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O novo ritual de beleza – O glow do êxtase

Num mundo obcecado pela juventude eterna, onde cada ruga é vista como uma batalha perdida contra o tempo, surge um segredo de beleza tão antigo quanto a humanidade, mas tão negligenciado quanto um sussurro ao vento: o orgasmo feminino.

Prepare-se que hoje há tutorial de beleza, pura terapia, e um novo passo na rotina de skincare. Sim, a íntima felicidade deixa, literalmente, o seu lastro de luminosidade.

Sabe? Felicidade é coisa “séria” e quando vejo que ainda somos bem temerosa(o)s de sentir que somos livres (inclusive para o prazer) eu fico com receio de me perguntar por que caminhos estamos a seguir.

Acredito que, no âmago, são poucas as pessoas que verdadeiramente lidam bem com a liberdade e a falta de controlo que a contemplação do belo ou o prazer sexual trazem consigo. Vivemos numa sociedade marcada pela rigidez, pela restrição e pela necessidade de certezas. O prazer é completamente aleatório, desestabilizador, imprevisível e, por essa razão, perturbador.

A doçura possante do perfume, o murmúrio vibrante de uma cidade, as formas de um corpo definido, o tempero dos alimentos, o brilho estrelado no céu da meia-noite, a batida rítmica na música, a água que sacia a nossa sede, são tudo coisas tão bonitas, sensorialmente bem inspiradoras. A inspiração vem livremente quando nos sentimos em ligação profunda com o que nos rodeia, a todos os níveis. Precisamos de combustíveis de beleza para um certo dinamismo e, claro, inspiração.

Nessa busca pela beleza que nos envolve e nos transforma, descobrimos um segredo tão antigo quanto o próprio tempo, mas tão negligenciado pela sociedade contemporânea. Como um facho de luz que irrompe na palidez da monotonia, o orgasmo é mais do que apenas um momento fugaz de prazer. É um portal para a beleza interior, uma fonte de alento e rejuvenescimento.

Imagine, se quiser, um ritual de beleza que não exige produtos caros ou tratamentos elaborados, mas apenas um momento de intimidade consigo mesma. Um ritual tão íntimo e poderoso que transcende o físico, atingindo as profundezas da alma. Aqui, no silêncio sagrado da alcova, a verdadeira magia acontece.

A Primavera que se faz presente, o calor que nos aquece, uma noite tépida para amenizar os caminhos de cada etapa, quando nos tocam com um olhar ou um sorriso marcante, o tilintar das pedras de gelo quando saboreia um magnífico cocktail, a elevação natural que nos abana quando absorvemos visualmente qualquer cenário dotado de vida, as cores de uma tempestade pioneiras de um arco-íris, o húmus de uma floresta como vida natural que se esconde por debaixo das plantas, o pôr-do-sol glorioso, o nascer do sol mágico; algo em nós simplesmente se deixa tomar e tocar de admiração. São eles, os combustíveis da beleza que preenchem as nossas almas e enchem os nossos corações. Combustíveis que nos inspiram a desacelerar, e mesmo assim a fazer mais.

E assim como um tubo de soro inserido directamente na veia, a beleza alimenta-nos. E faz com que continuemos a ir, mantendo-nos vivos.

Mas o verdadeiro segredo da beleza reside na sua essência profundamente íntima. É um momento de auto-descoberta e aceitação, onde cada suspiro e gemido ecoam como um hino à própria feminilidade. É um acto de amor-próprio, onde o corpo é celebrado em todo o seu esplendor e lubricidade.

Enquanto muitas buscam a fonte da juventude em frascos de creme e seringas de botox, poucas percebem que a chave para a eterna beleza pode estar bem mais próxima do que julgam. Os orgasmos, essas explosões de prazer que sacodem o corpo e a mente, têm sido suprimidos como um luxo frívolo, quando na verdade, são uma fonte de rejuvenescimento inexplorada.

Os cientistas agora afirmam que o orgasmo não é apenas uma libertação de tensão e prazer, mas também um verdadeiro elixir de beleza. A cada onda de prazer, o corpo é inundado com um fluxo de oxigénio revitalizante, alimentando as células da pele e deixando um brilho radiante no seu rastro. É como se a própria pele suspirasse de alívio, absorvendo a energia vital que emana do êxtase. E não para por aí. Os orgasmos, esses momentos divinos de êxtase, desencadeiam uma cascata de hormonas da felicidade, como a oxitocina e a prolactina, que não só acalmam a mente, mas também relaxam os músculos do rosto, suavizando as rugas e as linhas de expressão.

No fulgor do ápice, são libertadas outras hormonas pelo corpo, como a endorfina, a dopamina e a serotonina, directamente ligados ao nosso bem-estar. Simultaneamente, o nível de cortisol (hormona que regula o stress) é reduzido, o que tem impacto directo na nossa pele, já que ele está associado a condições inflamatórias.

Em algumas filosofias do mundo antigo, a nossa experiência da beleza quando respondemos a um pôr-do-sol ou a uma grande obra de arte é vista como um momento em que percebemos a graça que está por detrás de toda a criação. Nesse momento, levantam-se os véus de ilusão do mundo material e conseguimos ver para além… Um artista apresenta o mundo ao seu redor influenciado pela maneira como ele vê o mundo: pelas suas percepções e crenças. E, se formos a ver, neste sentido, verificamos que de certa forma a história da arte é a história da humanidade, a história das percepções e dos pensamentos humanos. Desde a civilização mais antiga que floresceu ao longo dos vales fluviais da bacia hidrográfica dos rios lendários podemos ver os alicerces da arte de uma antiga cultura. Culturas estas assentes na crença da unidade de toda a criação. Como um acto de nos entregarmos alegremente à ordem natural em vez de dominar e controlar as forças ao nosso redor.

Adoramos ter controlo de tudo. Desde o instante em que lutamos para sair da cama, pela manhã, até ao hábito inflexível de resistir ao relaxamento e ao sono ao final do dia.

Mas existe algo que está completamente fora de nosso controlo e com o qual temos uma relação estranha: o orgasmo. Ele é como uma ventania, não vem quando você quer, e quando menos espera ele pode surgir.

Não avisa quando chega e nem quando vai embora e na hora que passa deixa um estrago bom. Sabe aquela espreguiçadela satisfatória que uma pessoa nunca quer que acabe?

Então e porque é que a beleza e o prazer são tão sedutores? Parecem criar à nossa volta uma força energética, de tal forma magnífica e profunda em nós que não nos deixa alternativa senão rendermo-nos. A beleza e o prazer têm uma luz própria, brilhante, capaz de ofuscar a escuridão, o negativo, o sombrio, o trágico. A beleza ilumina o nosso mundo, lembrando-nos de todas as coisas que são boas e resplandecentes. O poder energético do prazer impulsiona lá bem no fundo, estimulando. Torna-nos mais presentes, mais produtivos, uma e outra vez, inspirados. Ambos, beleza e prazer, permitem respirar mais fundo, apreciar mais e viver vidas mais plenas e intensas.

Quando preenchemos a vida com o que consideramos bom e bonito, o próprio sentido da vida se desenrola, suave e naturalmente, como uma flor que levanta para ser acariciada pelo sol. E tal como as plantas, se retemos beleza, transformamo-la, reciclando essa energia, esse potencial, tornado beleza para depois ser irradiado para fora. Ao reconhecer o belo, uma pessoa torna-se bela. O nosso trabalho, a nossa arte e a nossa vida permeiam essa inspiração, essa expiração, essa transpiração!

Rodeemo-nos constantemente de beleza. Ela, na verdade, está em todo o lado. Em tudo, em todos! Procure-a, encontre-a, torne-se (melhor) inspirada. Você faz parte desse belo.

Dá-lhe uma ânsia de morte (e quase que teme ser vista como uma devassa sem coração) sequer pensar em desfrutar um pouco de prazer e relaxamento, certo? Se você corou só de ler esta frase ou ainda não tem essa intimidade toda consigo mesma, esse texto é para si. E não se culpe por isso, porque há toda uma cultura conservadora que trabalha para que você se arrede daquilo que é mais vivo e pulsante em si.

E a ciência já garantiu: ter orgasmos é bom para todas, incluindo as viúvas, as de oitenta anos e as casadas há cinco décadas!

Olhe, apenas olhe, esteja presente, entre com força no prazer e na beleza e não se explique, relaxe, entregue o seu coração a esse momento que pode não voltar. Respire, a melhor imagem possível é aquela que brota na sua frente, aqui e agora. Escute a vida que se lhe percorre nestes momentos ocasos, a arte da beleza: uma sinfonia de prazer e inspiração. Contemple essa beleza sem nome. Prove esse prazer atemporal.

Como Eros e Psique entrelaçados, encontre nos cuidados de si mesma a dança sagrada entre vida e alma, onde cada toque é uma ode ao amor-próprio e uma celebração das forças que pulsam em todo o seu ser. Este texto é um manifesto a favor da existência, do bom e do belo, e do prazer benéfico, corpo e mente, que uma mulher pode ter pela força da ligação simbólica à sua própria divindade, com alguém ao seu lado ou não.

Então, da próxima vez que se olhar ao espelho em busca da juventude perdida, lembre-se deste segredo guardado nas sombras da noite: o orgasmo feminino, o afterglow mais saudável a incluir na sua rotina de beleza.


Sara Ferreira

Email: apsicologasara@gmail.com

Site: www.apsicologasara.com

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