Fundada em 2020 por Margarida Gonçalves em plena pandemia, DONNA NOIR é uma marca de moda portuguesa emergente com uma estética avant-garde. Acaba de lançar a sua nova coleção cápsula de Primavera/Verão 2022 e estamos todas curiosas para descobrir mais sobre a mesma.
Para saber mais sobre a DONNA NOIR e esta nova coleção, falámos com Margarida Gonçalves, designer e fundadora da marca.
Como é que nasceu a DONNA NOIR?
A DONNA NOIR nasce como que em forma de representatividade do que considero ser o meu alter ego, e como me expresso através da construção de fatos sem género.
“A imagem de uma mulher forte, confiante, arrojada e sensual que se afirma através da sua postura inquebrável”
Era um sonho antigo?
Eu não diria sonho, mas acho que estava destinado mais cedo ou mais tarde… Tenho a certeza que este seria sempre o meu caminho inevitavelmente. E esta jornada está apenas a começar, portanto espero ser capaz de me superar a cada dia e trazer o melhor de mim para as peças que crio e as histórias que conto.
Quando nos apresenta os conceitos de corpo biológico e corpo social e os traz para o mundo da moda, bem como a necessidade de quebrar paradigmas, isto está representado de que forma nesta coleção?
A velha máxima, de que eu sou os “eus” que quiser ser, é soberana, e portanto a liberdade de escolha em vestir sem olhar a rótulo de género é a história que quero contar. Imaginar entrar numa loja e não ter rotulado secção homem/mulher, menino/menina é o maior símbolo de liberdade de escolha onde não existe espaço para sentimentos de vergonha ou até mesmo de condicionamento social. A long way to go, mas chegaremos.
Porquê a escolha de apontamentos em amarelo torrado, verde lima e o padrão zebra?
A coleção cápsula que apresentei no Dubai, foi uma apresentação artística minha exclusiva para o RUNWAY Dubai, com quem já tinha boa relação desde 2019. Modupe é a fundadora do evento e tem feito um trabalho brilhante na área da moda nos UAE’s e portanto surgiu esta oportunidade como designer emergente fora dos Emirados árabes. O conceito do RUNWAY DUBAI 2021, pós pandemia, foi precisamente “COLORS” em forma de representar a vida, energia e o voltar aos palcos e assim foi, reaproveitei materiais em stock e criei homogeneidade na coleção para que entre si houvesse harmonia e a mensagem num palco com côr e atitude.
Porquê a escolha do Dubai para apresentar a sua coleção cápsula?
É indiscutível o meu interesse pessoal na escolha para levar avante o meu primeiro desfile. Já visitei o Dubai algumas vezes, e a última em 2019 com objetivo claro de perceber como funciona a moda e também a questão dos wholesalers, o que me levou a ir aos desfiles da semana da moda e também a Deira, a zona de todos os retalhistas de tecidos e acessórios, para além de também participar na feira internacional de têxteis do Emirado. Eu vejo o Dubai como um mercado em ascensão e com sede de consumir o que vem de fora, bem como capacidade económica superior e muito virados para uma vaga de designers radicais.
“Foi aí que decidi ser feliz, e fazer o que mais gosto num dos sítios em que mais gosto de estar”
Esta coleção representa o seu estilo?
Esta “coleção”representa a DONNA NOIR naquele momento e aquilo que me comprometi a fazer enquanto missão pessoal. Em um mês criei 8 coordenados, abdiquei de uma opção de coordenado em last minute porque sabia que não me iria ser permitido vestir no sexo masculino. E avancei com o conceito genderless ainda que muito do meu toque feminino à mistura.
“O mote para esta apresentação foi a liberdade de escolha sem repressão, onde acredito que quer homens ou mulheres devem ser livres de usar calças ou saltos altos se assim o entenderem”
Este statement foi publicado em alguns media do Dubai quando me apresentavam enquanto designer de fora, e aqui sim é o sentimento de missão cumprida. Por mais pequeno que seja o passo em direção à mudança, a soma de todos esses pequenos passos fazem a diferença.
Que mensagem pretende passar com esta coleção?
A mensagem foi direcionada para o Dubai, portanto fui “leve” e um “quê” de condicionada pelas restrições culturais especialmente no que diz respeito às roupas para homens, porque ainda que se trate de um espectáculo de moda, nem tudo é permitido e tendo ilustres locais como convidados especiais existe muita limitação no que diz respeito à leitura que se faz da pessoa do sexo masculino. A primeira observação dos manequins homens foi, “mashallah Margarida!!!” e mal vestiram as peças que lhes atribuí houve um twist imediato e tal foi a minha satisfação ao vê-los a adorarem ter as roupas vestidas. Não há melhor sensação que essa.
Tem alguma peça favorita? Se sim, qual?
A peça que levei para esta coleção e até aparece em dois coordenados, ainda que sofrendo transformações, são as calças “vaqueiro”.
“É a minha favorita e foi sem dúvida a mais impactante no desfile”
Onde é que poderemos encontrar a coleção?
As peças apresentadas com os tecidos usados no desfile não vão ser continuadas. No entanto a coleção para este verão 22, vai ter silhuetas muitos semelhantes mas com looks mais descontraídos.
A ideia é manter o ADN da marca, com os fatos “edgy”, desconstruídos e sem género?
Fatos vão ser sempre, creio, as peças chave da DONNA NOIR, aquelas em que especialmente vou querer desenvolver, aprofundar e melhorar em termos técnicos por forma a vestirem o melhor possível corpos de sexos diferentes, conferindo o maior conforto possível, sempre associado a uma maximização da sensualidade e irreverência que trago na construção ou desconstrução do fato clássico de homem.
Créditos:
Creative Direction: Margarida Gonçalves e Rúben Branches
Foto: Rúben Branches
Styling: Carolina Cota
Make up: Filipa Villar
Modelos: Daniela Leiria & Ricardo Gomes – Blast Models