

Com a convicção de que as mulheres merecem sentir-se sensuais, livres e plenamente confortáveis, independentemente da fase do seu ciclo menstrual, nasceu a Norm. Fundada pelas irmãs Ana Cristina e Ana Patrícia Faria, em parceria com Catarina Barreiros, esta marca de cuecas menstruais veio revolucionar o segmento da roupa íntima absorvente.
Norm
Em 2020, Ana Cristina Faria conheceu Catarina Barreiros, a propósito da sustentabilidade. A fundadora da Puranna, uma marca de têxteis para o lar que criou com a irmã Ana Patrícia, procurou a criadora de conteúdos e fundadora do Projeto Do Zero, um projeto de comunicação para sustentabilidade, para fazerem uma parceria. Foi durante um encontro, numa altura em que Catarina se deslocou até ao norte – de onde são naturais as irmãs Faria-, que as três perceberam que todas utilizavam cuecas menstruais. Apesar de gostarem deste método, partilhavam dos mesmos problemas: as cuecas não eram bonitas e os materiais não eram os melhores ou os mais sustentáveis.
“Não eram tão bonitas… as cuecas eram grandes, tinham o propósito delas, mas nós não nos sentíamos propriamente bem. E, depois, os próprios materiais podiam ser muito melhores, mais sustentáveis e ainda mais confortáveis”, contam as fundadoras.

Os modelos Antónia, Letícia, Bárbara e Carmo, em burgundy. Créditos: Hugo Nogueira
Procuravam, então, cuecas menstruais que fossem sustentáveis, confortáveis e bonitas. A lacuna no segmento da roupa íntima absorvente e a crença de que conseguiam “fazer uma coisa diferente, uma coisa melhor”, fez nascer em dezembro de 2023 a Norm.
Três anos foi o tempo de que precisaram para passar da teoria à prática. Depois de perceberem onde estava o problema, começou a busca pelo país à procura de fábricas e a fazerem protótipos.
“Nem sei quantos protótipos é que nós fizemos, mas ficámos dois anos inteiros a desenvolver, dois anos inteiros só a fazer, a ir a fábricas, a experimentar protótipos e a ver tecidos”.
Um caminho atribulado, mas que no final, permitiu o lançamento de um produto que tinham a certeza de que era bom.
“Isto foi um caminho muito atribulado, mas a verdade é que depois de quando lançámos, tínhamos a certeza que era um produto mesmo bom. Fizemos todos os testes, e nós já éramos utilizadoras de praticamente todas as marcas de cuecas menstruais que existiam, portanto, depois quando lançámos, lançámos com muita segurança”.

As cuecas Antónia em preto. Créditos: Hugo Nogueira
Feitas de em Lyocel, com renda reciclada e interior em algodão orgânico, as cuecas menstruais da Norm não marcam na roupa e têm a capacidade, dependendo do modelo, de absorver o equivalente a dois ou três tampões. Até agora, existem cinco modelos diferentes que ganham o nome de mulheres que inspiram, de alguma maneira, as fundadoras da marca: Carmo, em homenagem a Carmo de Sousa Lara; Bárbara, em homenagem a Bárbara Almeida Rosa; Helena, em homenagem a Helena Antónia Silva; Antónia, em homenagem a Antonia Mussache; e Letícia, em homenagem a Lelê.

Créditos: Hugo Nogueira
“Nós usámos mulheres que nos inspiram de alguma maneira, quer a nível de empoderamento feminino, quer a nível de empreendedorismo, quer a nível de sustentabilidade”
Quanto ao seu tempo de vida, a fábrica dá a garantia de 2 anos. Porém, as fundadoras afirmam que têm as cuecas há 4 anos e que estas continuam a absorver. Claro que depende dos cuidados que tem com as mesmas: deve enxaguar e esfregar antes de as colocar na máquina de lavar, para que o sangue saia e estas não manchem o restante das roupas; depois, sem usar amaciador, lave até 30°C; posteriormente, deixe secar muito bem.
As peças da Norm estão disponíveis na loja online, em normperiod.com.
Por detrás de um grande projeto, estão três grandes mulheres

Ana Patrícia Faria, Ana Cristina Faria e Catarina Barreiros (da esquerda para a direita)
É na interação humana e na procura por soluções mais sustentáveis e conscientes que Ana Cristina Faria encontra inspiração. O que a motiva é criar alternativas práticas que respeitem o ambiente, valorizem as pessoas e promovam um impacto positivo no mundo que nos rodeia. Foi, por isso, que há 5 anos fundou a Puranna, uma marca de têxteis para o lar que reflete o seu compromisso em produzir de forma consciente e ética. A esta, juntou-se a Norm que, segundo a empreendedora, reflete tudo aquilo em que acredita: propósito, criatividade e ética para transformar ideias em soluções práticas, inovadoras e significativas.
“Trabalhar neste projeto tem sido uma oportunidade de crescer como pessoa, como empreendedora, e perceber a importância de trabalhar em equipa para criar mudanças duradouras”, diz Ana Cristina.
Ana Patrícia Faria, nutricionista com experiência na área clínica, tem um grande interesse por temas ligados à saúde feminina e à sustentabilidade. Durante a sua trajetória, percebeu que o bem-estar físico e emocional estão diretamente ligados às escolhas que fazemos diariamente, tanto para o nosso corpo como para o planeta. Depois de ter vivido 10 anos no Brasil, regressou a Portugal e surgiu a oportunidade de co-fundar a Norm. Um projeto que traduz os seus “valores num produto que não só ajuda as mulheres a enfrentarem os desafios da menstruação e perdas urinárias de forma prática e elegante, mas que também reflete um compromisso com escolhas mais conscientes, éticas e responsáveis”.
Catarina Barreiros é uma mulher com “demasiados interesses”. Algo que, ao longo da vida, se traduziu em “tentar mil e uma coisas diferentes”: trabalhou como community manager aos 18 anos, numa empresa de moda; fez styling de moda e chegou a ter um blog; deu aulas de piano a crianças e adultos; trabalhou na caixa de uma loja de roupa, entre mestrados (arquitetura e gestão); foi stylist e passou pelo departamento de marketing digital de uma empresa portuguesa de luxo; e, o último emprego que teve antes de criar o seu projeto, foi numa farmacêutica, em marketing digital. Em 2018 criou uma página de Instagram sobre sustentabilidade e, em 2019, a página tornou-se o projeto Do Zero, que veio a ter site, podcast, redes sociais e ainda um evento de sustentabilidade (Cidade Do Zero). No final de 2023, o sonho de criar a Norm ganhou vida e tem sido, segundo a própria, um projeto que a tem “preenchido muitíssimo”.
“A única coisa que sempre soube, é que queria fazer algo com a minha vida, que me deixasse feliz durante o dia e tranquila durante a noite. Acabei, quase por acaso, a tropeçar nos temas da sustentabilidade há cerca de sete anos e, desde então, foi uma paixão que nunca se apagou. Por isso, peguei nesse interesse e tornei-o na minha profissão: comunicação para a sustentabilidade”, afirma Catarina Barreiros.
O que é que o futuro reserva?
Para o futuro, depois de vários pedidos, a Norm pretende lançar biquínis e fatos de banho menstruais. Estes vão “manter o padrão Norm”, ou seja, para além de cumprirem a função de absorverem, também prometem ser muito giros.
“Para ir um bocadinho mais ao encontro dos diferentes tons de pele”, está também nos planos das fundadoras o lançamento de novas cores nos modelos já existentes. Trazer um bestseller de volta, o sutiã de amamentação, é também um desejo para o futuro.