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Despir preconceitos

Pode parecer estranho, falarmos de uma marca de roupa e abordarmos o verbo ‘despir’, mas a verdade é que é esse o verdadeiro objetivo de Vera Fernandes. Licenciada em Psicologia, é, desde sempre, apaixonada pelo Design de Moda. Com raízes familiares ligadas, de alguma forma, ao mundo da arte – “sempre gostei de desenhar peças de roupa, a minha avó já o fazia”, diz-nos – criou a marca Buzina em 2016. “Uma marca portuguesa sustentável inspirada na mulher real, na sua identidade e personalidade única”, assim se lê no site. Cada coleção é composta por apenas 20 peças (produzidas entre 10 a 70 vezes) e, como complemento, todas as quinzenas são lançadas três novidades. Na Moda Lisboa apresentou a ‘Untie’, a nova coleção.

O que podemos dizer desta coleção?

Esta coleção chama-se Untie e representa o desatar os nós, os preconceitos e tudo aquilo a que a sociedade nos obriga. O principal ponto de partida foi a Princesa Diana, porque, na altura dela, representou exatamente um passo importante nesse sentido, para todas as mulheres. Ela própria nunca quis estar agarrada a protocolos nem a nada que assim o exigisse. E a coleção é um bocadinho isso. Todas nascemos princesas e todas temos um bocadinho de princesas dentro de nós. Achei que era importantíssimo desmistificar a ideia de que não podemos vestir aquilo que queremos. A mensagem importante é: nós vamos sempre ser criticadas, por isso o melhor é vestirmos mesmo o que nos apetece!

É esse o conceito da marca, no fundo?

Sim, completamente!

O período em que vivemos influenciou, de alguma forma, esta coleção?

Estávamos em plena pandemia e agora rebentou uma guerra… Mas aqui a ideia era desconfinarmos. Retirar os nós, untie.

E as cores?

Na base delas está mesmo a princesa Diana. Quando associo a coleção a ela, associo estas cores.

Como surge esta ligação com a Moda Lisboa?

A Moda Lisboa foi uma agradável surpresa. A Buzina quer crescer, quer desenvolver, quer ir além-fronteiras. Quero muito o mercado brasileiro, por exemplo, porque me identifico, cresci com novelas, sempre me inspiraram… E como queremos intercionalizar, a Moda Lisboa não podia deixar de estar neste percurso. Para nos reconhecerem de fora, temos de crescer dentro do nosso país, primeiro. Tenho muito a agradecer à Eduarda Abbondanza e a toda a equipa, isto tem sido uma experiência incrível e maravilhosa.

Há uma ligação com o público importante?

Sim, sem dúvida.

Desde que criou a marca até agora, sente que cresceu enquanto designer?

Sinto que cresci enquanto pessoa. Enquanto designer, também… De resto, acho que cabe ao público responder….

Este passo que deu em termos profissionais, em que arriscou aquilo que queria realmente fazer, foi importante?

Eu tirei Psicologia, nunca fiz questão de exercer. Acho que estou na minha praia, no meu território, isto é mesmo o que eu quero fazer. Eu não tenho nenhuma formação em Design, mas sempre desenhei, isto para mim não é novidade… A minha avó já o fazia, já havia essa ligação. A zona de onde sou também é extremamente industrial e têxtil, o norte, Famalicão. Portanto, isto foi tudo sempre uma consequência. Se estou a fazer aquilo que eu quero e aquilo que eu gosto? Estou, sim! A ideia é crescer.

Na coleção que apresentou agora, porquê esta escolha de materiais?

Os tafetás e as sedas já são um clássico nas coleções da Buzina. Eu acho que tafetá é um tecido ambivalente, devia ser trabalhado para sempre porque é um tecido super intemporal. E, por outro lado, comecei a procurar tecidos mais ‘toscos’, mais primários, não tão elaborados, porque acho que a passerelle também é isto, também é dia-a-dia, também é quotidiano, também é quebrar de protocolos. Temos de fazer o que nos apetecer. E eu optei por apresentar uma coleção um bocadinho mais clean, contida, para as pessoas perceberem que podem usar e ousar, ao mesmo tempo.

As mulheres portuguesas ousam?

Eu vendo muito, por exemplo, para Espanha, mas tenho de dizer que, em Portugal, as mulheres ousam, têm uma forma de vestir a roupa de uma forma para a qual eu nem sabia que era possível. São hiper criativas e, para mim, isso é um orgulho enorme, porque, se ao início se estranhou, agora entranhou. E acho que já consegui um lugar no coração delas [risos].

O que faz a diferença?

Acho que nós precisamos, cada vez mais, de quebrar preconceitos. Quando eu comecei isto, tinha certeza de uma coisa: o que eu fizesse era para vestir, não era só para se ver e sempre achei que era possível juntar isso – pôr a passerelle de mão dada com o dia-a-dia. E acho que tenho conseguido.

O feedback vem nesse sentido?

Sim, as pessoas gostam de ver o que está na passerelle e isso, para mim, é uma conquista.

Num futuro próximo, o que pretende?

Internacionalizar. Quero muito ser bem-sucedida nesse aspeto e acho que tinha de começar por Portugal.

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