Eunice Maia, proprietária da loja lisboeta Maria GraneI, foi uma das cinco vencedoras do The Rose Project 2023. Criada em homenagem a Rose Mattus, co-fundadora da marca de geIados em 1960 em Nova Iorque, esta é uma iniciativa global da Häagen-Dazs que tem como objetivo reconhecer mulheres “desconhecidas” que foram pioneiras nas suas áreas de negócio ou propósitos sociais.
Em 2015, no bairro de Alvalade, Eunice abriu as portas da sua mercearia orgânica a granel. Consciente dos problemas globais que os sistemas alimentares enfrentam, a Maria Granel surgiu com o objetivo de diminuir o impacto ambiental da cadeia alimentar, mas também da paixão da empreendedora pelo consumo de alimentos saudáveis e sustentáveis. Além de evitar a utilização de embalagens, os consumidores são incentivados na loja, a envolver-se com os produtos que compram e a origem dos alimentos que consomem. Eunice quis ir mais longe e criou um programa de educação ambiental para expandir a consciencialização sobre boas práticas de sustentabilidade em casa, no local de trabalho e na comunidade.
À LuxWoman conta como foi ter sido uma das vencedoras do The Rose Project 2023 e o impacto que isso terá na Maria Granel e no seu futuro.
Qual foi a sensação de ter sido a única vencedora europeia num projeto que englobou mais de 2.500 mulheres inscritas?
Conhecer as histórias das 50 finalistas e das vencedoras (Yarett, Karol, Jennifer, Sarah), publicadas pelo The Rose Project, e perceber o impacto que estão a gerar, do ponto de vista social, cultural, ambiental, financeiro, foi, pessoalmente, muito comovente e muito poderoso – ver como, à maneira de Rose, nunca se detiveram (“Women who don’t hold back”). É uma honra enorme estar entre tantas mulheres inspiradoras de todo o mundo. Estou profundamente feliz e muito reconhecida.
Créditos: @davidoliveira
Como integrou o projeto internacional da Haagen-Dazs, o The Rose Project?
Para nomear e/ou ser nomeada, basta aceder ao site The Rose Project – Haagen Dazs (haagen-dazs.global), preencher um formulário com os dados da nomeada (ou os seus) e descrever brevemente as razões pelas quais vai nomear essa mulher.
As nomeadas deverão ter 18 anos ou mais, o ideal é que a mulher nomeada apesar de “desconhecida”, mereça destaque pelo seu projeto ou iniciativa, que seja uma mulher inspiradora, alguém que ajude e eleve a sua comunidade, ou seja, que tenha uma atitude de alguém que não se detém! Tal como a cofundadora da Häagen-Dazs, Rose Mattus.
De que forma será o prémio implementado?
O nosso projeto, além do impacto positivo ambiental que procura gerar, atuando na promoção de modos de produção mais sustentáveis (agricultura biológica – os nossos produtos alimentares são biológicos certificados e as nossas lojas também), na prevenção da produção de resíduos e no combate ao desperdício alimentar, através do granel e da reutilização de embalagens; pretende ampliar a sua dimensão social. Até agora, desde 2019, trabalhámos sobretudo com comunidades escolares, no nosso Programa (Z)Hero, para diagnosticar, monitorizar e reduzir o seu desperdício. A nossa intenção é criar uma academia que permita escalar e levar este programa a mais escolas e a mais pessoas, assim como dar formação a mulheres que pretendam criar o seu próprio negócio ou projeto nesta área de atuação (consumo consciente, prevenção de produção de resíduos, combate ao desperdício alimentar).
Além disso, para nós, é fundamental medir e comunicar com transparência o nosso impacto, pelo que investiremos numa certificação internacional para o realizar, de forma isenta e seguindo “frameworks” de referência. Nesse processo será também garantida formação interna à nossa equipa, constituída por mulheres, para que desenvolvam competências e adquiram conhecimento em diferentes vertentes dentro da sustentabilidade.
Créditos: @davidoliveira
Em 2015, a Eunice abriu a primeira Maria Granel em Lisboa. Como surgiu este projeto?
A ideia surgiu em 2013, é um sonho a dois, meu e do meu marido. Nasceu como uma forma de ambos regressarmos às nossas origens (eu, minhota; ele, açoriano) e trazer para perto de nós, em Lisboa, o campo e a natureza, homenageando as antigas mercearias, resgatando-as do passado e revestindo-as de uma missão comprometida com o futuro.
A Maria Granel é uma mercearia biológica a granel, a primeira “zero waste” store nacional, e abriu as portas em Lisboa, primeiro em Alvalade, em 2015, e depois em Campo de Ourique, em 2018, para ajudar as pessoas a adotarem um consumo mais planificado, mais consciente, através do granel, e a recusarem embalagens descartáveis, através da reutilização dos seus próprios recipientes, introduzindo no país o sistema BYOC (“bring your own container” – traga o próprio recipiente) aplicado, por via do “refill on the go” ao retalho alimentar.
Créditos: @davidoliveira
Qual é a sua área base de atuação?
Na verdade, são várias. Além das lojas físicas (retalho alimentar a granel) e junto do consumidor final, temos também uma área B2B, trabalhando neste momento com mais de uma centena de parceiros de revenda em todo o país, que comercializam as sete marcas que representamos em Portugal. Nos últimos dois anos, começámos também a fornecer agências de comunicação (press kits, por exemplo), restaurantes, hotéis e alojamentos turísticos, que demonstram interesse em disponibilizar aos seus clientes soluções e alternativas ecológicas (da cosmética, acessórios de limpeza e cozinha, a alimentos).
No que diz respeito à formação, colaboramos com escolas e com empresas, dinamizamos dezenas de workshops, palestras, masterclasses, “team buldings”. Temos também o nosso próprio espaço para realização de workshops, com uma cozinha equipada na nossa loja de Campo de Ourique.
Por fim, ao nível da comunicação, produzimos conteúdos de literacia ambiental para as nossas redes sociais e para terceiros, temos um podcast, blog, newsletter. E já publicámos dois livros (Desafio Zero e Diz não ao desperdício com o Simão) e um e-book sobre alimentação sustentável.
Já existem duas lojas da Maria Granel. No futuro pretende expandir a loja?
Temos esse plano, mas, neste momento, e tendo consciência da retração do consumo e do contexto que vivemos, esse passo tem de ser avaliado com muita prudência. Estamos a construir uma outra área de negócio, nos Açores, dedicada ao turismo sustentável – esse é o nosso próximo sonho!
