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O primeiro contacto com a pessoa infetada por VIH

Num mundo ideal não seria necessário assinalar o dia 1 de dezembro, Dia Mundial da Luta Contra o VIH/SIDA. Escrevo a minha opinião sobre este assunto, como enfermeira, como defensora dos direitos humanos, como trabalhadora do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) e como pessoa que todos os dias se depara com situações reais no terreno e que tem consciência de que continua a ser necessário que este dia exista.

É imperativo que consigamos combater o estigma associado às pessoas que vivem com VIH, quer por parte da sociedade, quer por parte de profissionais de saúde e por outros profissionais de infraestruturas sociais/saúde. Só assim será possível aumentar o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento de forma mais ágil, permitindo que as pessoas não se sintam envergonhadas ou alvo de preconceito, apenas por se deslocarem a um local para um rastreio ou por o pedirem ao seu médico de família.

É aqui que os serviços do GAT são essenciais para que as pessoas consigam ter acesso a um lugar despido de preconceito e de formalidade e, ao mesmo tempo, para que tenham contacto com profissionais de saúde e com pares, que já viveram situações vulneráveis similares, que pertencem a grupos vulneráveis a infeções sexualmente transmissíveis (IST) e/ou que vivem com VIH.

Através das organizações de base comunitária como o GAT, as pessoas podem ter acesso fácil, e muitas vezes imediato, a rastreios rápidos para o VIH, hepatites (B e C) e sífilis. Os rastreios são de fácil acesso, com resultados na hora, confidenciais e anónimos, e em caso de resultado reativo, com o consentimento da pessoa, permitirão a respetiva referenciação hospitalar, para confirmação do resultado e diagnóstico. Este contacto com as organizações pode ser feito nos espaços físicos ou em carrinhas móveis, que proporcionam uma maior facilidade na sua realização. Um dos lemas principais do GAT é que ninguém se sinta desamparado após um resultado reativo no teste rápido, pelo que o técnico envolvido no processo, disponibilizará de imediato o tempo necessário para que a pessoa possa colocar todas as suas dúvidas, angústias e possíveis dificuldades, sempre numa visão de empoderamento da pessoa.

A partir desta altura entramos, por vezes, em situações mais complicadas de acesso aos cuidados de saúde. Por exemplo, se nos deparamos com um migrante em situação irregular, ou em processo de regularização, enfrentamos todo um processo de apoio na obtenção de um registo do utente no SNS.

Por outro lado, enfrentamos a questão de acesso à primeira consulta. Por lei, sabemos que os hospitais têm 8 dias para marcação de uma primeira consulta, mas, salvo exceções, isso não acontece.

E ainda, e porque não nos interessa que uma pessoa tenha um teste reativo para VIH e fique sem rumo, de seguida, existem dois fatores preponderantes: a ligação e a retenção nos cuidados de saúde, onde o papel do GAT é, mais uma vez, fundamental. Para que consigamos de uma forma eficaz essa ligação, muitas vezes é necessário o acompanhamento por um técnico nas primeiras consultas. Não é o acompanhamento típico e simples de “dar uma boleia” e esperar que a consulta corra bem… É um acompanhamento dirigido à pessoa, empoderando-a na navegação hospitalar, na busca pelos seus direitos de acesso à saúde e dando-lhe ferramentas para que das próximas vezes o consiga fazer sozinha. Este acompanhamento é também uma oportunidade de partilha de conhecimentos de forma informal e, por vezes, também de “tradução” de termos médicos, por vezes complexos, para termos mais percetíveis a todas as pessoas. Após a primeira consulta, a pessoa faz as análises necessárias para posterior diagnóstico e tratamento. Da primeira consulta até ao tratamento, é preciso manter a pessoa motivada para iniciar o tratamento e ficar desperta para as vantagens de uma boa adesão.

Por fim, importa salientar que a sociedade precisa de mais conhecimento sobre a infeção por VIH, sendo essencial que se torne global a certeza de que o vírus, indetetável e suprimido por cerca de 6 meses, é intransmissível sexualmente e que a pessoa tem uma esperança de vida idêntica a uma pessoa sem o vírus.

Artigo de Opinião de Ana Correia

Enfermeira e membro do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, relativo ao tratamento de pessoas infetadas por VIH

Ana Correia 1

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