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Morreu a fundadora da Zara

Rosalía Mera, cofundadora da Zara, morreu ontem, aos 69 anos, depois de sofrer um derrame cerebral enquanto passava férias em Maiorca. Considerada pela revista Forbes a mulher mais rica de Espanha, depois de, no último ano, o grupo Inditex ter duplicado o seu valor em bolsa, a galega Rosalía Mera nunca esqueceu as suas origens humildes, tendo apoiado publicamente causas mais ligadas ao imaginário político da esquerda. Parece uma contradição, mas se olharmos para as transformações que a Zara operou na maioria dos mercados em que hoje está presente, podemos descobrir uma espécie de consciência social como filosofia das marcas Inditex. Qual? A igualdade de oportunidades.

Em 1988, quando a Zara abriu a sua primeira loja em Portugal, na Rua de Santa Catarina, no Porto, a moda era um marcador social forte. Havia lojas que vendiam roupa de boas marcas, com bons cortes e bons materiais, inevitavelmente cara e inacessível à maioria da população e, depois, havia lojas de bairro que vendiam roupa desatualizada. A Zara lançou roupa com bom desenho e bom corte a preços comportáveis para um grupo muito mais alargado de pessoas. O sucesso da marca foi imediato: a segunda loja abre na Rua Augusta, em Lisboa, e as restantes vão abrindo a par do crescimento económico do País dos anos 90. A Zara veio tornar a moda e as tendências sazonais possíveis de usar às pessoas de rendimentos médios e, com isso, as diferenças sociais de aparência diminuíram, diminuindo também a desigualdade de oportunidades.

Hoje a marca conta com mais de 70 lojas em Portugal e o grupo Inditex detém mais de 200 pontos de venda das marcas Pull & Bear, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home, Massimo Dutti e Uterqüe. A Portugal, mercado inicial para a internacionalização do grupo galego, seguiram-se outros mercados que retribuíram em euros, libras, dólares e ienes o acesso a roupa desenhada segundo as tendências. As vendas da Inditex ascendem hoje a mais de 20 mil de milhões de dólares em tudo o mundo. A democratização da moda é apreciada em todos os mercados, de Portugal à China.

Não se pode dizer que Rosalía Mera tenha sofrido muito de discriminação ou, pelo menos, que a discriminação social lhe tenha travado o passo. É certo que nasceu pobre na Galiza, em 1944, ao ponto de deixar a escola aos 11 anos para ir trabalhar como costureira, mas isso não a impediu de construir uma fortuna. Já casada Amancio Ortega Gaona, hoje o maior acionista do grupo Inditex, começou por criar roupa na sua sala de estar. Em 1975, abriram juntos a primeira loja da Zara, na Corunha natal, e em 1986 separam-se, mas Rosalía manteve uma posição acionista de 7%. Em 2013, figura nas listas da Forbes como a mulher mais rica de Espanha, e na sua ficha de identificação lê-se “origem da fortuna: Zara, self-made”.

Rosalía Mera investiu noutros setores além da indústria têxtil, como o turismo, a investigação do cancro e da doença de Alzeimer e criou a Fundação Paideia para a integração na sociedade de pessoas com deficiência, que desenvolve trabalhos também noutras áreas. Manteve um estilo de vida discreto, vivendo na cidade onde nasceu numa casa sem opulência, frequentando o comércio tradicional e assistindo a jogos de futebol do seu clube preferido. Morreu aos 69 anos, numa clínica privada da Corunha, depois de ser transportada de avião desde Maiorca, onde passava férias com a família quando sofreu o derrame cerebral.

Sobre as convicções de esquerda:

“Quando se nasce nas circunstâncias em que eu nasci, não se pode ser outra coisa.”

Sou uma sem classe social. Mas se tenho de me identificar, identifico-me muito mais com o contexto que foi o meu mundo quando nasci e do qual não quis sair muito, porque me alimenta e me sustenta.

Sobre o movimento dos indignados:

“Os níveis de corrupção tão amplos, são de muitas formas e de muitas cores. Temos de nos manifestar e de dizer: ‘Assim, não.”

Sobre a austeridade:

“Os cortes nos âmbitos da saúde e da educação fazem um fraquíssimo favor à sociedade. Não se pode ir à parte mais fácil e cortar por baixo, não podemos deitar pessoas fora.”

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