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Mês da Mulher: 4 testemunhos de liderança

Ana Franco de Sousa, Cátia Dias , Emília Roseiro e Margarida Galvão partilham os seus testemunhos de perseverança e sucesso com a LuxWoman 

Celebrámos no passado dia 8 de março, sábado, o Dia Internacional da Mulher. Assinalado desde o início do século XX – a 16 de dezembro de 1977 foi oficialmente reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 32/142 – , esta data pretende celebrar os direitos que as mulheres conquistaram até ao dia de hoje, relembrando o caminho para a igualdade. Mas porque esta deve ser uma luta de todos os dias, conversámos com quatro mulheres em cargos de liderança: Ana Franco de Sousa, Cátia Dias , Emília Roseiro e Margarida Galvão. 

Margarida Galvão

CEO e Diretora Executiva da Make-A-Wish Portugal

Tem nas mãos a missão de liderar a Make-A-Wish, uma organização sem fins lucrativos, para, com a ajuda de todos, transformarmos cada vez mais vidas, um desejo de cada vez. Licenciada em Comunicação Empresarial, trabalhou quase 10 anos na área Comercial da RTP. Em 2019, chegou à Make-A-Wish Portugal enquanto voluntária, e, passados dois anos, integrou a equipa. Hoje, é, “com muito orgulho”, a Diretora Executiva da organização.

Quem é Margarida Galvão?

A Margarida é uma mulher apaixonada e que gosta de viver de forma intensa e verdadeira, tendo como lema e inspiração o poema de Ricardo Reis:

Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”

Aos 36 anos de idade, tem um forte sentido de família e de missão e dedica-se a tudo com muita intensidade e verdade, colocando tudo o que é no mínimo que faz. É casada e tem dois filhos, o Francisco e a Mariana. Nasceu e cresceu numa família de cuidadores, sendo a terceira de quatro irmãos, com a mãe e pai muito próximos, onde os valores do olhar atento aos outros, o cuidado na fragilidade, a disponibilidade e a solidariedade sempre estiveram muito presentes. A Margarida é Make-A-Wish: voluntária de coração, membro da equipa com orgulho e líder. Hoje, tem nas mãos uma missão (e responsabilidade) incríveis: liderar a Make-A-Wish para, com a ajuda de todos, transformarmos cada vez mais vidas, um desejo de cada vez.

Como foi o seu percurso até aqui?

Desde jovem, tive oportunidade de me envolver em diversos projetos e iniciativas solidárias e de impacto e tornei-me numa mulher de missão, de causas e de propósitos, que sempre se preocupou em saber qual o sentido profundo e o verdadeiro impacto dos projetos em que se foi envolvendo. Formada em Comunicação Empresarial e com a criatividade sempre muito presente, aceitei o desafio de trabalhar na RTP, onde aprendi e cresci muito. Após quase 10 anos a trabalhar na área Comercial da RTP, senti que estava na altura de mudar de rumo e dedicar a minha energia diariamente a uma nova missão, a algo que tivesse realmente impacto na vida de outros. Foi então que cheguei à Make-A-Wish Portugal, onde comecei como voluntária em 2019, e integrei a equipa em 2021, na área de parcerias e angariação de fundos. Depois de 3 anos a dedicar-me de forma intensa à missão da Make-A-Wish, enquanto voluntária e como elemento de uma equipa inspiradora, e acompanhando de perto o trabalho da Mariana Carreira, CEO da Make-A-Wish durante 14 anos, fui convidada para uma nova missão – continuar este legado tão importante –  e hoje sou, com muito orgulho, a nova Diretora Executiva da Make-A-Wish Portugal.

Que desafios exigem a sua função?

Trabalhar na Make-A-Wish é um privilégio e uma enorme responsabilidade, significa estar diariamente ao serviço desta missão de levar esperança e força a crianças e jovens gravemente doentes, acompanhando a realidade de cada família, procurando desfocar da doença e dos tratamentos e acreditando que não existem impossíveis, quando se trata da realização dos seus maiores desejos.

Enquanto CEO da Make-A-Wish, a responsabilidade de transformar vidas com impacto torna-se ainda maior. Tenho uma grande admiração pela Mariana Carreira, que continua ligada à Make-A-Wish, integrando o Conselho de Administração da Make-A-Wish. Não há palavras para descrever o tanto que aprendi e cresci a trabalhar ao seu lado, por isso é com muito orgulho e sentido de responsabilidade, que dou seguimento e continuidade a todo este caminho fantástico. Espero estar à altura deste desafio, não pela sua grandeza, mas principalmente pela humildade e responsabilidade necessárias para o assumir. Sei que temos uma equipa fantástica e que juntas vamos continuar a realizar muitos desejos, acompanhar muitas famílias e transformar muitas vidas. Desejo conseguir acompanhar e inspirar diariamente a equipa e toda a comunidade Make-A-Wish. Quero continuar a ser voluntária e a acompanhar de perto as crianças e a realização dos seus maiores desejos. Quero continuar a trabalhar com todos os parceiros que contribuem e apoiam esta missão. Desejo que, em equipa, saibamos continuar este caminho de proximidade com todos os Voluntários, os Profissionais de saúde, as Escolas, os Embaixadores, os Doadores Individuais. Desejo principalmente que a Make-A-Wish Portugal continue este caminho de levar esperança e transformar as vidas de todas as crianças e jovens gravemente doentes.

 Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

Felizmente, acho que nunca senti nenhum tipo de obstáculo por ser mulher. Na verdade, até acho que sempre senti o privilégio de o ser, pois cresci numa família de mulheres fortes, lutadoras, criativas, resilientes e muito inspiradoras. Além da família, tenho tantas mulheres incríveis na minha vida: amigas, colegas de trabalho, missionárias. Acredito muito no poder transformador e na capacidade que temos em acompanhar-nos, em motivar-nos e contribuirmos para que cada uma seja a sua melhor versão e que alcance os maiores sucessos. Acho fantástico e avassalador, o poder de ser mulher e de gerar vida, e acredito muito que esta experiência da maternidade vai muito além de sermos mães, pois como mulheres (com ou sem filhos) somos cuidadoras, criadoras, orientadoras. Temos um olhar atento, que vê além da realidade e somos capazes de lutar e transformar qualquer realidade em algo melhor e maior. Acredito principalmente que as mulheres têm o dom e a capacidade de fazer isto umas pelas outras. Esta tem sido a minha experiência e só posso sentir-me profundamente agradecida por todas as mulheres inspiradoras que tenho na minha vida.

Acha que as mulheres, ainda, têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal, para chegarem ao topo e terem sucesso profissional? 

Saber cuidar e conciliar todas as dimensões da vida é uma arte diária. Cuidar e procurar atingir os objetivos profissionais, dar resposta à missão da Make-A-Wish e conciliar com a dimensão pessoal e familiar, pode ser, por vezes, desafiante. Muitas vezes o papel da mulher, enquanto mãe, supõe uma maior gestão do tempo entre trabalho, família e autocuidado. Colocamos expectativas altas sobre nós mesmas e nem sempre é fácil corresponder a tudo. Mas como dizemos, “na Make-A-Wish tudo é possível”, desde que haja vontade e dedicação. Entre a equipa Make-A-Wish, atualmente formada apenas por mulheres, vive-se um ambiente de grande compreensão, de cuidado com o bem-estar e felicidade de cada uma, respeito, responsabilidade e flexibilidade – sem que isso signifique falta de exigência ou de profissionalismo.  Os resultados são visíveis e cada colaboradora é reconhecida pelo seu empenho, esforço e dedicação.

Sobre o sucesso profissional, acho que temos de cuidar deste estigma. Afinal, o que é ter sucesso profissional? Na minha visão, o sucesso profissional está em sentirmo-nos profundamente realizados naquilo que fazemos, sem comparações, sem a necessidade de avaliar por escadas hierárquicas. Neste sentido, acho que todos temos de nos esforçar por ser quem realmente somos no mínimo que fazemos e que essa será a nossa maior e melhor recompensa.

 Qual é a sua mensagem para o Dia da Mulher?

A minha mensagem para este Dia da Mulher é de um enorme e profundo reconhecimento de que ser Mulher é uma experiência incrível, intensa, avassaladora e que é um privilégio termos este enorme dom de gerar vida, em todos os contextos e circunstâncias. Desejo profundamente que saibamos reconhecer este dom em cada uma e que possamos inspirar-nos, apoiar-nos e motivar-nos mais, para sermos a cada momento o melhor de nós. Deixo principalmente uma mensagem para todas as mulheres que são mães de crianças doentes, que tanto admiro, pela sua força, resiliência, entrega e dedicação.

Mas deixo também uma mensagem alargada a todos, uma mensagem que é também um enorme desejo: que saibamos viver com dignidade e respeito, pois a vida é feita de caminho e não de metas. O mais importante é conseguirmos colocar o quanto somos no mínimo que fazemos e que se isso for feito com Amor e respeito, estamos a contribuir para um mundo melhor.

Emília Roseiro

Diretora de Recursos Humanos da Bel para a Europa do Sul e Turquia

Empenhada em criar um ambiente de trabalho inclusivo, eliminar os gaps salariais, aumentar a autoconfiança das mulheres e remover obstáculos, para deixar o mundo empresarial melhor do que o encontrou, são algumas das missões de Emília Roseiro. Estudou Gestão no ISCTE e apaixonou-se pelo marketing. Hoje é Diretora de Recursos Humanos da Bel para a Europa do Sul e Turquia.

Quem é Emília Roseiro?

Mulher. Mãe. Profissional Comprometida. Ativista. Grata.

Gosto de pensar, planear, experimentar, transformar e deixar a minha marca. Quero contribuir para uma sociedade e um planeta melhores.

Como mulher líder, estou empenhada em criar um ambiente de trabalho inclusivo, eliminar os gaps salariais, aumentar a autoconfiança das mulheres e remover obstáculos, para deixar o mundo empresarial melhor do que o encontrei. Vejo o “poder” da minha função como uma ferramenta para a mudança, não como um troféu.

A família é central na minha vida. Adoro ler, caminhar, viajar e aproveitar o sol. Gosto de chá no inverno e de gelados todo o ano. Aprecio o humor e a ironia, e adoro rir. Agora que estou a meio da vida, sinto que concretizei muitas das minhas aspirações pessoais e profissionais, e quero abrir novas portas, com mais autenticidade, pois já não preciso de provar nada. Sou muito grata pelo que a vida me dá e quero retribuir e contribuir. É a beleza dos 50+.

O meu propósito de vida é fazer a diferença nas vidas que toco: família, amigos, trabalho e natureza.

 Como foi o seu percurso até aqui?

Como todas as vidas, parte foi sonhada, antecipada e preparada, e parte foi agarrada com entusiasmo pelas surpresas que a vida e as organizações nos proporcionam, se tivermos alguma sorte e trabalharmos para ela.

Estudei Gestão no ISCTE e apaixonei-me pelo marketing – estratégia, criatividade, adrenalina. Um amigo mais velho recomendou que começasse nas vendas, um início duro, mas valioso. Na Mars, dei os primeiros passos como “comando” (vendas “porta-a-porta”) e mais tarde como Key Account no Norte, o que me proporcionou uma saída precoce de casa dos pais, comparado com a prática em Portugal.

Minha primeira experiência em marketing foi na Central de Cervejas, com agências de topo, orçamentos milionários e festivais de verão. Consolidei a experiência na Nobre, quando era uma marca de referência em Portugal – que se tem vindo a perder, infelizmente, por falta de investimento. Aqui trabalhávamos o verdadeiro marketing 360º – fábrica, inovação, embalagem e comunicação.

A Bel (2003) foi a minha grande experiência. Cheguei jovem adulta, cresci e aprendi de forma acelerada e fascinante, primeiro em Marketing e depois em Recursos Humanos (2013), quando se começava a perceber a centralidade desta área nas organizações. Comecei por fazer RH “na ótica do utilizador” – o que sentia falta como colaboradora e como líder de equipa – e depois consolidei, com diretores gerais que sempre desafiaram e deram suporte para sermos hoje uma empresa de referência. Digo-o com muito orgulho e sem falsa modéstia, pois sinto que sou apenas uma peça numa grande “máquina” onde as pessoas estão em primeiro lugar, num sentido “não paternalista” – de responsabilização, colaboração e suporte – onde podem contribuir e partilhar de forma aberta, e sentir-se realizadas.

Em 2023, assumi a responsabilidade de RH na Europa do Sul e Turquia, um desafio extraordinário pela diversidade de modelos de negócio, organização, culturas e desafios. Aprendi que é preciso levar experiência e curiosidade em doses iguais para sermos bem-sucedidos na missão que abraçamos.

Saber que contribuo para o que somos e para o que ambicionamos ser faz-me levantar todos os dias com energia (95% dos dias, porque ainda não há empresas perfeitas!).

 Que desafios exigem a sua função?

Uma função de Recursos Humanos numa empresa com o propósito e valores da Bel é um desafio extraordinário na maioria dos dias, e sou grata por isso. Respondendo à questão, o principal desafio é a capacidade de distanciamento quando se trata de assuntos delicados ou complexos. Tenho o privilégio de trabalhar numa empresa “de bem”, com pessoas “de bem”. Não estaria disponível para esta função noutras condições. Há dias muito difíceis, em que temos de ter clareza sobre o que fazemos e como podemos contribuir da melhor forma. Mas há muitos mais dias felizes!

Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

Felizmente, não. Tive o privilégio de passar por empresas e lideranças extraordinárias. No entanto, vejo o mundo à minha volta e a causa da liderança no feminino faz parte das minhas prioridades enquanto gestora. Não teremos feito o suficiente enquanto não chegarmos a um equilíbrio justo.

Acha que as mulheres ainda têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal para chegarem ao topo e terem sucesso profissional?

Em muitos lugares, sim, talvez ainda na maioria. Noutros, não, mas continuam a fazê-lo. É cultural, ou educação, ou brio, ou humildade, ou um misto de tudo. Quando abre uma vaga profissional, um homem interessado concorre. Uma mulher interessada avalia-se e reavalia-se, muitas vezes concluindo que ainda não está pronta. É preciso trabalhar nisto – nunca se está verdadeiramente pronto para o passo seguinte, mas é preciso ganhar a autoconfiança para arriscar. Os homens têm esse sentido mais trabalhado que as mulheres. Mas o caminho está a fazer-se e a nova geração vai acelerá-lo, por diferentes razões, e a escassez de talento fará o resto. Gosto de pensar que a próxima geração terá um cenário mais equilibrado, e faço a minha parte para contribuir!

 Qual é a sua mensagem para o Dia da Mulher?

Neste Dia Internacional da Mulher, celebremos a força, a resiliência e a capacidade de transformação de todas as mulheres. Que cada uma de nós continue a fazer a diferença, eliminando barreiras e construindo um futuro mais justo e igualitário para todos.

Ana Franco de Sousa

Diretora da Associação Terra dos Sonhos

Ana Franco de Sousa considera-se, “como a maioria das pessoas, um “work in progress”. Começou por ser Engenheira Civil, formada no Instituto Superior Técnico, e trabalhou quase 10 anos na área da construção civil. A uma dada altura decidiu mudar o rumo da sua vida e dedicar-me à área humanitária. Esteve 11 anos em missões humanitárias de emergência, onde teve a oportunidade de viajar muito e “conhecer alguns dos cantos mais bonitos e também mais complexos deste nosso mundo”. Desde outubro de 2024 que é a Diretora Executiva da Terra dos Sonhos.

Quem é Ana Franco de Sousa?

Acho que, como a maioria das pessoas, sou um work in progress… Mas vou tentar partilhar o que tenho vindo a ser até ao dia de hoje.

Comecei por ser Engenheira Civil, formada no Instituto Superior Técnico. Trabalhei quase 10 anos na área da construção civil, sempre em obra e, a uma dada altura decidi mudar o rumo da minha vida e dedicar-me à área humanitária. Estive 11 anos em missões humanitárias de emergência, onde tive a oportunidade de viajar muito e conhecer alguns dos cantos mais bonitos e também mais complexos deste nosso mundo. Recentemente voltei para Portugal onde trabalho na área Social como Diretora Executiva da Terra dos Sonhos.

Sou uma pessoa bastante trabalhadora, provavelmente porque fui educada que, para ter direitos, tinha antes de ter responsabilidades. Mas sempre direcionei a minha vida para aquilo que acreditava que me faria verdadeiramente feliz e lancei-me várias vezes no desconhecido, o que não me arrependo e até recomendo.

Como foi o seu percurso até aqui?

Quando acabei a universidade, decidi fazer um ano de voluntariado em Moçambique antes de começar a trabalhar. Foi um ano muito especial, cheio de experiências únicas e novas para mim e que me deixou um bichinho cá dentro, que na altura não sabia bem o que era.

Depois desse ano, voltei para Portugal e comecei a trabalhar na área da construção civil, à qual me dediquei durante cerca de 7 anos. Estive sempre em obra, e acompanhei grandes projetos na zona da grande Lisboa, Madeira, Cabo Verde e Brasil.

Com o passar do tempo, o bichinho que tinha desde Moçambique não desapareceu e decidi então tentar perceber o que era, ao mesmo tempo que fazia um discernimento de vida. Durante esse discernimento dei-me conta de que, apesar de gostar bastante do meu trabalho, faltava-me uma componente mais humana, de serviço.

Decidi então aventurar-me e deixei o meu trabalho para ir trabalhar dois anos com o JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) em campos de refugiados, onde estive um ano na República Democrática do Congo, perto da zona de Goma, como Coordenadora de Projeto, e um ano no Ruanda como Diretora Nacional. No final destes dois anos estava cansada e a questionar a minha capacidade emocional e física para trabalhar neste tipo de contextos e voltei então à engenharia Civil durante três anos.

No final desses três anos percebi claramente que o setor privado já não era suficiente para mim e tomei a decisão de me dedicar a termo incerto à área social e humanitária. Comecei então a trabalhar com uma organização médica de emergência (Médicos Sem Fronteiras), onde estive 9 anos e fiz missões humanitárias no Afeganistão, Iraque, República Centro Africana, Serra Leoa, Venezuela e Moçambique. Agora, estou desde Outubro de 2024 na Terra dos Sonhos, em Lisboa.

 Que desafios exigem a sua função?

Estou agora a ter a minha primeira experiência a trabalhar na área social em Portugal, depois de muitos anos na área humanitária internacional. Eu diria que, hoje, o meu grande desafio é garantir que, na área social, há o mesmo profissionalismo que é exigido nas empresas privadas. Outro desafio de quem trabalha nesta área, tão perto de situações de grande vulnerabilidade, é ter de impor limites no nosso campo de ação, porque as necessidades são muitas e os recursos poucos. É uma lição que tenho vindo a aprender depois de todos estes anos a trabalhar em contextos de guerra e que gostaria de passar às equipas com quem trabalho hoje, porque sei que dizer não a quem sofre não é fácil.

Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

Honestamente, até hoje ainda não.

Tenho tido sempre a sorte de nunca ter perdido nenhuma oportunidade na minha vida por ser mulher. Como expliquei no resumo da minha história, mudei o rumo da minha vida várias vezes ao longo do tempo e pude sempre ter a oportunidade de fazer o que queria e gostava. E a minha carreira progrediu à velocidade que eu quis. Mais que uma vez até recusei um cargo mais alto por sentir que ainda não estava preparada para essa responsabilidade, mas quando me senti preparada acabei por conseguir o mesmo cargo.

Até quando trabalhei em meios dominados por homens, como a construção civil e o facto de ter sido referente técnica no Afeganistão, uma área onde não há mulheres, pude sempre ter o mesmo crescimento profissional que os meus colegas e fui sempre respeitada.

Talvez tenha tido sorte e gostaria que todas as pessoas pudessem ter oportunidade, como eu, de se sentirem realizadas no que fazem.

Acha que as mulheres, ainda, têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal, para chegarem ao topo e terem sucesso profissional?

Eu estive muitos anos fora de Portugal e só voltei há 5 meses por isso não conheço assim tão bem a realidade dos dias de hoje cá em Portugal.

Mas espero que, em pleno século XXI, as mulheres em Portugal não tenham de se esforçar mais que os homens para ter as mesmas oportunidades profissionais, porque isso é extremamente injusto e discriminatório, para além de ser uma forma obsoleta de gerir recursos. No meio profissional, as pessoas devem ser valorizadas pelas suas capacidades e competências, nada mais.

No meu trabalho anterior, numa organização belga, havia 8 diretores dos quais 4 eram mulheres. Quero crer que esta mentalidade aberta e justa possa ser também uma realidade em Portugal.

Pessoalmente, acredito que o sucesso profissional é poder fazer o que gosto e que me preenche, independentemente do patamar hierárquico a que isso correspondesse.

Mas vivi em lugares onde ser mulher é muito violento. A mulher é obrigada a passar situações de violência extrema, tem falta de liberdade mesmo sob o seu próprio corpo, e ainda assim conseguem sobreviver e até cuidar da sua família.

 Qual é a sua mensagem para o Dia da Mulher?

Mulheres fortes não esperam pelo momento certo, elas criam as suas próprias oportunidades.

Criem as vossas.

Feliz Dia da Mulher!!

Cátia Dias

Diretora de Marketing da Bel para o Sul da Europa e Turquia

Entre as áreas de Vendas e de Marketing, a carreira profissional de Cátia Dias tem sido construída no Grupo Bel. Nos últimos 20 anos, teve a oportunidade de mudar de posição a cada 2-3 anos, o que lhe permitiu, conta-nos, sair da sua zona de conforto várias vezes. Atualmente é Diretora de Marketing da Bel para o Sul da Europa e Turquia. 

Quem é Cátia Dias?

Uma rapariga/mulher que gosta de desafios. Que vê a mudança como algo importante e positivo na vida. Comprometida, mas também apaixonada por aquilo que faço e construo diariamente, enquanto mulher, mãe e profissional. Gosto de sorrisos e abraços fortes, adoro viajar, fazer algum desporto e fazer acontecer projetos com propósito.

 Como foi o seu percurso até aqui?

Quando olho para trás, não deixo de o fazer sem um bom sorriso. Um sentimento positivo de realização, mas também de entusiasmo, com os olhos posto no futuro.

A minha carreira profissional tem sido construída no Grupo Bel, entre as áreas de Vendas e Marketing. Nos últimos 20 anos, tive a oportunidade de mudar de posição a cada 2-3 anos, o que me permitiu sair da minha zona de conforto várias vezes, aprender muito, mas também partilhar o que sei, contribuindo não só para o meu desenvolvimento, como também para o crescimento de várias pessoas e equipas.

Consigo reconhecer que cada mudança teve um papel e um impacto positivo no que sou hoje, e que a mudança é fundamental para o nosso crescimento. Mesmo sem mudarmos de função, podemos sempre questionar o que estamos a fazer e porquê, às vezes basta mudar as lentes /a perspetiva e estamos a aprender e a fazer diferente.

 Que desafios exigem a sua função?

Atualmente sou Diretora de Marketing na Bel para o Cluster da Europa do Sul. Uma posição estimulante, quer em termos de desenvolvimento de negócio, quer na gestão e desenvolvimento de pessoas.

Em termos de negócio, é importante ter um modelo sustentável e uma estratégia para cada marca com uma visão de longo prazo, onde a minha principal função é desenvolver marcas fortes, relevantes na vida do consumidor, úteis no seu dia-a-dia e que nos consigam de alguma forma inspirar.

Já no desenvolvimento de pessoas, e tendo equipas em diversos países, é fundamental conhecer cada pessoa, e compreender como as podemos ajudar no teu trabalho, como podemos contribuir para que sejam cada vez melhores, como posicioná-las para o próximo movimento de carreira, para a próxima mudança,

Sentiu algum tipo de obstáculo por ser mulher?

Bem pelo contrário! Desde o primeiro dia que estou na Bel até ao dia de hoje, que ao longo da minha carreira tive o privilégio de aprender e trabalhar com mulheres líderes.

Mulheres inspiradoras e verdadeiros exemplos de liderança que contribuíram e contribuem para o que sou hoje: Cláudia Portugal, Ana Cláudia Sá, Paula Gomes, até à atual CEO do Grupo Bel, Cécile Beliot, entre muitas outras.

Acha que as mulheres, ainda, têm de se esforçar mais do que os homens em Portugal, para chegarem ao topo e terem sucesso profissional? 

Infelizmente tendo a concordar. E na maioria das vezes, esse esforço adicional é autoimposto. Somos nós próprias que nos auto-exigimos perfeição, e que sem o que consideramos perfeição, não nos sentimos capazes, nem totalmente confiantes para avançar na carreira. Outras vezes, porque precisamos assumir o papel de cuidadoras a 100% seja de descendentes, como de ascendentes, e no mundo do trabalho, a nossa autoconfiança fica mais vulnerável. É cultural, mas vejo muitas mudanças a acontecer, o que me deixa bastante confiante sobre o papel das mulheres na sociedade.

Qual é a sua mensagem para o Dia da Mulher?

Que sejam felizes e completas! Cada mulher deve escolher o seu caminho, escolher o que a faz feliz e plena. Pode ser trabalho, arte, maternidade, desporto, ou qualquer outra atividade, ou uma combinação de várias.

Não há nada que não esteja ao nosso alcance, e não há nada de mais precioso do que a nossa felicidade e saúde. Força!

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