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Gelados artesanais por paixão

Ana Ferreira é licenciada em Arquitetura e Engenharia Civil e exercia ambas as profissões. Cansada da rotina e da monotonia e porque sentiu que “faltava emoção e a verdadeira paixão pelo trabalho”, decidiu, um dia, arriscar, e agarrar um novo desafio. Assim nasceu a 1927 Gelataria Portuense , uma nova casa de gelados artesanais no Porto. Aqui , pode deliciar-se com os tradicionais sabores clássicos , com sabores de coleção – criados por um atelier responsável pela elaboração de receitas únicas – e com menus de degustação , onde é feita uma harmoniosa seleção de sabores para uma experiência inesquecível!

E nada é deixado ao acaso: os ingredientes são fabricados aqui mesmo, os gelados são feitos diariamente e as receitas são, todos os dias, apuradas.

Falámos com a mentora do projeto, para tentarmos perceber como tudo começou…

Porque decidiu mudar de vida?

“Olhando para trás, penso que foi a monotonia. Faltava emoção e a verdadeira paixão pelo trabalho. Agora, todos os dias, tenho novos desafios que me motivam a querer continuar e a querer fazer cada vez mais e melhor. Em 2015, era investigadora na área da energia, gostava bastante do que fazia… Aliás, em toda a minha carreira a qualidade do meu trabalho, sempre foi o mais importante para mim. Mas, muitas vezes, não é assim que o mercado funciona. Os trabalhos são mais motivados pelo lucro do que pelo valor dos seus resultados. Isso incomodou-me e fez-me desmotivar. Os meus antigos colegas dizem que tive uma ‘epifania’! [risos] Certo dia pensei: ‘o que estou aqui a fazer, sentada numa cadeira 8h por dia a olhar para um computador?’ Percebi que queria mais!”

Como nasceu a Gelataria Portuense?

“Provavelmente a Gelataria Portuense sempre existiu na minha mente, mas estava muito escondida. A paixão pelo ‘gelato’, o verdadeiro gelado italiano, como produto de excelência, é muito antiga. Depois de ter regressado de Itália e de ter continuado o meu percurso profissional aqui em Portugal, apercebi-me que, para comer um ‘gelato’, teria que voltar a Itália, aqui não havia! Foi assim que percebi que era isso que queria fazer: o verdadeiro ‘gelato italiano’. Pensei: ‘temos de ter isto no Porto, é um produto fantástico, permite um processo de criação constante e pode ser feito de forma a que os Portuenses se identifiquem com os seus sabores.’ A ideia, foi criar um espaço dedicado aos Portuenses, ser a melhor gelataria da cidade e permitir a degustação de gelados feitos com produtos locais. Depois, foi seguir todo o processo de criação de uma empresa: andar na rua a fazer estudos de mercado, investigar na área de gestão para fazer o plano de negócios, conceber a marca, definir o conceito e, finalmente, arranjar financiamento.”

O que a distingue das demais casas de gelados?

“Acho que sou eu… A minha vontade de fazer tudo bem feito. A minha vontade de ser a melhor. Ser melhor é ir buscar os ingredientes locais, usá-los frescos, não usar aditivos, manter os gelados escondidos em pozzettis (pequenos poços no balcão), de forma a garantir a sua qualidade, ainda que isso implique ter uma venda mais difícil… As pessoas não percebem, acham que estou a “tentar esconder alguma coisa”. É ter a vontade de trabalhar, localmente, com empresas do Porto. A TastePorto é uma delas. Trazem cá os turistas para aprenderem a fazer gelado de vinho do Porto, por exemplo. Eles ficam encantados e, para mim, é uma experiência única! É ter esta vontade imensa de falar de gelado, de explicar porque é que o gelado italiano é tão cremoso – ainda que tenha menos gordura – e porque é que, para mim, gelado sem açúcar não existe, não passam de manobras de marketing. O consumidor deve fazer uma compra informada, mesmo que seja um simples gelado. Os nossos produtos são feitos na loja, por nós. Fazemos as nozes caramelizadas, os toppings, as compotas de fruta, o caramelo. Não usamos produtos pré-preparados, nem processados. Trabalhamos com a ‘Ferrari’ das máquinas de gelado, A Effe da Cattabriga, a primeira máquina construída para a produção de gelado, em 1927. Não armazenamos gelado, ele é feito fresco, diariamente, na loja e tudo à vista do cliente. Queremos ser genuínos.”

O que se revela mais desafiante neste novo projeto?

“Rodear-me das pessoas certas, que me ajudem a fazer crescer o negócio e que partilhem a mesma visão que eu. Sei que tenho um produto excecional e tenho uma visão de onde quero chegar e a certeza que o vou conseguir! É difícil transmitir isso… Aprendi que as pessoas não estão dentro da minha cabeça a ver o cenário como eu o vejo. Para mim, as dificuldades são só obstáculos que eu tenho que ultrapassar. Encontrar soluções para os problemas é algo que me motiva, que me desafia e que me mantém no meu caminho. Descobri que sou persistente. Mas trazer outros comigo, fazê-los partilhar da minha paixão, é a parte mais difícil.”

Tem saudades da ‘vida antiga’?

“A única coisa que me faz olhar para trás é o tempo que tinha para estar com os meus filhos. Agora, o tempo corre é preciso coordenar tudo muito bem, para garantir que eles não sentem a minha falta. Troquei um pouco a quantidade pela qualidade. Quando estou com eles, não penso em mais nada.”

Desistiu da arquitetura e da engenharia?

Da arquitetura comercial, sim. Aquela que fazia para me poder sustentar. Porque se perde muito a liberdade criativa. Continuo apaixonada pela arquitetura e tento manter-me atualizada com o que se vai passando e continuo a ter os meus livros e a vontade de ir visitar as grandes obras que me marcaram. Isso está tudo nos meus planos, mas para já a Gelataria exige muito de mim.

Qual o seu gelado preferido?

“Principalmente, o gelado fresco, acabado de fazer. Já estou mal habituada. Nada se compara à cremosidade de um gelado acabado de fazer. Um dos sabores que mais me marcou foi o gelado de Porto Tawny, pela dificuldade de dar sabor ao gelado com um ingrediente com 20º de álcool. O álcool deixa a mistura muito instável e impede a congelação da mesma. Ainda que esteja satisfeita com o resultado, um ano depois, continuamos a retocar a receita e a experimentar diferentes tipos de vinho do porto para encontrar a combinação perfeita!”

Sempre foi amante de gelados?

“Adoro gelados! Desde pequena. Mas só conheci o gelato quando estive em Itália a fazer o último ano da faculdade. Comia gelados a toda a hora e voltei para Portugal com a noção que só voltaria a ter aquela experiência quando regressasse a Itália. E foi o que fiz, regressei muitas vezes de férias e para matar saudades do ‘gelato’. A melhor fase da minha vida foi quando fui aprender e trabalhar com Giacomo Schiavon, o meu mestre ‘gelatiere’. É uma pessoa fantástica e ensinou-me tudo o que sei sobre o gelado italiano. Estar com ele em Bolonha a fazer gelados, todo o dia, esquecer as horas de regressar ao hotel, só para poder continuar a trabalhar e desenvolver novos sabores, foi uma experiência única! Aprender a ciência por trás do gelado, porque na realidade é um produto muito sensível, permitiu-me ter liberdade para explorar as receitas e alterá-las segundo as minhas ideias. E foi isso que eu quis trazer para o Porto. Quando entra alguém na loja e fica deliciado com o sabor que prova, tenho o dia ganho! Esse feedback das pessoas e a boa disposição à volta de uma gelataria é a melhor parte do meu trabalho!”

Morada : Rua do Bonjardim, 136, Porto

Tel. : 222 423 223

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