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Um ensaio sobre feminismo

Confesso que entrei nesta onda do feminismo recentemente. Não nasci feminista. Tornei-me feminista. Vou continuar a crescer e a envelhecer feminista. E vou educar os meus futuros filhos a serem feministas. Porque o mundo carece de feminismo.

Penso que sempre soube que era feminista. A minha admiração pela Mulher já vem desde os primórdios do tempo. Acho que é algo que já vem connosco, mulheres… isto de admirar a Mulher. Não é o corpo que admiro, ou a beleza, propriamente; não só mas também. Admiro a luta, a persistência, a bravura – a nossa História. Admiro a nossa História. A Mulher desde o princípio da Vida que não passa de um mero objeto. Ou por muito humana que seja acaba por ser alvo de uma objetificação absurda. Pelo que vestimos, pelo nosso corpo, por o que quer que raio façamos. Agradeço às mil e uma campanhas “a favor” da mulher por tudo isso. Obrigada pelo vale de vinte porcento de desconto da loja do Capital, que não me vai ajudar a alcançar a igualdade que tanto desejo.

Há uns dias perguntaram-me o que achava sobre o Dia Internacional da Mulher, se deveria existir ou não. Gostei do tema inesperado, já que estávamos a dois dias do dito. O que acho é simples, acho que sim. Uma resposta simples. Que traz mais do que aparenta. Com o meu “sim” simplório quero dizer que acho justo que exista. A meu ver, o Dia Internacional da Mulher não é um dia de celebração, não, para mim, é um dia de relembranças. É um dia para relembrar a nossa luta diária e, especialmente, a luta do antigamente. É um dia de luta. É o dia que temos em que podemos ser ouvidas, gritar “sou mulher, estou aqui, represento todas as gerações anteriores, sobrevivi, sobrevivo, estou aqui para ficar, e para ser ouvida.”, soa bem na minha cabeça. É um dia bonito para sair à rua e sorrir para outra companheira, com cumplicidade e encorajamento. Um dia para relembrar o passado feminino, para que não se repitam os mesmos erros no futuro. É, especialmente, um dia para dar voz às que não tiveram a sua oportunidade. A sua luz no mundo. O seu momento.

Não é que desgoste de receber uma flor ou o brilhante “feliz dia da mulher” de homens e campanhas publicitárias que bombardeiam o meu e-mail com novos produtos ou descontos paupérrimos. O que odeio é a maneira como nos usam para tais teatros. Odeio como o capitalismo nos tenta comprar com ramos de rosas ou anéis foleiros. Ou, (mulheres que estejam a ler isto por favor digam que estão comigo, em espírito) quando nos oferecem vales para uma ida ao spa ou uma maquilhagem gratuita, porque claramente precisamos, então, somos mulheres trabalhadoras, não é? Estamos estafadas, com rugas, cansadas, stressadas até às pontas dos nossos cabelos brancos. Porque não? Porque é que não haveríamos de aceitar um convite destes? “Estás velha e com olheiras, trata-te. Tens de estar bonita e arranjada, és mulher ou não?”, não há nada mais romântico que isto. Também não há nada que diga mais “Ah! Patriarcado!” que isto.

No seguimento deste debate foi mencionado, como deveria ter sido logo no início, o Dia do Homem. Ao que deu a entender, ninguém apresentou grande conhecimento face ao dia dezanove de novembro. Não me choca. Penso que seja assim pelo simples facto do dia do homem ser todos dias, exceto dia oito de março… bem, eles lá arranjam maneira de o virar para eles, enfim. Vá, foi uma piada… baseada em factos verídicos. Mas falando a sério, este dia deveria ter uma maior visibilidade, é a oportunidade excelente para os homens elevarem a sua voz contra o machismo e o conceito de masculinidade tóxica. Se bem que podiam manifestar-se com maior regularidade, está na altura de lutar pelo que acreditamos. E pelo que merecemos. Merecemos direitos. Merecemos a igualdade. Merecemos acabar com este estigma que se apodera do sexo masculino. Para o bem de todos, e a sanidade mental de muitos.

Em suma, gosto do meu Dia da Mulher, gosto, o que não tolero é o fantasma do Patriarcado e do Capitalismo a assombrar esse dia de tanta História, luta, revolução, e evolução. Estragam todo o seu significado ao usarem-nos. Ao controlarem-nos. Ao serem o homem da carrinha a oferecer doces às crianças em troca de “favores”. E para ser sincera, não tenho muito a dizer sobre o Dia do Homem, talvez se fosse homem teria mais moral para falar, apenas sinto que, mesmo que o dia fosse reconhecido, não teria tanto impacto, porque, sejamos realistas, ao final do dia, o que rende é a mulher. Ela é que é a ingénua que compra, a inocente que ouve, a tentação do mercado. Não há que enganar. A indústria, o capital, a quantidade de publicidade em torno deste dia, são realidades obscuras e obscenas. E precisam de acabar. Não quero ser usada e explorada. Não quero. Estou farta.

E com isto, culpamos quem? Culpamos o Patriarcado. Culpamos o Capitalismo. Culpamos a Sociedade. Que trio assustador. A opressão corre nas veias femininas bem como o medo. Este medo cresce à medida que nós, mulheres, crescemos. O medo está escondido em nós quando vamos sozinhas para casa e o homem está atrás de nós. O medo está entre as nossas pernas quando o homem coloca a mão entre elas, sem nós querermos. O medo está na nossa língua quando o homem nos atira frases “sedutoras”. O medo abriga-se nos nossos ossos quando o homem exerce o seu poder sobre nós, e acaba por quebrá-los num mísero segundo de raiva. O medo fica preso na garganta quando o homem se força em nós, e nós não temos qualquer poder, qualquer saída, qualquer grito ou salvação. O medo enterra-se quando nós fazemos o mesmo. Será esse o objetivo? O nosso extermínio?

Isto consegue um cartão verde, e as vítimas? Como é que isto acontece todos os dias a mulheres pelo mundo inteiro e ninguém muda? Como é possível… como é que nada mudou? Precisamos de dizer que “não” mais alto? Se calhar baixar mais um pouco a saia… talvez fechar o botão da camisa? Já sei! Andar com um manto, um colete à prova de bala, botas da tropa… provavelmente não é suficiente. Ou então, e muito melhor, educar os homens. Eles que não nos toquem, batam, dominem… é isso. A culpa não é nossa. Não é. A culpa não está na nossa roupa ou na falta dela. A culpa não está na bebida ou na falta dela. A culpa está, sim, no indivíduo que ousa meter-se connosco. Que ousa olhar para nós como se fossemos carne e eles uns carnívoros esfomeados.

Falemos, então, dos salários pagos às mulheres, mais baixos do que os dos homens, porque somos mulheres. Falemos do desemprego, onde há preferência pelo sexo masculino. Falemos da morte. Falemos das milhares de mulheres que morrem por ano devido ao machismo. Falemos disso e do passado. Aumentemos os decibéis, pode ser que assim nos oiçam.

Devemos culpar, também, a masculinidade tóxica. Uma definição que manipula cada homem nesta sociedade. O homem está desde o berço a ser treinado para ser uma máquina forte, arrebatadora, uma verdadeira sex machine. Quase como se o leite que o alimenta já tem uns shots de whiskey à mistura. Um macho tem de carregar com o fardo dos seus antepassados conservadores e machistas – não pode chorar ou parece fraco, tem de “comer” cada mulher que encontra na rua, tem de triunfar em todos os aspetos, tem de ser o melhor na cama e fora dela, não pode ser a favor das minorias, tem de ser atlético e ter um perfil “à macho”, ser gentil e cavalheiro para com as mulheres está fora de questão, a não ser que em troca haja algum tipo de prémio. Este tipo de coisas, totalmente incoerentes, deixam-me estupefacta. Porquê? Porque é que continua a ser assim, expliquem-me. É por isto, e mais, que o feminismo existe. O feminismo combate isso mesmo. O feminismo serve para qualquer um. Para qualquer género. Porque no final de contas, tudo o que queremos é igualdade e justiça. E amor.

A verdade é que todos podemos ser feministas. Todos podemos estar no lado correto da História. Todos devemos seguir este caminho. É o correto a fazer. Ser feminista é lutar pelos direitos, não só pelos da mulher mas pela igualdade, é ir contra os ideais da sociedade, é proteger milhares e milhares de pessoas pelo mundo inteiro que não têm força suficiente para se manifestar, é tornar o mundo um lugar melhor. É pensar no próximo, e em nós. É tornarmo-nos a melhor versão de nós próprios. Ser feminista é aprender, é crescer, é amar, é aceitar. Ser feminista é ser extraordinário.

Fico grata por ter role models em todas as áreas possíveis. Mulheres fortes com personalidades impressionantes, e uma história de vida ainda melhor. Inspiradoras. Todas elas. No ramo da escrita, personagens como Virginia Woolf, Chimamanda Ngozi Adichie e Simone de Beauvoir, na ciência – Marie Curie e Katherine Johnson; a guerreira Joana D’Arc, a belíssima Frida Kahlo no ramo artístico. Dou, em simultâneo, foco aos homens que se orgulham em ser feministas, porque também eles ajudam nesta luta – Barack Obama, Antonio Banderas, Daniel Craig, Bono, Will Smith… homens que se assumem publicamente por feministas, e muitos outros. Mas precisamos de mais.

Alivia-me saber que estou a crescer com tantas destas personalidades, e outras que deixaram a sua marca na Terra, e fico feliz por ver que a nossa geração está na fila da frente no que toca a mudar de mentalidade, graças a ídolos como estes, com vozes poderosas e ações ainda maiores. E nós seguimos com eles, em frente e com garra. Seguimos em frente e levamos connosco a coragem, a inspiração, a força de vontade, o ânimo e a ferocidade; Isto é o papel de um ativista.

Eu sou feminista. E tu?

Catarina Mendes

17 anos

Leitora da LuxWOMAN

Siga-a no Instagram: @_catarinaabreu_

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