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Um português em Londres

O que têm em comum Beyoncé, Kate Moss, Ricky Martin, os Scissor Sisters e as Bananarama? Um maquilhador português, de 37 anos, a viver em Londres.

Fábio Gomes, um apaixonado nato pela maquilhagem e por tudo o que esse mundo envolve, deixou o curso de moda a meio e decidiu seguir o seu sonho. Saiu de Portugal aos 19 anos, foi para a capital britânica, apostou em formação e, com muita força de vontade, tornou-se um dos maquilhadores mais conhecidos em terras de Sua Majestade. Agora completa a segunda parte desse sonho com a criação da sua própria linha de produtos de cosmética, a Ptah. Falámos com ele. Conheça um pouco da sua história.

Como é que é trabalhar com pessoas como Kate Moss e Beyoncé, Ricky Martin, Forest Whitaker, os Scissor Sisters e as Bananarama?

É super divertido! Temos um bocadinho aquela sensação de serem pessoas quase que intocáveis, mas quando estamos em frente delas percebemos que não é nada assim, é quase como quebrar um mito… E um grande privilégio poder trabalhar para elas. E, profissionalmente, poder fazer trabalhos desse nível é ótimo, porque absorvemos muita informação, aprendemos imenso!

Sempre quis ser maquilhador?

Não foi logo a primeira coisa que eu quis ser. Na escola, a minha cadeira favorita era arte… Pintar e moldar peças em barro, por exemplo, sempre foi o que me deu mais prazer. Depois, quando comecei o curso de moda, foi quando tive contacto com o mundo da maquilhagem e apaixonei-me. Apesar de ter começado a trabalhar em cabelos, a pentear e a secar, sempre que via desfiles e editoriais de revistas, fixava-me nos rostos das modelos e então questionava-me: “Se eu trabalho em cabelos, porque é que os meus olhos de fixam nos rostos?” Penso que foi aí que percebi que havia algo que me puxava e que era mais forte…

Não chegou a concluir o curso de moda… Ainda espera concluí-lo?

De maneira alguma! Na altura, o facto de ter frequentado o curso foi muito importante porque me permitiu abrir horizontes. Foi uma experiência enriquecedora que nunca vou esquecer e cujos ensinamentos ainda trago comigo… Por exemplo, adoro coser e, de vez em quando, faço coisas diferentes… Ultimamente, tenho feito mais bolsas de couro, adoro!

Porquê Londres para viver e trabalhar, e não Lisboa?

Porque quando comecei a trabalhar havia pouca oferta em Lisboa. Hoje, passados tantos anos, quando regresso fico super contente de ver o quanto Lisboa cresceu.

Já fez trabalhos como make-up artist e hair stylist em modo freelancer, da Vanity Fair à Vogue espanhola, do videoclipe ‘Sexy Back’ de Justin Timberlake a anúncios da Chanel e da Bulgari, da London Fashion Week aos Jogos Olímpicos… Como é que se deu a escalada para o sucesso? Foi difícil? O que é que exigiu de si?

Foi difícil e, pelo caminho, tive de arriscar e de me atirar de cabeça em algumas ocasiões! Quando olho para trás, fico orgulhoso por ter arriscado e ter acreditado em mim próprio e no meu sonho. Acho que jamais estaria aqui hoje se não tivesse passado por tudo o que passei. O que é que exigiu de mim, esse percurso? Eu diria muita força interior e perseverança.

Quais foram os principais desafios no início?

São, literalmente, 20 cães a um osso! Como eu, existe mais um milhão de maquilhadores em Londres… Portanto, difícil é fazermo-nos destacar e conseguirmos ‘furar’ um caminho.

E hoje?

Hoje em dia, o mais complicado será manter os níveis de exigência e sucesso alcançados, porque temos sempre alguém a ver o nosso trabalho. Um erro que possamos cometer será algo que dificilmente é esquecido.

E a Ptah, como é que surgiu? Porquê o nome?

Achei que funcionaria bem, primeiro por ser o deus egípcio da criação e patrono dos artesãos, depois pelo epíteto ‘Ptah of the beautiful face’. Existe uma conexão que não consigo explicar entre o Egito e eu. Adoro ver documentários e fico fascinado com a história daquele país. Acho que tudo isso acaba por encaixar com a Ptah… Até alguns óleos, como, por exemplo, o de moringa, já eram usados pelos egípcios para fazer produtos de beleza. Portanto, toda essa ligação faz sentido para mim.

Como é que nasceu esta nova linha de produtos seus?

As marcas enviam-me sempre muitos produtos para experimentar, mas nunca achei que fossem demasiados… [risos]. Para mim, os produtos de beleza são um vício, como são, para outras pessoas, os sapatos ou as malas. E então a ideia foi fazer eu próprio determinados produtos, mas numa versão o mais natural possível.

Foi um objetivo alcançado?

Até agora, sim! Daqui para a frente ainda tenho ideias que gostaria de concretizar, mas para já ficam em segredo…

É tudo “o mais natural possível”… Porquê?

O que é que é preferível comer: comida fresca e natural, que nos faz sentir muita vitalidade, ou fast food, que traz o sentimento oposto, onde o corpo parece resmungar de mau humor? A pele deve ser tratada com o mesmo respeito com que se trata o coração ou os pulmões. É importante ter em conta que tudo o que se aplica na pele é absorvido, à exceção dos óleos minerais, que são feitos a partir de petróleo. Daí que seja importante que os meus produtos sejam o mais natural possível.

Havia falta destes produtos no mercado?

Absolutamente. São poucas as marcas que comercializam este tipo de produtos e muitas não chegam a todos os países… E com um serviço tão personalizado, nunca vi nenhuma! Mais do que nunca, há mais procura, mas as pessoas não sabem onde procurar ou o que comprar… Uma preocupação que tenho é a de conseguir manter sempre um contacto direto com os clientes: as pessoas podem falar comigo, tirar dúvidas ou até mesmo mudar um pouco a fórmula de um determinado produto se tiverem algum tipo de alergia, por exemplo. Depois, há outro aspeto interessante e que me parece crucial que é o facto de haver pouca honestidade na publicidade, por vezes, sendo as pessoas induzidas a comprar um determinado produto que depois não funciona… E eu quero contrariar isso com a minha loja.

Espera um dia vir para Portugal e criar cá uma loja?

Sim, o meu próximo objetivo é criar um espaço em Portugal com uma equipa de pessoas locais que me ajudem a divulgar os meus produtos e a distribuir depois pelo resto do mundo.

Saiba mais sobre Fábio Gomes.

Imagens: desfile Brooke Roberts, London Fashion Week

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