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Mais vacinas, mais qualidade de vida?

Segundo a Vaccines Europe, a imunização através da vacinação salva até 5 milhões de vidas em todo o mundo anualmente ao prevenir doenças infeciosas. Além disso, mais de 1,5 milhões de mortes seriam evitadas se houvesse uma melhor cobertura de vacinação global. Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde assinala a Semana Mundial da Imunização, que este ano se realiza entre os dias 24 e 30 de abril. A campanha deste ano foca-se na melhoraria da aceitação das vacinas no contexto da Agenda Europeia de Imunização 2030 e em contrariar o retrocesso global nas taxas de vacinação devido à pandemia de covid-19.

Este tema tem cada vez mais relevância, principalmente, quando olhamos para o aumento da esperança média de vida. Para percebermos a importância da vacinação nas pessoas mais velhas  falámos com Margarida Monteiro, Especialista em Medicina Interna no Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, e Joana Vasconcelos, Infeciologista.

A vacinação melhora a qualidade de vida?

Margarida Monteiro: As doenças infeciosas são uma causa significativa de morbilidade e mortalidade, sendo que muitas destas doenças são preveníveis ou os seus efeitos possivelmente minimizados através da vacinação. A vacinação é, assim, uma forma simples e eficaz de nos protegermos. As vacinas ativam as nossas defesas naturais e fortalecem o nosso sistema imunitário, protegendo-nos contra infeções graves que podem ser incapacitantes ou mesmo mortais. Desta forma, as vacinas são responsáveis por salvar milhões de vidas por ano, evitando complicações graves associadas a estas doenças, sendo por isso dos avanços mais importantes da medicina moderna. 

Joana Vasconcelos: A vacinação foi um dos avanços mais notáveis da Medicina, com maior repercussão na qualidade de vida das pessoas. Individualmente, a vacinação previne a aquisição (ou progressão para formas mais graves da doença) de múltiplas doenças que podem ser graves e incapacitantes como o tétano, a doença pneumocócica invasiva, a zona e a poliomiolite. Protege-nos ainda de doenças potencialmente fatais, para as quais estamos suscetíveis quando viajamos para zonas endémicas (como a febre amarela, a raiva e a encefalite japonesa). Por outro lado, coletivamente, atingindo imunidade de grupo, é possível proteger as pessoas mais vulneráveis da sociedade, como as crianças, os imunodeprimidos, as grávidas e os idosos.

Dra. Margarida Monteiro

Margarida Monteiro, Especialista em Medicina Interna no Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca

As pessoas mais velhas devem vacinar-se para prevenir que doenças?

Margarida Monteiro: Vários estudos demonstram que após os 60 anos os níveis de anticorpos contra determinadas doenças estão abaixo do limiar da proteção. Para a idade adulta, o Programa Nacional de Vacinação inclui apenas a vacina contra o tétano e a difteria. No entanto, são fortemente recomendadas a vacinação contra a gripe, contra a pneumonia, contra a COVID-19 e contra a zona (vírus herpes zoster). Todas estas vacinas assumem particular importância na população idosa, não só pela frequência destas doenças, mas também pela sua gravidade e complicações associadas.

Há uma tendência por parte dos mais velhos em evitar a vacinação? 

Margarida Monteiro: Por vezes a população mais idosa tem alguma reticência em vacinar-se, habitualmente por fatores relacionados com crenças, mitos, preconceitos, inseguranças e falta de informação e orientação. Todos estes fatores levam a uma noção pouco realista da possível gravidade e das possíveis complicações inerentes às doenças, como também da eficácia e segurança das vacinas. Muitas vezes acreditam, erradamente, que certas doenças não são suficientemente graves ou incapacitantes que impliquem o risco de possíveis efeitos adversos e, por outras, acreditam mesmo que tais vacinas não são eficazes.

Joana Vasconcelos: Muitas vezes por descrença nas vacinas, receio de reação vacinais graves ou mesmo inércia. Estes sentimentos são muitas vezes fomentados por ausência de informação, pela própria natureza preventiva da ação, que a protela e dá-lhe uma dimensão “menos urgente” (vacinamo-nos quando não estamos doentes) e ainda por falsas notícias. Ainda, muitas vezes, há a expectativa errada: por vezes o benefício da vacina está na prevenção de formas mais graves da doença, como por exemplo a gripe, e não na completa imunização e prevenção da mesma.

Joana Vasconcelos, Infeciologista

Joana Vasconcelos, Infeciologista

Que medidas devem ser tomadas para alertar esta faixa etária da importância da vacinação?

Margarida Monteiro: Programas específicos de sensibilização para a necessidade, eficácia e segurança da vacinação são de extrema importância, não só dirigidos para os idosos como também para os seus cuidadores e familiares. Estes programas podem ser veiculados através de profissionais de saúde competentes, mas também através de meios de comunicação social. Essas campanhas devem sensibilizar para o facto de as doenças infeciosas poderem não só reduzir a esperança média de vida, como também terem o potencial de aumentar a incapacidade funcional, principalmente nas pessoas mais idosas, com consequente deterioração do seu estilo de vida, independentemente de viverem no domicílio ou em instituições. Os profissionais de saúde, em particular, devem estar capacitados e consciencializados para atuar não só na fase de doença mas sobretudo na sua prevenção e promoção da saúde, esclarecendo dúvidas e questões.

Os familiares têm um papel importante? O que podem fazer?

Margarida Monteiro: A família tem um papel fulcral na sensibilização acima mencionada, dado que são a maior rede de apoio social e emocional destes doentes e são também eles muitas vezes cuidadores, principalmente nos casos de dependência. Têm um papel na disponibilização da informação e a desfazer mitos, mas devem principalmente dar o exemplo e vacinarem-se eles próprios, dado que a vacinação funciona melhor quando se vacina o maior número de pessoas possíveis e isso começa no seio familiar.

Joana Vasconcelos: Sim, muitas vezes a população mais velha tem em consideração a opinião dos mais jovens: os seus filhos, netos, cuidadores… Estes devem estar particularmente sensibilizados para a sua fragilidade e vulnerabilidade, e informados quanto às opções vacinais disponíveis.

Que mitos devem ser desmistificados?

Margarida Monteiro: Há vários mitos em relação à vacinação, a grande maioria relacionados com a falta de procura de informação. Um dos principais mitos prende-se com a segurança das vacinas. Importa clarificar que as vacinas são relativamente inócuas e, ainda que possam produzir alguns efeitos secundários, estes são habitualmente leves e temporários. Todas as vacinas autorizadas são submetidas a testes rigorosos e exaustivos, ao longo de diversas fases, e mesmo quando são comercializadas a sua eficácia vai sendo avaliada com regularidade pelas entidades competentes, sendo que cada efeito adverso grave é minuciosamente investigado e documentado. Outro grande mito que existe é sobre a relação da vacinação com o autismo. Não existem provas, após vários estudos realizados, que demonstrem esta relação causal, não só entre o autismo como entre qualquer outro transtorno do espectro. Depois, há sempre vários outros mitos, ainda com menor fundamento científico, tais como o aumento da ocorrência global de casos de cancros (sendo que algumas vacinas até são usadas para os prevenir); que muitas das doenças evitáveis pela vacinação estão praticamente erradicadas, pelo que não vale a pena as pessoas vacinarem-se (sendo que, no entanto, estas doenças ainda existem, como, por exemplo, o sarampo, atualmente com ressurgimento de surtos por menor adesão da população à vacinação); entre outros, que devem sempre ser esclarecidos e desmistificados.

Joana Vasconcelos: Acima de tudo, devem ser enfatizados o seu benefício e o impacto dramático que a vacinação tem tido na vida de milhões de pessoas. É importante reconhecê-la como uma das medidas mais eficazes no combate a múltiplas doenças transmissíveis. É importante também clarificar que as vacinas são extremamente eficazes, reconhecendo a raridade dos efeitos adversos graves reportados. Deve ser igualmente assumido, não apenas o seu valor para o indivíduo, mas para a sociedade onde este se integra, nomeadamente, como referido, os seus elementos mais frágeis e vulneráveis. O utente deve ser informado de tudo isto, bem como do que esperar (individual e coletivamente) do ato de vacinação, para que não tome decisões com base em crenças ou convicções, mas sim decisões fundamentadas na evidência científica atual.

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