara Falcão Casaca
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