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Dia Mundial da Poesia

No dia 16 de novembro de 1999 foi decretado pela UNESCO o Dia Mundial da Poesia, com o objetivo de promover a leitura, a escrita, e o ensino da poesia pelo mundo. É celebrado a 21 de março e, para o comemorar, juntámos alguns dos poemas preferidos da redação!

Carla Macedo, chefe de redação: O Mostrengo, de Fernando Pessoa

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar;

À roda da nau voou três vezes,

Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar

Nas minhas cavernas que não desvendo,

Meus tectos negros do fim do mundo?»

E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?

De quem as quilhas que vejo e ouço?»

Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.

«Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visse

E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:

«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!

Marta Braga, jornalista: A Mulher Mais Bonita do Mundo, de José Luís Peixoto

Estás tão bonita hoje. Quando digo que nasceram

flores novas na terra do jardim, quero dizer

que estás bonita.

Entro na casa, entro no quarto, abro o armário,

abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio

de ouro.

Entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como

se tocasse a pele do teu pescoço.

Há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

Estás tão bonita hoje.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

Estás dentro de algo que está dentro de todas as

coisas, a minha voz nomeia-te para descrever

a beleza.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

De encontro ao silêncio, dentro do mundo,

estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

Ana Cáceres Monteiro, jornalista: Água Louca da Ribeira, de Armando Varejão

Água louca da ribeira

Que corres em cavalgada

Porque não vais devagar

Essa corrida é cegueira

Não vês nem olhas para nada

Na pressa de ver o mar

Já corri dessa maneira

Nas asas de uma ilusão

Na loucura de chegar

Fui deixando pela ladeira

Pedaços do coração

Beijos loucos sem amar

Vida que foste vivida

A correr tão velozmente

Paraste à beira do mar

Agora vives perdida

São saudades o que sentes

Por não poderes regressar.

Guadalupe Barrera Gonçalves, assistente moda e beleza: Personagem, de Cecília Meireles

Teu nome é quase indiferente

e nem teu rosto já me inquieta.

A arte de amar é exatamente

a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta

o próprio amor que por ti sinto:

és a ideia, serena e casta,

nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença

é um deserto, entre variedades:

mas nesse deserto é que pensa

o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes

e, no seu profundo universo,

tu, sem forma e sem nome, existes,

silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,

teu coração, tua existência,

tudo – o espaço evita e consome:

e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.

E, nesse abismo do meu sonho,

alheia a todo outro desejo,

me decomponho e recomponho.

Susana Ribeiro, designer: Quem és tu, de novo, de Jorge Palma

Quando a janela se fecha e se transforma num ovo

Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta

E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta

Por favor diz-me quem és tu, de novo?

Quando o teu cheiro me leva às esquinas do vislumbre

E toda a verdade em ti é coisa incerta e tão vasta

Quem sou eu para negar que a tua presença me arrasta?

Quem és tu, na imensidão do deslumbre?

As redes são passageiras, as arquiteturas da fuga

De toda a água que corre, de todo o vento que passa

Quando uma teia se rasga ergo à lua a minha taça

E vejo nascer no espelho mais uma ruga

Quando o teto se escancara e se confunde com a lua

A apontar-me o caminho melhor do que qualquer estrela

Ninguém me faz duvidar que foste sempre a mais bela

Por favor, diz-me que és alguém, de novo?

Quando a janela se fecha e se transforma num ovo

Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta

E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta

Por favor diz-me quem és tu, de novo?

Leonor Antolin Teixeira, jornalista: Mãe, o que é Amor?, de Leonor Antolin Teixeira

De longe, veio um menino e sentou-se

Ao seu lado, a sua mãe bordava

O menino no seu colo aconchegou-se

E os olhos da sua mãe procurava

‘Mãe, o que é o Amor?’

Perguntava

Ao seu lado, a sua mãe bordava

E o menino, com teimosia, insistia

‘Onde está, como se cria?’

E ao seu lado, a sua mãe bordava

E o menino, pequenino, dizia:

‘É quando guardo o teu sorriso junto do meu?’

‘Ou quando no teu colo adormeço?’

‘Não sei o que é, mãe…

Nem sei se o mereço…’

E a sua mãe… Sorria

Porque o menino ao seu lado insistia

E a esse menino, pequenino, respondia:

‘É quando no meu colo adormeces…

Com o coração aconchegado

Se mereces, meu filho? Mereces…

Porque no teu coração, pequenino, me resguardo…’

Mariana Cardoso, jornalista: Pedras no Caminho, de Fernando Pessoa

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,

Mas não esqueço de que minha vida

É a maior empresa do mundo…

E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver

Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e

Se tornar um autor da própria história…

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar

Um oásis no recôndito da sua alma…

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “Não”

É ter segurança para receber uma crítica,

Mesmo que injusta…

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo!

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