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Dia Mundial da Obesidade: “Portugal tem verificado um aumento progressivo da taxa de obesidade”

Hoje, dia 4 de março, assinala-se o Dia Mundial da Obesidade

Até 2035, segundo o World Obesity Atlas 2023 da Federação Mundial de Obesidade, cerca de 39% dos portugueses adultos serão obesos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, um índice de massa corporal (IMC) superior a 30 é considerado obesidade. O ritmo laboral, a gestão de tempo, o stress e o tipo de urbanismo contribuem para um estilo de vida sedentário, que se alia a uma alimentação hipercalórica e pouco saudável. Além disso, a obesidade está, também, na origem de mais de 200 doenças, entre as quais a diabetes, em que o excesso de peso contribui para 80% dos casos.

A verdade é que Portugal tem verificado um aumento progressivo da taxa de obesidade e, apesar de ainda nos compararmos favoravelmente com o resto dos países europeus, “este crescimento deve manter-nos preocupados, revela Gil Faria. O Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, Professor da FMUP e Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade, falou com a LuxWoman sobre esta epidemia.

Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, Professor da FMUP e Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, Professor da FMUP e Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

Segundo o relatório de 2023 da Federação Mundial de Obesidade, cerca de 39% dos portugueses adultos serão obesos em 2035. Temos em Portugal um número elevado de obesidade? 

Sim, tal como no resto do mundo ocidental, Portugal tem verificado um aumento progressivo da taxa de obesidade. Segundo essas previsões, o número de pessoas com obesidade vai continuar a aumentar nos próximos anos, atingindo proporções consideradas epidémicas. Apesar de ainda nos compararmos favoravelmente com o resto dos países europeus, este crescimento deve manter-nos preocupados.

A que se deve este aumento? 

O aumento da obesidade é um reflexo das alterações no estilo de vida e padrões alimentares da população. Com a globalização e a urbanização crescente, houve um incremento no consumo de alimentos ultraprocessados, fast-food e bebidas açucaradas. Ao mesmo tempo, o estilo de vida tendencialmente sedentário, associado a trabalhos de escritório e falta de tempo e disposição para atividades físicas regulares, contribui significativamente para o problema. A falta de “educação nutricional” e o custo associado à utilização de alimentos frescos e saudáveis também desempenham um papel importante nesse cenário, estabelecendo uma associação muito clara entre o nível socioeconómico e o risco de obesidade.

O mesmo relatório, o World Obesity Atlas 2023, coloca Portugal como o oitavo país, entre 183, mais bem preparado para combater esta doença. De que maneira é que estamos preparados para a combater? 

Apesar das dificuldades, Portugal tem feito progressos significativos na luta contra a obesidade. Em primeiro lugar, essa expetativa revela a robustez da oferta de saúde, a disponibilidade dos cuidados primários e o acesso universal aos cuidados de saúde diferenciados. Demonstra também alguma predisposição social, sendo que a dieta tradicional do país, de origens mediterrânicas, é uma boa forma de combater a evolução da obesidade. E têm existido também alguns bons exemplos de intervenção em políticas públicas, como sendo a educação alimentar nas escolas, a proibição de determinados alimentos nos estabelecimentos de saúde e educação, a regulamentação da publicidade de alimentos dirigidos a crianças e a taxação de bebidas açucaradas. Apesar de ser difícil medir o impacto destas medidas e possa até ser questionável o seu sucesso, estas têm, pelo menos, a vantagem de aumentar o debate e alertar para o problema desta doença.

Sendo assim, o que tem de ser feito para a travar?  

Para travar a obesidade temos de continuar a apostar na prevenção, na educação e no desenvolvimento socioeconómico. Aumentar a capacidade e disponibilidade das pessoas para a prática de exercício físico e para o consumo de alimentos saudáveis é fundamental, para travar o desenvolvimento desta doença. Uma vez estabelecida a obesidade, o seu tratamento é difícil e dispendioso, pelo que é também importante aumentar o acesso ao tratamento eficaz e investir em programas de apoio para todos os que diariamente lutam contra esta patologia.

Que pequenas coisas é que podemos fazer no dia a dia que contribuem para uma vida mais saudável?

Existem várias maneiras simples e práticas de incorporar alguns hábitos saudáveis na nossa rotina diária. Podemos começar por fazer, por exemplo, escolhas mais conscientes em relação à nossa alimentação, preferindo refeições caseiras preparadas com alimentos frescos e naturais e avaliando o valor nutricional dos alimentos que comprámos. Também podemos evitar o consumo de bebidas açucaradas, preferindo a água como forma de hidratação.

Além disso, pequenas mudanças como preferir escadas em vez de elevadores, caminhar ou andar de bicicleta, em vez de usar o carro para pequenos trajetos, e dedicar tempo para relaxar e reduzir o stress, através da prática de atividades e momentos de lazer ao ar livre podem fazer uma grande diferença na nossa saúde geral.

Que ajuda podem procurar as pessoas com esta doença?

É fundamental procurar ajuda profissional. O primeiro passo é perceber e identificar a obesidade como uma doença, com grande impacto na qualidade de vida e na saúde em geral. E, percebendo isso, recorrer à ajuda dos profissionais de saúde adequados. Isso pode incluir consultas de nutrição, para orientação sobre alimentação saudável e equilibrada, apoio psicológico, para lidar com as questões emocionais associadas ao peso, como a autoestima e a motivação, entre outras áreas da medicina. E a necessária avaliação médica, para monitorizar o estado de saúde, avaliar as complicações associadas e propor um plano de tratamento. Esse aconselhamento médico pode passar pelo médico de família, por endocrinologistas, por internistas ou por cirurgiões especializados no tratamento da obesidade.

É importante também esclarecer o papel dos pares. Muitas vezes é determinante ter o apoio de alguém que já passou pelo mesmo, para discutir, medos, ansiedades, expetativas e emoções. Hoje em dia, todos conhecemos alguém que já fez um tratamento da obesidade e existem também alguns fóruns online, onde se podem partilhar experiências e dúvidas e ter algum suporte emocional de outras pessoas que estão a enfrentar o mesmo desafio.

A obesidade tem, também, efeitos negativos na saúde mental dos doentes. Quais são os mais alarmantes?

Os efeitos negativos da obesidade na saúde mental podem ser profundos e variados. A obesidade está associada a um aumento do risco de depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. Além disso, o estigma social e a discriminação enfrentados por pessoas com obesidade podem levar a uma baixa autoestima, isolamento social, problemas de relacionamento e desafios na atividade profissional. Esses impactos emocionais podem ter um efeito significativo na qualidade de vida e no bem-estar geral das pessoas afetadas.

Que mitos estão associados à obesidade e devem ser desmistificados?

Um dos mitos mais comuns sobre a obesidade é a ideia de que a obesidade é um defeito do carácter; que a obesidade resulta apenas de más escolhas, de falta de força de vontade, de gula ou de preguiça. Na realidade, a obesidade é uma das doenças mais complexas, que resulta da interação entre múltiplas causas, incluindo fatores genéticos, hormonais, ambientais, comportamentais e sociais. Ninguém escolhe ter obesidade e a maioria das pessoas luta arduamente contra esta doença, mas uma vez estabelecido um padrão metabólico que leva à obesidade, é muito difícil conseguir resolver o assunto sem a ajuda adequada.

Outro mito importante é a crença de que a obesidade é apenas um problema estético, quando, na verdade, é uma doença que pode levar a uma série de outras complicações e está, por si só, associada a uma grande queda da qualidade de vida e a um aumento da mortalidade precoce.

É, portanto, muito importante desmistificar estas ideias e promover uma compreensão mais alargada e empática da obesidade com uma doença crónica, que necessita de apoio individual, cuidados adequados e tratamento profissional.

Neste Dia Mundial da Obesidade que mensagem gostaria de deixar?

Gostaria de deixar uma mensagem de esperança, de empatia e de ação. Este dia é uma altura propícia para refletirmos sobre a importância de cuidarmos da nossa saúde e de termos a capacidade de nos apoiarmos uns aos outros, criando comunidades mais saudáveis, mais educadas e mais inclusivas. Vamos passar da discriminação ao apoio de quem sofre com a obesidade; vamos aumentar a consciência coletiva sobre este problema, desafiando estigmas e preconceitos; e vamos promover as escolhas mais saudáveis para a nossa sociedade. Cada pequeno passo pode fazer a diferença e se cada um de nós ajudar a melhorar uma vida individualmente, conseguimos construir um futuro em que a obesidade passe de uma epidemia a uma história de superação.

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