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A cirurgia metabólica não está na moda, mas salva vidas!

Artigo de Opinião de Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo

Assinalou-se a 24 de maio, o Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, uma data que deveria servir para muito mais do que campanhas de sensibilização ou mensagens de ocasião. Este dia serve, sim, para despertar a reflexão séria sobre como enfrentamos uma das maiores epidemias do século XXI. E, sobretudo, uma oportunidade para repensar as estratégias de tratamento com base na evidência científica e na sustentabilidade dos sistemas de saúde.

Num momento em que os sistemas de saúde enfrentam uma pressão crescente para fazer mais com menos, discutir o custo-eficácia dos tratamentos disponíveis é mais do que uma necessidade: é uma urgência! E quando falamos da obesidade, uma doença crónica, progressiva e associada a múltiplas complicações, esta discussão torna-se crítica.

A obesidade é uma doença crónica, progressiva e multifatorial, com um impacto devastador na saúde individual e pública. Consome uma fatia significativa dos orçamentos de saúde e está na origem de algumas das principais causas de morte evitável, como a diabetes tipo 2, a hipertensão, as doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro. Para além do sofrimento físico e psicológico, representa também um peso económico colossal, tanto em custos diretos como indiretos.

Nos últimos anos, assistimos à popularização de fármacos inovadores para a perda de peso, como os agonistas do GLP-1. Comprovadamente eficazes em muitos casos, estes medicamentos geraram uma onda de entusiasmo e, em alguns contextos, de consumo desregulado. Mas importa lembrar que são tratamentos caros, contínuos e, na maioria dos casos, com efeito reversível após a suspensão. Em Portugal, o custo anual, por doente, pode ultrapassar os 2.000 euros, valor que se acumula ao longo de toda a vida.

Em contraste, a cirurgia metabólica, à primeira vista menos apelativa, mas mais eficaz, oferece uma solução com impacto profundo e duradouro. Procedimentos como o bypass gástrico ou a gastrectomia vertical promovem não só a perda de peso sustentada, como também a remissão de doenças associadas, redução do uso de medicação crónica, menos internamentos e menor utilização dos recursos do sistema de saúde. Estudos nacionais e internacionais confirmam que ao fim de alguns anos, o custo da cirurgia é compensado, e a médio/longo prazo, a poupança é significativa.

É, portanto, inegável que a cirurgia metabólica é a forma mais económica e racional de emagrecer de forma eficaz e duradoura para quem tem obesidade moderada a grave. E numa altura em que tanto se fala de racionalizar recursos e apostar na medicina baseada em valor, é surpreendente que esta opção continue a ser subutilizada e até marginalizada, muitas vezes, por preconceito ou puro desconhecimento.

Não se trata de escolher entre fármacos e cirurgia, trata-se antes de disponibilizar a cada doente a melhor solução para o seu caso. Mas é fundamental que os decisores políticos, profissionais de saúde e a população em geral compreendam uma realidade simples: a cirurgia metabólica pode não estar na moda, mas é altamente eficiente!

Falemos com clareza: tratar a obesidade com as ferramentas mais eficazes não é um luxo, é uma responsabilidade. Para com os doentes, para com o sistema de saúde e para com o futuro da nossa sociedade.


Prof. Doutor Gil Faria

Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo

Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde

Professor da FMUP

Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

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