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Siga o seu coração? Não!

Quando se trata de dar conselhos sobre carreira ou mesmo relacionamentos, o ditado “segue o teu coração” pode não ser assim tão útil e até pode resultar em algo bastante enganoso. Calma que eu explico.

Se você está à procura de uma carreira que seja importante para si, não pense apenas nas coisas que lhe chegam mais naturalmente ou nas coisas que você adora fazer, ou ainda nas coisas em que sempre se destacou.

Em vez disso, considere as actividades às quais você volta sempre, apesar do facto de serem difíceis para si, ou talvez até dolorosas. Pense nesta abordagem como um “follow your bliss” alternativo. É que essas, provavelmente, não são as actividades em que você é “o melhor” (ainda) – são as que o(a) desafiam, frustram mas atraem uma e outra vez. Aquelas que o(a) fazem sair da sua zona de conforto e por isso com um maior potencial de estímulo e crescimento.

Talvez seja escrever. Talvez seja uma análise de dados. Talvez seja gerir pessoas. Talvez seja confeccionar pastelaria. Talvez seja comunicar com o público. Seja o que for, se você seguir estas “luzes”, é pouco provável que fique estagnado(a), entediado(a), pelo que poderá estar sempre a aprender. E aí sim, eventualmente, com o desenvolvimento dessa actividade poderá ganhar os calos de especialista.

Por outro lado, deixe-me dizer ainda que o “segue o teu coração” na área dos relacionamentos afectivos pode ser um conselho do mais nobre do que há (em intenções) mas eventualmente do mais pobre que existe (em resultados), em certos casos. E porquê? Novamente explico, calminha.

Por exemplo, as pessoas que têm uma das 3 características seguintes podem dar-se realmente mal com este conselho: 1) têm uma personalidade auto-destrutiva (pessoas amarguradas, hiperexigentes, hipercríticas, negativas, confusas, instáveis, ansiosas podem ter um padrão de apego ao sofrimento que as impele a buscar e manter aspectos que reconfirmem as suas crenças limitantes e problemáticas sobre si e sobre os outros ; 2) Histórico familiar disfuncional (uma pessoa que teve referências familiares confusas, estranhas, difíceis, possui, à partida, uma “escola amorosa” negativa, com um grau de permissividade elevado relativo aos aspectos tóxicos dos relacionamentos. A sua maneira de amar está contaminada, logo, seguir o coração é tendencialmente eleger parceiro(a)s que reproduzam os modelos parentais abusivos); 3) Relacionamentos amorosos problemáticos (uma pessoa que se habituou a achar que as brigas, as mentiras, as intrigas, a “peixeirada”, a coerção, o controlo ou a competitividade fazem parte de uma relação amorosa perdeu a sua bússola de boa auto-estima. O seu coração, neste etapa, está muito desorientado para ser seguido.

Nestes casos, basta pensar no tipo de condicionamento emocional que estas pessoas têm para fazer escolhas que poderão não ser as mais saudáveis ou felizes. Se elas seguirem o seu coração, a tendência é que continuem a fazer uma sequência de asneiras como sempre fizeram (inevitavelmente, escolhem um(a) parceiro(a) dominador(a), problemático(a), destrutivo(a) ou infantil).

O resultado geralmente é de dois tipos: 1) a pessoa vai ficar ainda mais carente e a achar que o(a) próximo(a) é que a vai salvar ou tirar o “azar” (não vai); 2) a pessoa vai fechar-se, achar que nenhuma criatura à face da Terra presta e tornar-se-á céptica (e a fazer novas escolhas nocivas que reconfirmem as suas crenças prévias).

Então, a meu ver, qual seria a melhor “dica” que se pode dar antes de seguir o coração?

  1. Conheça-se a si mesmo(a);
  2. Aprenda a fazer boas escolhas e cure as suas dores emocionais;
  3. Conheça um pouco mais do comportamento saudável ou problemático das pessoas que quer encontrar e manter na sua vida.

Neste sentido, o nosso bem-estar, equilíbrio emocional e felicidade estão dependentes do conhecimento que temos dos nossos estados internos e da influência que estes têm sobre o nosso pensamento, sentimentos, comportamento e atitudes.

É uma experiência frustrante (e comum) repetir constantemente os mesmos padrões autodestrutivos, apesar de desejarmos o contrário.

As variações deste tema podem ser muitas: procrastinação, relacionamentos abusivos, comportamentos aditivos (compras compulsivas, beber ou comer demais, consumo abusivo de substâncias, etc.).

A maioria dos comportamentos autodestrutivos acarreta alguma combinação de autodestruição e autoprotecção. O desafio é descobrir as raízes de ambos os problemas para se encontrar uma resposta mais saudável.

Por isso, é óbvio que jamais poderemos ser felizes se continuamos a alimentar escolhas inconscientes e situações que nos provocam infelicidade. Assim, em muitos casos, “seguir o coração” simplesmente pode trazer mais mal do que bem. Se queremos que as coisas mudem, temos de ser nós mesmo(a)s a promover essa mudança. Precisamos ter a força e a consciência de que as coisas que adoecem a alma já não são para estar na nossa vida.

Sara Ferreira

Psicóloga Clínica (Cédula Profissional Nº 10418)

Terapeuta Credenciada pela Federação Europeia de Associações de Psicólogos (PT-052503-201907)

Gestora de Formação e Formadora Certificada (CAP N.º EDF 46361/2005)

Técnica de Saúde Certificada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses na prestação de Consultas de Tele-Psicologia (Online)

Escritora

Contactos:

968147357

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