Eu sou gulosa. Mas quanto mais leio e escrevo sobre saúde, mais confirmo uma suspeita que tenho há muito tempo: a maioria das doenças tem origem na alimentação desequilibrada. Exemplos? Diabetes, hipertensão arterial, cancros vários, disfunção renal… mete medo.
Na edição de agosto da revista National Geographic li uma reportagem aterradora sobre o açúcar. A reportagem aborda a história do açúcar desde a nossa necessidade natural de o consumir até à moda europeia do séc. XVI e ao vício americano que hoje constitui, levando muitas crianças em idade escolar à obesidade e às doenças associadas.
Recentemente, tive também acesso a um estudo universitário que referia que as crianças de 10 anos de hoje já tinham comido tanto açúcar como uma pessoa de 80 anos ao longo de toda a sua vida.
A Organização Mundial de Saúde já fala da obesidade como um problema de saúde pública, na verdade refere-se à obesidade como a epidemia do séc. XXI.
A cientista Renata Gomes, que entrevistei para a LuxWoman de outubro, contou-me na nossa entrevista que lhe chegou à mesa de autópsias um menino de 14 anos que tinha morrido de ataque cardíaco por causa do peso.
E eu fiquei a pensar que tinha de fazer mais alguma coisa.
Hoje é o Dia Mundial da Alimentação e foi este o pretexto para ir falar do açúcar na escola que os meus filhos frequentam.
É verdade que eu protesto há muito contra os saquinhos de gomas, os rebuçados de açúcar e os intermináveis bolos com creme que a maioria dos pais insiste em partilhar nos dias de aniversários dos seus filhos.
Este ano, resolvi mudar de estratégia e falar diretamente às crianças dos malefícios do açúcar em excesso.
Partilho aqui algumas das coisas que mais efeito surtiram entre os meninos e as meninas que me ouviram:
– “O açúcar faz mal aos dentes, mas se lavarmos muito bem os dentes não é muito grave. Mas alguém tem uma escova que lave a garganta, o estômago e os outros órgãos por onde passa o açúcar que comemos? Aí é que está o problema.”
– Mostrei-lhes uma fotografia com copos de refrigerantes de cima. “Sabem o que é isto?” Responderam-me: “São tintas.” Quando lhes expliquei que eram sumos, não queriam acreditar. “O sumo do limão é desta cor? O sumo do morango é desta cor?”
– “Há um menino que tem 6 anos e pesa 61 kg. Os meninos aqui pesam quanto? 20 kg? Sabem quem pesa 61 kg? Eu.” Quando me levantei, ficaram muito espantados a tentar imaginar como será um menino da altura deles com o meu peso. Para que não tivessem dúvidas do que custa ser tão pesado, propus-lhes um jogo: levar um adulto às costas e tentar andar. Perceberam que era impossível.
– “O fígado é o caixote de lixo do nosso corpo e o açúcar não deixa abrir a sua tampa. O que é que acontece quando não abres a tampa do caixote do lixo? Fica tudo podre lá dentro.”
Durante os próximos dias espero ter reações dos pais. Para já, a escola teve uma iniciativa excelente: enviar um recado para casa, pedindo aos pais para limitarem os doces que os filhos trazem para a escola.
Acredito que se cada mãe e cada pai soubesse que o açúcar envenena os seus filhos, começariam já, já, já, a mudar os hábitos alimentares.