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“Uma mensagem, para mim, de liberdade”. Marisa Liz fala do novo single “É o Que É”

Marisa Liz regressa com “É o Que É”, um tema que celebra a liberdade de ser quem se é, sem filtros nem concessões. A canção, que nasceu de forma espontânea numa tarde de estúdio, assume-se como um hino à autenticidade e já começa a cruzar fronteiras — foi precisamente esta música que lhe abriu as portas para participar no EP de tributo a Rita Lee, no Brasil. A LuxWoman falou com a artista via zoom sobre o processo criativo, o impacto emocional da composição e gravação, e o percurso que tem trilhado

O sorriso que enverga cada vez que fala de fazer música é contagiante. Foi esta a forma que em criança encontrou para se expressar e que, ao final de tantos anos, ainda continua a fazer sentido. As músicas, para si, são como filhas, têm sentimentos e vida própria. “As canções também têm um percurso. Por isso é que acho que elas têm vida e sentimentos”, afirma. Uma mulher de causas, livre e autêntica, Marisa Liz lançou recentemente o single “É o Que É”. Este “grito”, que deseja que seja cantado por toda a gente, celebra a autenticidade e a coragem de ser quem somos, sem filtros ou receios do que os outros possam pensar. Um tema que, mesmo antes do seu lançamento, já lhe abria grandes portas: quando apresentou esta canção no Brasil, foi convidada a participar no EP de tributo a Rita Lee, “Revisita Rita”, onde interpretou “Banho de Espuma”.

“É o Que É” apresenta-se como um hino à autenticidade e à liberdade de ser. O que é que a inspirou?

Estávamos todos em estúdio e surgiu-me uma ideia. Estes nomes todos que nós vamos ouvindo, acho que não sou só eu, acho que principalmente as mulheres, já ouviram muitas vezes este tipo de adjetivos, por sermos de mais ou alguma coisa assim. Lembro-me de começar pelo refrão e foi logo, “chama-me louca, triste, fora, doida”, e foi assim até ao final da canção. Tornou-se uma mensagem, para mim, de liberdade e de me sentir livre, porque, realmente, sou essas coisas todas às vezes, e sou outras mais que não estão na música, mas sou e acho que somos todos.

Fotografias – Diogo Branco
Makeup – Cristina Gomes
Cabelo – Helena Vaz Pereira assistida do Madalena Costa e Nicole Francisco
Styling – Maria Falé

Sente que este vai ser, também, um hino de muitas mulheres? 

Era incrível que isso acontecesse, não consigo controlar se isso acontece ou não, nem sequer me passou pela cabeça, não foi essa a intenção. Mas era muito fixe que todas as mulheres e todos os homens o fizessem, que cantassem “chama-me louca, chata, torta, bruta”. Sim, sem dúvida.

A ideia no fundo seria essa? Que toda a gente pudesse sentir-se livre para poder cantar o refrão da música?

Para poder ser também, não é? Quando não tens uma intenção maldosa em relação àquilo que fazes no mundo, onde estás a construir a tua personalidade, a tentar evoluir como ser humano, mas a teres noção, consciência de coisas que podes melhorar, mas que efetivamente és, e somos todos um bocadinho, porque é muito difícil nesta selva não sermos um monte de coisas que estão descritas nesta canção, acho.

O videoclipe de “É o Que É”, realizado por André Tentugal, apresenta-a em 13 facetas diferentes. Qual foi a intenção por trás deste conceito visual?

Na verdade, inicialmente, tinha pensado em outra ideia para o vídeo, mas de repente veio-me à ideia uma coisa muito simples e muito daquilo que estava a falar na música, que era ter essas facetas todas. Foram 13 porque ninguém aguentava mais, porque se fosse uma semana a gravar podiam ser 30 ou 50. Tenho uma sorte muito grande das pessoas que estão comigo, que fazem parte da nossa equipa, e que tentam fazer que seja possível concretizar todas estas fantasias e estes sonhos que estão ligados, no meu caso, sempre à música e a todo o conceito. Portanto, foi super divertido e cansativo, tenho que admitir. Foram muitos blocos, foram dois dias, mas foi uma expressão e uma continuação da mensagem que estou a passar.

Fotografias – Diogo Branco
Makeup – Cristina Gomes
Cabelo – Helena Vaz Pereira assistida do Madalena Costa e Nicole Francisco
Styling – Maria Falé

A letra conta com a sua assinatura, juntamente com Gonçalo Tau e Maninho. Como foi este processo de escrita?

A letra surge no refrão. Comecei a construir essa personagem, mas que sou e acho que somos todas e todos nós. Depois de termos essa parte do refrão, os três, fizemos a conversa sobre por onde é que vai seguir esta mensagem. E depois muitas coisas que tinha também aqui para dizer e que punha para cima da mesa, às vezes algumas frases que não conseguia chegar ao sítio, a forma certa que gostava de me expressar, e é exatamente por causa disso que adoro, e é muito importante partilhar música com outras pessoas, e ter o Maninho e o Gonçalo tem sido uma mais-valia não só para esta canção como para outras, que estamos a fazer, e que mais tarde vão poder ouvir.

Foi um trabalho de equipa juntamente com o Gui Salgueiro, que estava connosco logo desde o início do refrão. Ele começou por fazer a harmonia dessa parte, e a partir daí foi um trabalho conjunto entre todos.

E quanto tempo é que demorou, mais ou menos, a escrever esta música?

Olha, essa tarde correu muito bem. Foi uma tarde muito produtiva, não é coisa que me aconteça geralmente, mas nessa tarde fizemos três canções. Há dias assim, sabes? A energia uns dos outros puxa, toda a gente percebe a mensagem desde o primeiro momento, o caminho que se quer seguir e então a energia e aquilo que tu trazes, as tuas referências musicais e pessoais, tentas concentrá-las num caminho específico, não é? Que canção é que estás a fazer? Para que mensagem? O que é que precisas dizer? O que me vejo a dizer agora vejo-me a dizer daqui a 20 anos? Porque qualquer canção que cante, obviamente que há canções que hoje em dia não me batem tanto, continua a fazer sentido, de alguma forma.

Ou seja, quando escreve tem isso em mente?  Quer que seja algo que futuramente tenha sentido para si?

Quando escrevo geralmente quero ter um caminho. Não defino logo só por fazer uma canção que essa canção vai ser gravada. Primeiro faz-se a canção. Se a canção sai ou não sai, está tudo bem, a malta vai à esplanada, bebe umas cervejas, fala um bocado de música. Isso também é fazer música, trocar referências, pessoais e musicais. E, então, o processo muitas vezes é faz-se a música e, só depois é que percebo se vou conseguir cantá-la durante muito tempo. Quando começo a cantar mesmo, e depende da produção, surgem várias questões, como «Eu gosto disto, mas será que eu quero cantar isto durante tantas vezes? Será que me identifica assim tanto?». Então o processo musical, foi assim que aprendi, é muito profundo e muito individual. Portanto, há coisas que saem espontaneamente, como “É o Que É”, mas que vem de um sítio que já tinha sido pensado antes. Estava só à espera do momento.

Fotografias – Diogo Branco
Makeup – Cristina Gomes
Cabelo – Helena Vaz Pereira assistida do Madalena Costa e Nicole Francisco
Styling – Maria Falé

Comentou, anteriormente, que na tarde em que gravou “É o Que É”, foram feitas mais músicas. Teremos, brevemente, um novo álbum?

Vamos ter um álbum, mas ainda não consigo dizer quando. Obviamente estou a trabalhar para isso, estou na fase de composição, de partilha de composição, de agora ter um tempo para perceber, mais uma vez, o caminho. Já tenho uma ideia, um conceito formado, e agora é escolher as canções que fazem mais sentido com uma mensagem geral.

Essa é a parte mais difícil? Escolher que canções é que vão entrar num álbum?

São todas fáceis e todas difíceis ao mesmo tempo. Depende da energia com que tu estás. Geralmente, há músicas que são logo óbvias a nível emocional. Portanto, na escolha das músicas, acho que é mais difícil escolher a que não vou pôr. Porque quero pôr todas, mas não pode ser. Até porque não é fixe a nível criativo para mim, sequer, porque sou muito desorganizada. Então, tenho que arranjar uma estratégia, uma fórmula constante de organizar as coisas. As músicas são um processo sempre bom. Eu adoro música.

A experiência não torna essa tarefa mais fácil?

É muito mais fácil fazer essa escolha agora. Porque já ando há muitos anos nisto. E aprendi emocionalmente a fazer essa escolha de uma forma mais fácil, sim. Mas continua a ser difícil. Porque estás sempre em momentos diferentes da tua vida. E porque crias ligações com as canções. Não quero que elas fiquem tristes. De não as gravar, sabes? Há canções que tenho, em que penso: «qualquer dia gravo-te».

É como se fossem, no fundo, as suas filhas. Não quer deixar nenhuma de parte…

Aquelas que tu sentes logo mesmo como tuas. E tenho tido a sorte, em todo este processo, e já num outro disco também, com os compositores com que estou a trabalhar. Alguns que fazem canções, para mim, sem eu estar envolvida nem na composição, nem na letra. Mas têm sido muito direcionadas às mensagens que quero passar. Algumas pessoais, outras não. E então, a maior parte delas acabam por ter uma ligação maior comigo. Porque foram feitas com esse propósito. Não foi uma canção que eu tinha aqui, numa gaveta. E toma lá, vê lá se gostas. Mas também acontece e tenho tido pérolas inacreditáveis com canções que outros artistas já ouviram e não gostaram. As canções também têm um percurso. Por isso é que acho que têm vida e sentimentos.

Fotografias – Diogo Branco
Makeup – Cristina Gomes
Cabelo – Helena Vaz Pereira assistida do Madalena Costa e Nicole Francisco
Styling – Maria Falé

A apresentação do tema “É o Que É” no Brasil abriu-lhe portas para integrar o EP “Revisita Rita”. Como surgiu esse convite?

Fui para o Rio de Janeiro compor com o Tiago Palma, da Universal. E o Tiago apresentou esta canção já com o videoclipe à Universal Brasil. Eles gostaram e o universo ajudou. Na altura faltava-lhes uma canção para juntarem ao EP “Revisita Rita” e acharam que fazia sentido ser eu a cantar esta canção, “Banho de Espuma”. Soube no dia que estava a vir embora para Lisboa, o Tiago disse-me no quarto de hotel. Foi um momento extremamente dramático, porque a Rita Lee foi uma referência e será sempre uma referência para mim: musical, pessoal, de liberdade, de amor, de aceitação, de loucura boa. Ela é a maior feiticeira, a melhor feiticeira boa que o mundo teve.

“Banho de Espuma” foi o tema que interpretou. Pôde escolher?

Eu não escolhi. Este tema já estava com o arranjo feito com o Moogie Canazio, que foi o produtor de 7/8 discos da Rita e que está a fazer a produção deste EP. Ele já estava com um som incrível, estava um arranjo à Rita Lee. Falta ali a parte eletrónica talvez, mas há ali muita coisa similar àquilo que era o tema na sua origem. Eu juntei aquilo que tinha à canção.

E quando é que gravou a música?

Voei para Lisboa, e isto tinha que ser assim uma coisa à última hora – como a maior parte das coisas na música e nas artes -, e fui para o estúdio, obviamente com uma pressão enorme porque estava a entrar num EP de homenagem à Rita Lee. Senti que, humildemente, estava a levar o aplauso dos portugueses a este EP. Isto é o meu aplauso para ela. Dei tudo, dentro das condições todas que tive para homenagear esta artista. E então tivemos algumas horas em estúdio, e há muitas fases emocionais que tu passas ao longo do dia em estúdio. Não sei como é com o resto das pessoas, mas eu, particularmente, tenho várias fases.

Que fases são essas?

Várias fases emocionais. Se contar as fases desta forma parece mesmo que sou doida (risos). Mas a música é a minha forma de expressão, foi a forma que encontrei em criança para expressar as coisas que sentia. Mesmo que fosse só ouvir música, o sentimento que tinha já era uma expressão para mim. E, então, quando vou para o estúdio gravar, produzir e compor há emocionalmente muita coisa que acontece em mim, tanto de extraordinário como de «o que é que estou a fazer». E todas estas emoções podem surgir quando tu estás na fase da composição ou quando tu estás na fase da produção. Porém, quando estás na fase da gravação, principalmente, quando tens um timing e não podes de forma nenhuma ultrapassar, todas as ideias que queres reproduzir têm de ser reproduzidas naquele dia e ali, independentemente de como está a tua voz, de onde é que vieste, das emoções que estás a sentir ou de qual é o propósito de estares a cantar aquela canção… E tudo isto altera-me para estados de felicidade imensa ou o oposto. Fiquei horas a gravar takes, quando, na verdade, ficaram aqueles que já estavam.

Esta participação no EP, de certa forma, aproximou-a do público brasileiro. Como têm sido as reações?

Tenho tido, de alguns anos para cá, algumas reações por parte do Brasil. Comecei a ver quando estive lá e me fizeram uma bonita homenagem no Rio de Janeiro. Conheciam a minha música há muitos anos. E já tive algumas coisas mais do que pontuais, mas a minha música não é conhecida no Brasil de todo. Tenho uma ligação com a música brasileira há muitos anos e sempre tive vontade de mostrar a minha música lá. Acho que temos todos uma aproximação com o povo brasileiro, por causa das novelas que via ou por causa das músicas que ouvia e que eram cantadas todas com um grande sentimento, como eram as nossas em Portugal. Os portugueses sempre tiveram uma abertura muito grande a outras línguas, ouvimos música do mundo inteiro.  A música brasileira sempre foi uma influência, com uma profundidade muito grande, na composição, na interpretação, juntamente com outras que tenho, portuguesas e não só, e então seria uma felicidade muito grande que a malta lá começasse a conhecer mais a minha música.

Fotografias – Diogo Branco
Makeup – Cristina Gomes
Cabelo – Helena Vaz Pereira assistida do Madalena Costa e Nicole Francisco
Styling – Maria Falé

Olhando para o seu percurso, que balanço faz da sua carreira?

Nunca tinha pensado nisso… Acho que o balanço é bom, é ótimo. Para mim, o balanço, define-se nos momentos de felicidade que a música me dá. E a música, ou qualquer trabalho que tu escolhas, tem momentos melhores e outros piores, todos fazem parte, e eu tenho tido um percurso honesto em relação a mim. A maior parte do tempo, gostei de cantar e de fazer música. Portanto, escolhi bem a minha profissão.

Se pudesse deixar um conselho a quem está a começar, qual seria?

Faz aquilo que serve para ti. E que o sucesso se define pela tua paz interior, pela tua felicidade ou pela vontade de viver e de estar aqui. Quanto tu fazes alguma coisa que te começa a tirar esta vontade, já não é o sítio certo. Acho que só resulta, realmente, algo de impacto profundo na arte quando tu te deixas ser no processo. Não teres receio de passar pelo processo. Há erros incríveis, que te vão levar ao sítio que precisas de estar.

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