[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

A quarentena de Mafalda Matos

A atriz, que optou por passar este tempo de isolamento social no campo, deixou para trás alguns projetos ligados à conservação marinha, no Brasil. No futuro, espera ver mais equilíbrio com a natureza, empatia, verdade e união no mundo.

Bilhete de Identidade

Nome: Mafalda Matos

DN:15.04.1988

Signo:Carneiro

Nasceu em: Lisboa

Vive em: Bombarral

Como está a viver a quarentena?

Muito bem! A quarentena para mim começou dia 13 de Março. Tinha chegado de Palma de Maiorca quando foi decretada a pandemia. Demorei dois dias para perceber a realidade e a agir em conformidade. Sabia que íamos ficar confinados e que as deslocações deixariam de ser possíveis. Estava na hora de voltar para o campo. Tinha viagem de regresso a Palma, mas decidi não ir. Em vez disso, senti que tinha de ir para uma quinta com a minha mãe. Estar confinada entre quatro paredes sem poder fazer algo com a terra seria impensável. Era urgente estar com quem amo e com terra para cultivar e conectar-me diariamente. Uma vida em comunidade e auto sustentável sempre foi um sonho para mim. Já tinha tentado várias vezes. Desta vez, a necessidade aguçou o engenho e fizemos acontecer. Todos os dias rego tudo o que está semeado ou plantado. Cuido de sete galinhas e de dois perus, que parecem cães: pedem festinhas e andam ao nosso colo! Semeio ou planto e dou passeios nos terrenos, com os cães, depois fico deitada, no mato, a meditar ou a contemplar as nuvens. Todos os dias, como a comida da minha mãe (está a ser um privilégio!), faço aulas de dança no youtube, dou sessões de coaching online, leio, tomo banhos de banheira, para relaxar e matar as saudades do mar. Vejo poucas notícias, entrei numa fase de higienização, em todos os sentidos: em relação ao que vejo, oiço, penso e sinto. Estou muito vigilante à minha saúde mental, física, emocional e espiritual.

Durante este confinamento voltou a fazer algo de que gostava e que não fazia há muito tempo?

Sim! Voltei a tocar violino! Tive aulas dos sete aos 14 anos. Agora estou a voltar devagarinho e com muita solenidade. É uma ferida antiga. Estou a tratar do processo com pinças, mas estou a adorar! Como tive uma formação muito rígida e clássica, associei o violino a um sabor agridoce. Agora estou a desconstruir a “coisa”. Está a ser giro e empoderador.

O que mais a inquieta perante esta vivência?

O que me ocorre é que não seja suficiente para a humanidade mudar substancialmente e que tenhamos de reviver algo semelhante ou pior num futuro próximo. Gostava mesmo que não voltássemos ao que era “normal”. E que toda esta dor de crescimento tivesse valido a pena. Que não fosse em vão.

Já gostava de estar em casa ou está a ser um sacrifício enorme?

Adoro estar em casa e adoro estar em viagem. No entanto é possível estar em viagem, em casa. Requer alguma disciplina e rotinas. Enraizar e nutrir o espaço que me rodeia. Fazer tudo com amor, ir dentro, o que é muito profundo. Eleva a alma e dá uma realização pessoal muito grande. É como estar a bordo de uma embarcação durante dias, semanas, meses. Estamos confinados numa “noz” mas em movimento. Neste caso, o movimento é interno e a “noz” é a nossa casa.

O que está a ser mais difícil?

Estar longe da família e dos amigos. O pouco apoio que posso dar aos meus avós. Toda esta mudança, que está a trazer-nos um “novo normal” necessário, exige muito sofrimento e tantos ajustes a vários níveis: financeiro, social, cultural. É a primeira vez que estamos todos, mas mesmos todos, no mesmo barco. O mundo nunca viu algo assim. Estamos a viver acima dos recursos naturais, acima das leis naturais. Mesmo que haja mão humana em tudo isto existe, sem dúvida, uma sabedoria maior por trás a levar-nos a ter mais consciência coletiva.

Por outro lado, como se mantém otimista?

Quando vejo animais a invadir as cidades e as praias. Quando sinto o mar mais limpo e com muito menos pesca. Quando vejo os valores de CO2 a diminuir. Quando vejo o crescimento pessoal a acontecer dentro das casas, com mais compaixão, mais comunicação. Tudo mais virado para o que realmente interessa. “Astrologicamente” falando, estamos a entrar na Era de Aquário, que se caracteriza por valores de compaixão, o uso da comunicação rápida, a busca pelo futuro. E a oposição ao autoritarismo (defesa da liberdade individual). Ou seja, com tantas coisas boas, por muito que seja doloroso o processo em que vivemos, estamos no caminho certo. A aceitação é a chave para o otimismo.

O que é que lhe tem dado mais prazer fazer?

Desfrutar da natureza, regar, plantar, semear, ler. Simplesmente estar.

Este shooting foi o seu último trabalho antes do estado de emergência. O que sente ao olhar para este trabalho?

Sinto gratidão. Foi um trabalho de equipa fantástico. O Diogo Taborda é um amigo há 17 anos, estudámos juntos na Escola António Arroio. É o maquilhador embaixador da Armani em Portugal. Com o Nelson, o fotógrafo, foi a primeira vez que trabalhei e foi espetacular! É daquele tipo de fotógrafo que dá vontade de trabalhar sempre. Este shooting nasceu da vontade de fazermos uma produção de beleza mais ‘fora’. Usámos produtos diferentes, como os lábios pretos ou a purpurina que é feita de sangue seco. Sim, o sangue seco fica brilhante! E sim, é o meu sangue.

Que projetos teve de abandonar? E a que projetos espera voltar o quanto antes?

Tive de abandonar projetos relacionados com a conservação marinha no Brasil e outros relacionados, especialmente, com o mergulho. Todas as viagens que tinha programado para os próximos 3 meses foram canceladas. E não faz mal. Mesmo. A mudança que fiz valeu a pena. O contacto que tenho com a terra, viver em família, uma vida simples e tão gratificante. É um voltar às origens muito doce. Não tenho pressa de voltar. O “projeto” do presente está a ser maravilhoso.

O que sente estar a mudar em si com tudo isto?

A paragem da busca de algo que não tenho. Ou algo diferente. Ou melhor. Ou simplesmente a inquietude de não conseguir parar e estar. Sem ter que ir a nenhum lugar diferente. Ou ter algum tipo de interacção exterior para me fazer distrair da minha realidade. Aceitei o momento. Continuo a aceitar o presente. E espero que esta lição tenha vindo para ficar. Porque realmente, é nesta correria mental que os problemas ambientais, sociais, económicos, etc resumem-se. A busca desenfreada da felicidade fora de nós. Que ilusão.

Que mudanças gostaria de ver no mundo depois da Covid 19?

Uma empatia global para os problemas individuais e coletivos de cada nação. União. Plano de saúde para todos, alimentos para todos, verdade para todos. Oportunidade de crescermos como raça humana em equilíbrio com a natureza, da qual fazemos parte. Olharmos para as diferenças que nos unem. Planearmos com a tecnologia e os recursos que temos para que ninguém fique de fora. Mais bom senso em relação a onde colocamos a nossa energia, como nos deslocamos, comemos e trabalhamos. Mais prioridade aos valores estruturais: amor, respeito, compaixão, liberdade, união.

De que tem mais saudades?

Saudades dos abraços dos meus amores e do mar.

O que vai fazer assim que acabar a quarentena?

Fazer a maior Cuddle Party do Mundo!!!!

Créditos

Modelo Mafalda Matos

Fotografia Nuno Jorge

Make-up Artist Diogo Taborda

Veja mais em MODA

PUB