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Afinal, porque é que não sou feliz? Uma psicóloga explica-lhe

De certeza que já lhe perguntaram se era ou estava feliz. Na verdade, estamos constantemente a procurar ser felizes, ao fazermos coisas que nos deixam de bom humor e ao rodear-nos de pessoas com as quais nos sentimos bem. E depois há esta necessidade, própria do século XXI, de partilhar tudo nas redes sociais para nos afirmarmos e mostrarmos que estamos bem. No entanto, não estaremos a avaliar a nossa felicidade mais por aquilo que temos do que pelo que somos?

No livro “Porque é que não sou Feliz?”, a psicóloga espanhola Silvia Álava desmonta a ideia de felicidade que nos tem sido imposta pela sociedade, identifica os ‘inimigos’ da felicidade e propõe métodos para fomentar o bem-estar emocional.

Silvia Álava

Silvia Álava tornou-se conhecida pelos seus livros de psicologia infantil e continua a desempenhar funções de psicóloga educativa. Doutorada em Psicologia Clínica e da Saúde, é diretora do Centro de Psicologia Álava Reyes, assessora de várias sociedades científicas, professora universitária e divulgadora de ciência. Foi-lhe atribuído o prémio de Comunicação da Ordem dos Psicólogos de Madrid.

Ser feliz é?

Primeiro, o que temos de pensar, é que a nossa felicidade vai depender muito da definição de felicidade em que nós acreditamos no momento em que o estamos a dizer.  Qual é o problema que temos hoje em dia? Em certas ocasiões confundimos a alegria, que é uma emoção passageira e momentânea muito agradável e que todos gostamos muito de sentir, com a felicidade.

A felicidade não é uma emoção, é um estado onde cabem todas as emoções, tanto as agradáveis como as desagradáveis. 

Portanto, se pensamos que ser felizes é estar a sentir coisas agradáveis e a fazer coisas divertidas durante 24 horas por dia, durante sete dias por semana, vamos ter um problema…Ninguém no Planeta Terra vai poder ser feliz. Ser feliz está mais relacionado com viver em calma, viver em paz, gostar de nós próprios, pôr o foco nas coisas positivas e aceitar os dissabores que às vezes a vida nos traz. Passo a citar Santo Agostinho, “A felicidade é continuar a desejar tudo o que já se possui”.

Que tipo de felicidade é que nos tem sido imposta pela sociedade?

O problema que temos com a sociedade é que ela nos impõe um tipo de felicidade hedónica. Que temos de estar a fazer coisas divertidas, coisas prazerosas, a todo o tempo. E é verdade que desde o hedonismo que a felicidade está muito mais orientada para o prazer e para o desfrutar. Isto não significa que é mau, porque todos nós gostamos de fazer coisas divertidas ou de comer num sítio de que gostamos, mas acabamos por nos esquecer da parte da felicidade que está relacionada com o crescimento pessoal, ou seja ter um sentido na nossa vida. Além disso, vemos como é que podemos melhorar a cada dia.

Como é que podemos ser mais felizes?

Para conseguir ser mais feliz, o primeiro que temos de fazer é definir exatamente qual é a nossa ideia da felicidade. E no final, o que queremos é dizer que na felicidade vão caber todas as emoções, tanto as agradáveis como as desagradáveis. 

Uma das coisas que nos vai ajudar a ser mais felizes é aprender a compreender as nossas emoções. As emoções não são boas nem más. As emoções simplesmente nos estão a dar informação. E, muitas vezes, o que nos acontece é negar as emoções desagradáveis e fingir que não se passa nada. Ao negar as emoções, não estamos a aprender a lê-las. Logo, para ser mais feliz, é necessário entender que na vida cabe tudo: o bem e o mal. Nesse sentido, também vai ser fundamental, saber que todos vamos ter dias maus e que ter um mau dia, não pode ser identificado como uma derrota. Para concluir, trata-se de aprender a aceitar a vida, as coisas boas e más, e colocar o foco nas coisas que podemos mudar.

Livro "Porque é que não sou feliz?". €17,90

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Que coisas simples é que podemos fazer para ser mais felizes?

Existem pequenas coisas no dia a dia que podemos melhorar. Como, por exemplo, aprender qual é o nosso foco. Muitas vezes, o que nos acontece é que temos um foco de atenção no negativo e damos demasiada importância a essas coisas. É importante controlar a nossa atenção e , neste caso, focar no positivo. Martin Seligman realizou uma experiência em que pedia às pessoas que apontassem todos os dias três situações agradáveis que tivessem vivido. Precisamente, para poder aprender a colocar esse foco no positivo. Por isso, um dos exercícios que pode fazer, é apontar num diário aquelas emoções agradáveis que sentiu durante o dia.

Também é muito importante ter uma boa rede social, uma boa rede de apoio. O que nos diz o conhecimento científico é que não é tão importante a quantidade de amigos que temos ou qualidade dos mesmo, mas como nos sentimos com eles. Ou seja, se temos um problema e há uma pessoa que se preocupa connosco e sabemos que podemos chamar e pedir ajuda, isso já nos vai ajudar a ser mais felizes. Logo, temos de cuidar da nossa rede de apoio. E nesse sentido, também temos de cuidar da nossa família. A família é uma fonte impressionante de emoções, tanto desagradáveis como agradáveis. Daí a importância de cuidar da família.

E não nos podemos esquecer dos pilares básicos. Cuidar da alimentação, ou seja, alimentar-nos de forma saudável. Já sabemos os efeitos que tem na saúde física e mental fazer uma alimentação que não tenha muito açúcar e alimentos processados. Também temos de cuidar do sono e das horas de descanso. Necessitamos de descansar no mínimo 8 horas. Não respeitar os ritmos de sono e não fazer os descansos correspondentes pode ser um possível indicador de problemas tanto a nível físico como emocional. O desporto é fundamental, já sabemos que o nosso corpo vai funcionar muito melhor se nos movermos, e ajuda-nos a regular emoções. E por último, aprender a regular as emoções.

Quais são os inimigos da felicidade?

Temos vários inimigos da felicidade. E antes de falarmos de fatores externos, temos de perceber que nós, muitas vezes, somos o nosso principal inimigo da felicidade. Porque tendemos a antecipar o negativo. Há um capítulo no livro, “O realizador de cinema interior”, que se debruça sobre esses filmes mentais que muitas vezes criamos a pensar que as coisas vão correr mal e geralmente as coisas não saem tão mal como estávamos a imaginar. E acabamos por ter estado a sofrer inutilmente. Também temos a tendência a ter um discurso negativo a respeito de nós próprios, usando termos muito absolutistas, como “nunca vou poder”, “isto vai sempre acontecer”. Temos de aprender a falar connosco próprios de uma forma objetiva e um pouco compassiva, ou seja, vamos falar como se fossemos amigos e não inimigos. Um exercício que pode fazer é quando estiver a contar sobre um erro que tenha cometido, pare um segundo e pense que um amigo seu é que lhe está a contar. Diria-lhe exatamente o mesmo e usaria os mesmo termos que usa para falar de si? Se não, comece a tratar-se como se fosse um amigo seu.

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