Artigo de Opinião de Maria do Carmo Silveira, Responsável de Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde do Grupo Ageas Portugal
Já todos ouvimos dizer que um terço das nossas vidas é passado a dormir. Para uma pessoa que vive 81 anos (segundo a Pordata, essa é a esperança de vida à nascença no nosso país), isso significa dormir cerca de 27 anos.
Fazê-lo com qualidade – qualquer profissional de saúde valida esta informação – é fundamental para uma vida plena e produtiva. É durante o sono que o corpo e a mente recuperam, preparando-nos para os desafios do dia seguinte.
Ora se em teoria todos sabemos disto, a prática dá-nos outra realidade.
Dados recentes do estudo “A Saúde dos Portugueses: Um BI em Nome Próprio”, da Médis, revelam que 79% dos portugueses tentam garantir horas mínimas de sono, mas que apenas 33% conseguem manter essa rotina regularmente. 30% admite não dormir o suficiente e 28% têm noites com menos de 7 horas de descanso.
Dados da Sociedade Portuguesa de Pneumologia acrescentam que mais de 50% dos portugueses têm um sono insatisfatório ou de má qualidade. Nas crianças, entre 25% a 34% acusam perturbações do sono. Nos adultos, mais de 40% dormem menos de 6 horas por dia.
Estes números refletem um dado preocupante: a privação do sono tornou-se comum. O consumo de medicamentos para dormir – quase 100 milhões de euros anuais – comprova-o.
Embora as necessidades de sono variem de pessoa para pessoa, e o número de horas recomendadas seja, por isso, discutível, há um consenso absoluto sobre as (más) consequências significativas que a falta de descanso adequado nos traz.
Para além da sonolência e do aumento do tempo de reação, a privação do sono pode causar irritabilidade, mau humor, dificuldades de memória, concentração e lentidão no processamento de informações. A ansiedade também interfere no sono, criando um círculo vicioso que dificulta o descanso reparador.
Por tudo isto, esta falta e/ou má qualidade do sono que temos, impacta direta e negativamente na qualidade de vida e, claro, na produtividade, a mesma que, dizem os dados, é baixa em Portugal.
Perante o cenário descrito, e a propósito do Dia Mundial do Sono, diria que o “dormir bem” devia ser uma rotina de todos. Gestos simples como reduzir ou evitar a cafeína, ter um jantar leve, ou desligar os aparelhos eletrónicos uma hora antes de dormir são fáceis de seguir e ajudam muito.
O sono devia ser uma bandeira nacional, um tema integrante dos Programas de Governo, discutido no Parlamento e nas mais altas instâncias, públicas e privadas.
Dormir bem é um investimento na saúde e bem-estar do país. O descanso de hoje é a energia e a vitalidade de amanhã. Não vermos e defendermos isto – nas leis, deveres e direitos da nação e das empresas – é sinal de que andamos todos a dormir.
Artigo de Opinião de Maria do Carmo Silveira
Responsável de Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde do Grupo Ageas Portugal
