Uma nutricionista , uma veterinária e um informático que se juntam à mãe , ao pai e à avó , as personagens de um projeto que acaba de nascer… De que lhe falamos? Do projeto alecrim.pt, um site criado com o objetivo de fazer da alimentação uma prática saudável .
Com workshops de alimentação saudável , ações de formação (direcionadas para empresas e instituições que se queiram diferenciar em termos de alimentação saudável, permitindo aumentar os conhecimentos dos seus colaboradores sobre nutrição e alimentação), consultas de nutrição (para particulares, na sede da empresa, ou para empresas, in loco, nas empresas inscritas), entre outras iniciativas, a Alecrim pretende, acima de tudo, promover a alimentação saudável, mas torná-la, ao mesmo tempo, em algo que seja prazeroso.
Falámos com a nutricionista Inês Pádua , uma das mentoras do projeto.
Como nasceu o projeto e porquê?
“O Alecrim nasceu de uma conversa entre amigos e, sobretudo, da vontade de relembrar às pessoas que a alimentação também tem um carácter afetivo. Quantos de nós não temos boas recordações relacionadas com um costume, um alimento ou uma receita? É inegável que a alimentação é central para a nossa saúde e que temos de aproveitar todo o conhecimento atual que temos a este nível. Mas sentimos que, cada vez mais, se começa a desvirtuar e a descontextualizar a alimentação. Por isso, criámos o Alecrim, de forma a aliar o conhecimento científico às tradições e as memórias.”
Em que consiste o projeto?
“O Alecrim é, primeiramente, um projeto de promoção da alimentação saudável.
Para além da parte técnica da consulta de nutrição clínica e de desenvolvimento de conteúdo/material especializado, temos a parte da educação alimentar, que tem sido o nosso maior foco de trabalho, onde se incluem os workshops e também o nosso blog. Este blog, ou esta ‘casa’ como gostamos de chamar, é construído à volta das personagens da família Alecrim. Achámos que a família permitiria reforçar este lado afetivo e tradicional que queremos promover e, assim, no blog, a alimentação é abordada, quer de uma perspetiva técnica, quer de uma forma mais casual e emocional. Cada personagem tem as suas próprias rubricas, permitindo termos diferentes visões e experiências. O Pai Alecrim, por exemplo, tem uma rubrica intitulada ‘histórias para ir dormir’, sempre centradas na alimentação. Já a avó Alecrim tem a seu cargo uma rubrica de receitas da avó, quase sempre centradas nas sobras e no combate ao desperdício. A mãe Alecrim tem as rubricas de economia doméstica e entrevistas. Adicionalmente, incluímos também neste projeto uma vertente de nutrição e alimentação animal, que reforça a importância que os animais têm como parte integrante das famílias.”
Porquê o nome Alecrim?
“Queríamos um nome que conseguisse traduzir o projeto e as suas bases e, por isso, pensámos em Alecrim. Sabemos que as ervas aromáticas são grandes aliadas na culinária saudável, porque nos permitem reduzir o sal, mas por outro lado não são um produto da atualidade, são parte integrante das nossas tradições culinárias. O alecrim, por exemplo, até faz parte do cancioneiro popular português. Achámos que era uma palavra com uma sonoridade bonita, para além de ser, efetivamente, uma planta bonita e aromaticamente deliciosa.”
A alimentação em Portugal, ainda tem deficiências? As pessoas comem ‘mal’?
“Sim, apesar de alguns estudos nos mostrarem um maior interesse das pessoas em torno da alimentação saudável, os últimos dados do Inquérito Alimentar Nacional e da Direção Geral da Saúde são bastante claros e preocupantes. Mostram-nos que mais de metade dos portugueses tem excesso de peso e que os produtos açucarados, os snacks salgados, os refrigerantes e as bebidas alcoólicas representam quase um quarto do consumo alimentar dos portugueses, o que é bastante.”
E com as crianças, o que acontece? Há aquela ideia de que até ao ano de idade comem segundo ‘as regras’ da pediatra, mas que depois o cenário muda. É verdade?
“Sim, sabemos que as nossas crianças durante primeiro de vida têm uma alimentação cuidada e equilibrada, provavelmente fruto do maior controlo e especificidade da alimentação. Assim, os problemas começam a aparecer quando a criança passa a integrar a alimentação da família, quando deixa de ter os seus próprios alimentos ou pratos e quando existe, também, uma maior liberalização naquilo que se oferece à criança. Isto mostra-nos que o período de integração da criança na alimentação da família, é uma janela de oportunidade para que todos melhorem os seus hábitos alimentares.”
Portugal tem uma boa tradição e base alimentar, na sua génese. Acha que, de alguma forma, se perdeu um pouco isso? Por culpa dos hipermercados? Ou estamos a voltar, de alguma maneira, às nossas origens?
“Sim, considero que nos últimos anos temo-nos distanciado da nossa base alimentar. A explosão da oferta de produtos açucarados e com grande quantidade de gorduras e sal, associado ao marketing alimentar e também às novas rotinas familiares, criaram condições para que isso fosse mais fácil. Deixou de estar ‘na moda’ comer pão e feijão, para comer bolachas, tostas e recheios doces. Penso que nos últimos anos se tem tentado reverter esta situação, com mais controlo, mais informação, mais importância dada à relação entre a nutrição, a alimentação e a saúde, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Sobretudo, quando, atualmente, se acha que, para ser nutricionalmente interessante, o alimento tem de ser ‘exótico’ ou que a ‘solução’ está num conjunto limitado de alimentos. Estes ‘novos alimentos’ são interessantes, sim, mas os nossos, aqueles que deixámos lá atrás, também o são, igualmente ou ainda mais. E nenhum tem de ficar de fora.”
É difícil manter uma alimentação saudável?
“Não, não é difícil, nem dispendioso, como muitas pessoas pensam. Trata-se de fazer escolhas acertadas, como beber água, privilegiar os alimentos sem rótulo (os verdadeiros alimentos), evitar açúcares, gorduras em excesso e sal e aliar isto à atividade física. E, nestas escolhas, também se incluem, e é saudável que assim seja, os dias de festa em que pode existir um doce ou um prato com mais gordura. E a nossa tradição culinária portuguesa não se afasta muito destes princípios. Um leitão à Bairrada pode não ser tão saudável e pode ser reservado para dias de festa, mas uma açorda à Alentejana ou uma massada de frango, por exemplo, são pratos perfeitamente saudáveis, económicos, tradicionais e deliciosos.”
Um conselho para deixar a quem quer manter uma alimentação saudável?
“É importante ter atenção à disponibilidade alimentar, isto é, aos alimentos que tem disponíveis na sua casa. Nós acabamos por consumir o que temos disponível em nossas casas, pelo que só devemos comprar os alimentos que nos permitirem ter uma alimentação saudável. De uma forma prática, se chegar com fome a casa no final do dia e não houver bolachas para comer, mas tiver sopa, a solução passará por comer a sopa e não as bolachas.”
Um conselho para os pais?
“O melhor conselho para os pais é: sejam o exemplo. Mais do que princesas e super-heróis, os grandes modelos das crianças são os pais e são, primeiramente, os pais que estes copiam e projetam.”