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Cristina Amaro e Rita Serrabulho: 2 testemunhos de perseverança e sucesso

As mulheres constituem 50% da força de trabalho nacional, mas só 6% chegam à liderança de topo – ou seja, ao cargo de CEO. Além disso, ocupam 16% dos lugares de administração, estando abaixo da representação média europeia, que é de 22%. Estas são algumas das conclusões do mais recente estudo ‘Women Matter Iberia’, desenvolvido pela McKinsey&Company, que coloca Portugal a liderar a paridade de género na Europa, apesar de ainda persistirem desigualdades estruturais que importa eliminar.

Cristina Amaro e Rita Serrabulho fazem parte da pequena percentagem de mulheres que estão em cargos de liderança de topo. A primeira é CEO & CLO da The Empower Brands House, Fundadora e Apresentadora do Imagens de Marca; e a segunda é CEO da AMP Associates e Managing Partner da Political Intelligence. Neste, que é o Dia Internacional da Mulher, trazemos-lhe dois testemunhos de perseverança e sucesso.

Cristina Amaro

CEO & CLO da The Empower Brands House, Fundadora e Apresentadora do Imagens de Marca

É licenciada em Publicidade e Marketing pela Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa e mestre em Gestão de Imagem pela Universidade Nova de Lisboa e Complutense de Madrid. Em janeiro, foi distinguida pela revista norte-americana “Rethink Retail” como uma das personalidades mais influentes enquanto Fundadora e Presidente da Brands Community. Considerada uma das Best Team Leaders de Portugal e um dos 10 CEO Mais Digitais, é coordenadora, curadora e docente em diversas instituições, entre as quais a Nova SBE Executive Education, o ISEG e a Universidade Europeia. CEO e CLO da The Empower Brands House, autora e pivô do Imagens de Marca, na SIC Notícias, é, também, fundadora e presidente da Brands Community, que conta com mais de 2000 membros e que tem como propósito empoderar pessoas, marcas e empresas. Considerada uma líder carismática, é uma inspiração no que diz respeito à resiliência e transformação de sonhos em projetos de sucesso e uma referência na gestão de pessoas com base na empatia. 

Como foi o seu percurso até aqui?

O meu caminho profissional iniciou-se nos anos 90 na área da publicidade, mas foi no jornalismo que mais me destaquei. Passei pela revista Exame e por vários títulos ligados à economia e à tecnologia. Em 2003, decidi criar a minha empresa, a atual The Empower Brands House, da qual sou CEO.

Sou autora e rosto do Imagens de Marca, magazine de referência na antena da SIC Notícias desde 2004, e no meu curriculum tenho, também, a criação e autoria de diversos outros programas de televisão, com mérito reconhecido a nível nacional e internacional.

Em 2017, fiz nascer a Brands Community, uma comunidade agregadora de pessoas e empresas que acreditam no potencial das marcas e que valorizam a sua importância para a economia nacional.

Sou uma apaixonada pela vida e pelas pessoas e empreendedora de sonhos, desde muito nova.

Este ano, celebramos 20 anos de Imagens de Marca e não poderia estar mais satisfeita com tudo o que eu e a minha equipa alcançámos até à data.

Que desafios exigem a sua função?

Tenho uma agenda extremamente exigente e a empresa corre a um ritmo alucinante, típico do sector. Acresce-lhe uma velocidade extra vinda do mundo das marcas, da publicidade e do digital, em que tudo acontece para ontem.

Só o consigo fazer, sendo focada e contando com uma equipa sénior e bastante profissional, que responde aos desafios com a mesma velocidade (e criatividade) com que eu os desafios.

Muitas vezes, reforço esse foco com caminhadas pela natureza com o meu cão onde me surgem algumas das melhores ideias. Por isso, tendo em conta a exigência do meu dia a dia, cuidar de mim é a terapia que faço sempre que possível.

Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

Tenho a sorte de nunca, em momento algum da minha carreira, me ter sentido beneficiada ou prejudicada pelo facto de ser mulher. Poucas coisas me fariam sentir mais frustrada profissionalmente…. Prova disso é que tenho uma equipa equilibrada, entre o número de homens e mulheres, mas já tive uma equipa somente feminina, assim como já as tive manifestamente masculinas.

Não trato ninguém de forma diferente. Todos são iguais. Os homens gozam dos direitos de paternidade e as mulheres de maternidade. Assim como todos gozam dos mesmos direitos e deveres, em tudo! Premeio a meritocracia e a responsabilidade.

Acha que as mulheres, ainda, têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal, para chegarem ao topo e terem sucesso profissional? 

Confesso que é um tema que não tenho fechado na minha cabeça. Defendo a igualdade no trabalho e na vida pessoal, embora nunca tenha sentido discriminação num mundo claramente masculino (o dos negócios) …

Mas também confesso que não invisto muito tempo a tentar perceber se a liderança feminina é melhor ou pior do que a masculina. Para mim, importa sim a competência, seja ela de uma mulher ou de um homem. No entanto, reconheço nas mulheres algumas características que fazem de nós, talvez, líderes mais sensíveis, mais emocionais, com maior compaixão e, muitas vezes, até capacidade de comunicar.

Enquanto CEO da The Empower Brands House, nunca contratei por género. Optei sempre pela experiência, know-how e, sempre que possível, pela atitude. Mas o tema da liderança feminina desperta-me muita curiosidade. Mais que não seja porque gosto de ouvir o que outras pessoas têm para dizer, em especial, admito, mulheres que gerem equipas e que me podem inspirar com as suas práticas.

As palavras-chave para o sucesso de liderança (masculina ou feminina): a motivação permanente das pessoas; a inspiração que temos de passar aos colaboradores; a capacidade de ouvir e compreender os outros; o pensamento positivo e capacidade de acreditar.

Acredita que, algum dia, atingiremos a igualdade salarial?

São vários os estudos que deixam claro que as mulheres ainda têm algum caminho a percorrer para chegar ao patamar manifestamente ocupado pelo sexo masculino. No entanto, julgo que na gestão de topo, a liderança já começa a não ter género.

O nosso grande inimigo é a perfeição. E as mulheres têm muito isso: querer fazer tudo perfeito nos seus inúmeros papéis diários que só com uma boa base de apoio nos permite evitar um espalhanço ao comprido.

É talvez “o” tópico. Onde ficamos nós no meio deste mundo louco que não nos dá tempo para refletir e nos pressiona para fazer tudo bem? Eu respondo por mim: ficamos com a consciência de que somos humanos. Com a tranquilidade de nos deixarmos errar sem nos condenarmos. Com a humildade que não sabermos tudo.

Não façamos do líder um super-homem ou uma super-mulher. Até porque o género de nada vale e aos poucos começa a deixar de ser um tema. O tema é mesmo a enorme vantagem de termos uma equipa todos os dias a remar para o mesmo sentido e a colaborar. Em tudo! Até mesmo na motivação. Porque, acreditem, os líderes também precisam de “se alimentar” com a energia da sua equipa. Não há bons líderes sem uma boa equipa.

Faz sentido celebrarmos o Dia da Mulher? 

Julgo não ser necessário dizer que nós, as mulheres, gostaríamos de ter menos motivos para assinalar a data e, naturalmente, que um dia ninguém tivesse de escrever uma linha sobre este tema! Mas infelizmente continua a haver motivos para que hoje, Dia Internacional da Mulher, ainda se publiquem muitos artigos que falem dos direitos das mulheres.

Qual é a sua mensagem para este dia?

Neste Dia da Mulher queremos homenagear todas as mulheres, de qualquer parte do mundo. Que sejam sempre inspiradas por outros exemplos, que nunca desistam dos seus sonhos, que façam mais e melhor e sobretudo que nunca percam a autoestima, a vontade de fazer diferente, a sua dignidade. Há espaço para mais mulheres líderes, independentes e criativas no mundo porque o mundo não é das mulheres, nem é dos homens. O mundo é de todos.


Rita Serrabulho 

CEO da AMP Associates e Managing Partner da Political Intelligence

Iniciou a sua carreira em 1998, como jornalista, editora e coordenadora de programas de viagens turísticas para a SIC, onde permaneceu até 2009. Posteriormente, assumiu a liderança do gabinete de Comunicação e Marketing na M-Insight Technologies, desenvolvendo estratégias de marketing digital para mais de 80 empresas em todos os setores económicos. De 2011 a 2015, trabalhou no Ministério da Economia como assessora de comunicação do Ministro e Secretários de Estado da Economia. Atualmente, é sócia e CEO da Amp Associates, liderando a rede premium de consultoria e assessoria de comunicação para CEOs, políticos e investidores internacionais. É ainda Managing Partner da Political Intelligence Portugal, primeira empresa especializada em Public Affairs a atuar no mercado nacional.

Como foi o seu percurso até aqui?

Essa é uma pergunta que procuro fazer a mim própria com alguma frequência. Compreendermos como tem sido o nosso percurso, quais os seus marcos, os seus erros, as suas vitórias, as pessoas que dele fazem parte, é um reconhecimento que creio que devemos ter presente, de forma que possamos continuar a evoluir com respeito e consciência por aquele que foi o nosso caminho. Dito isto, foi um percurso marcado sempre por muito trabalho, muita resiliência, e por muita confiança e segurança nos objetivos que estabeleci para mim própria e para todos os que fazem parte dos diferentes projetos por onde tenho passado e pelos que tenho procurado construir.

Que desafios exigem a sua função?

Como CEO da AMP Associates e Managing Partner da Political Intelligence Portugal, os meus desafios passam por perceber quais as circunstâncias do mercado onde estamos inseridos (neste caso o mercado da comunicação e dos Assuntos Públicos), que necessidades e respostas pedem esses mercados, e, naturalmente, por garantir que as nossas empresas e as suas equipas estão aptas a dar a melhor oferta, a mais competitiva, mas também a de qualidade mais diferenciadora. Entendo que até agora, que numa quer noutra organização, temos marcado a diferença com essa competência e com essa resposta.

Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

De forma muito honesta, não senti. O mundo dos negócios é de facto muito mais dominado por homens, mas não senti qualquer hostilidade ou tentativa de desvalorização por ser mulher. Com franqueza, também não dou espaço para esse tipo de oportunidades. Sou muito racional e combativa, e nunca permiti ser discriminada ou diminuída em nenhum fórum pelo facto de ser mulher. Sou profissional, tenho compromissos para com os meus clientes e com as minhas empresas, e é nisso que estou focada.

Acha que as mulheres, ainda, têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal, para chegarem ao topo e terem sucesso profissional?

Sim, infelizmente estudos muito recentes revelam exatamente isso. Um estudo europeu liderado pelo Instituto de Saúde Pública do Porto e apresentado no mês passado, conclui que há grande desigualdade entre pais e mães no mundo do trabalho. O rendimento das mulheres baixa quase 30% depois de terem filhos, enquanto os homens passam a ganhar mais. Mostra ainda que as mulheres continuam a assumir a maioria das responsabilidades familiares e domésticas. Após serem mães, os dados indicam uma redução de cerca de 29% do ordenado das mulheres e um aumento de 12% nos homens. Em Portugal somos uma exceção na quebra desta diferença salarial, mas apenas por causa da política de baixos ordenados praticados no nosso país. Dito isto, existem um conjunto de variáveis inerentes ao papel da mulher – uns mutáveis outros não – que exigem um esforço maior e mais contínuo, no que ao seu desempenho e sucesso profissional diz respeito.

Têm de, continuamente, demonstrar o seu valor?

O valor está lá e creio hoje ser reconhecido, principalmente em alguns sectores de atividade mais específicos. Mas creio que o que falta ainda é suprimir questões culturais que levam mais tempo a serem ultrapassadas. Acho, no entanto, que – e para tal não tem que necessariamente ser-se feminista -, as mulheres têm de ser mais ambiciosas, mais combativas e menos humildes quando falam dos seus valores e das suas competências. Nisso os homens são mais desabrigados e arriscam mais, por isso, perante determinadas posições disponíveis, admito que essa segurança e vontade de agarrar o desafio também conte.

Acredita que, algum dia, atingiremos a igualdade salarial?

Sim, não tenho a mais pequena dúvida que esse cenário será uma realidade não muito distante.

Faz sentido celebrarmos o Dia da Mulher? 

Acho que faz sentido. As mulheres foram culturalmente hostilizadas ao longo de muitas e muitas gerações. E não estamos a falar da procura de direitos para se equipararem aos homens. Estamos a falar de direitos de liberdade e de uma autonomia que confira às mulheres a possibilidade de fazerem escolhas ou tomarem determinadas posições,  sejam elas de expressão,  cívicas, ou outras, e que pareceriam impossíveis de existirem nos dias de hoje, mas que eram uma realidade há menos de 50 anos. Estou a falar da liberdade de votar, de escolher divorciar-se ou poder ausentar-se do país sem autorização do marido, por exemplo. Além dos mais – e sem querer minimizar o papel dos homens nas sociedades  – a mulher veste muitas vezes a pele de diferentes figuras e diferentes responsabilidades numa só vida: É Mãe, é Filha, é Mulher, é Amante, é Profissional, é Cuidadora, é muitas vezes o equilíbrio emocional de instituições familiares e empresariais ou sociais, pela sua enorme capacidade de exercer muitas tarefas ao mesmo tempo, e tantas vezes incompreensíveis para uma mente masculina, mais focada que está em executar uma tarefa de cada vez. Por isso, parece-me ser uma homenagem bonita, para o Ser que é também a gestação da Vida, e o Princípio de tantas coisas.

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