Quando pensamos em nutrição, é fácil imaginar tabelas de alimentos, doses de ferro e vitaminas. Mas as crianças não se alimentam apenas de comida. Elas também se alimentam de olhares, palavras, gestos e da atmosfera, de preferência tranquila, que respiram à mesa.
Podemos preparar o prato mais equilibrado do mundo e, ainda assim, deixar uma criança “faminta” de ligação. Nutrir é oferecer alimentos, sim, mas também aquilo que não se mede em colheres: presença, segurança, liberdade e alegria.
1| Presença que sustenta
Mais do que controlar cada garfada, o que fortalece é um adulto disponível. Aquele que escuta, observa e participa. Uma refeição em que o telemóvel fica de lado e a atenção está nos rostos à volta da mesa é, por si só, um alimento poderoso.
2| Segurança para explorar
As crianças comem melhor quando sentem que não vão ser criticadas ou pressionadas. Um ambiente calmo, previsível e sem pressas dá ao corpo a mensagem de que é seguro relaxar, digerir e até arriscar um sabor novo.
3| Liberdade com apoio
Nutrir é também permitir que a criança ouça o próprio corpo: decidir a quantidade, dizer “não” a um alimento, servir-se sozinha. Esta autonomia, acompanhada pela presença do adulto, ensina respeito pelos próprios sinais de fome e saciedade – uma competência que vale para toda a vida.
4| Alegria e ligação
Brincadeiras, risos e conversas leves não são “extra”, são parte da refeição. É nessa atmosfera que a criança associa comer a prazer, curiosidade e vínculo.
Há dias em que a criança come menos, ignora os legumes ou só quer pão. E está tudo bem. Nutrir não é garantir que cada refeição seja perfeita, é confiar no processo. É mostrar, com a nossa calma, que a comida está lá, disponível, sem pressa nem castigos.
No final, os teus filhos podem não recordar se comeram cenouras ou arroz, mas vão lembrar como se sentiram: apressados ou em paz, controlados ou respeitados, sozinhos ou em ligação.
É essa memória de segurança, autonomia e amor que verdadeiramente os nutre.
Com carinho,
Filipa Gomes

Especializada em alimentação responsiva e fundadora do projeto Oishi, a sua missão é apoiar famílias na construção de refeições mais tranquilas, promovendo confiança, autonomia e ligação à mesa. Com base na sua experiência profissional e na maternidade, acredita que a alimentação é um espaço privilegiado para fortalecer relações. Atualmente, acompanha mães e crianças a criarem memórias felizes e uma relação mais saudável com a comida.
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