A reportagem da edição de setembro da LuxWOMAN é um brutal retrato da poluição e das doenças mortais geradas pela produção maciça de roupa. O consumo desenfreado de pechinchas de moda não faz bem a ninguém, nem sequer a quem enche o roupeiro até ao cimo.
A Greenpeace recolheu peças de roupa de grandes marcas e analisou a quantidade de produtos químicos perigosos. Artigos de pele, roupa para bebé e sapatos para crianças trazem consigo perigo para a saúde de todos, incluindo quem os usa.
Comecemos por conhecer os monstros:
Hidrocarbonetos perfluorados (PFC)
Amplamente usados em produtos do dia a dia, como embalagens alimentares, pesticidas, vestuário, estofos, tapetes e produtos de higiene pessoal. São usados para impermeabilizar têxteis e peles. Um estudo sobre o tema, publicado na Human Reproduction, constatou que podem estar associados à infertilidade feminina.
Etoxilato de nonilfenol, nonilfenol (NPE, NP)
Substâncias químicas artificiais muito utilizadas como surfactantes (ou tensoativos, utilizados para limpeza) por fabricantes têxteis. Quando libertados para o ambiente, os NPE degradam-se para NP, que são considerados tóxicos, provocando distúrbios hormonais. A presença de NPE em alguns produtos pode querer dizer que eles foram utilizados durante o processo de fabrico, como resultado da sua libertação na água residual das fábricas.
Ftalatos
Substâncias que tornam maleáveis os plásticos rígidos. A sua toxicidade é preocupante para a vida selvagem e para os seres humanos, pelo facto de provocarem distúrbios hormonais. Por exemplo, o DEHP, um dos mais usados, é conhecido por ser prejudicial ao desenvolvimento reprodutivo de mamíferos, podendo interferir com os órgãos reprodutores nos homens e afetando o sistema de reprodução nas mulheres.
Antimónio
No que diz respeito à sua composição química, tem muitas semelhanças com o arsénico. A toxicidade do antimónio depende do seu estado químico: a forma metálica é relativamente inerte, mas a stibnite (combinação de antimónio e enxofre) é altamente tóxica. Por isso, o manuseamento do antimónio e dos seus compostos deve ser feito em ambientes ventilados. Caso contrário, corre-se o risco de formação de dermatites, irritação do sistema respiratório e interferência no sistema imunitário.
Organoestânicos
São utilizados na indústria têxtil como biocidas ou fungicidas, em produtos como meias e sapatos, para prevenir maus cheiros, ou como estabilizadores em impressões de plástico. São conhecidos por serem tóxicos, mesmo que em níveis relativamente baixos, podendo ter impacto nos sistemas imunitário e nervoso.
Convém também olhar com mais detalhe para os resultados deste estudo da Greenpeace, publicados em janeiro de 2014. Com o sugestivo título “Mãe. Pai. Não quero monstros no meu armário”, a organização conclui que:
– Os NPE (etoxilato de nonilfenol) foram encontrados em 50 dos 82 produtos analisados, em níveis superiores a 1 mg/kg e até 17 g/kg, o correspondente a 61% dos produtos testados. Todas as marcas apresentaram pelo menos um artigo com NPE. As que apresentaram níveis mais elevados (superiores a 1 g/kg) foram a C&A, a Disney e a American Apparel. A Burberry não chegou a tanto, mas um dos seus produtos chegou a 780 mg/kg.
– Dos 12 países incluídos no estudo, 10 apresentavam produtos com NPE.
– Foram encontrados ftalatos em 33 das 35 amostras com estampagens. Duas delas apresentavam níveis muito superiores aos restantes: uma t-shirt da Primark adquirida na Alemanha continha 11% de ftalatos e um body de bebé da American Apparel, adquirida nos Estados Unidos, apresentava 0,6%. O nível de ftalatos encontrados nestes dois items não seria permitido na União Europeia em brinquedos e produtos de puericultura, mas o mesmo não se aplica ao vestuário.
– Foram encontrados organoestânicos em três artigos, as maiores concentrações em produtos Puma e Adidas (no topo, surgem uns ténis Puma).
– Um ou mais PFC foram encontrados em pelo menos um de 15 artigos testados. As maiores concentrações foram em três produtos da Adidas, um casaco da Nike e outro da Uniqlo. No que diz respeito aos PFC iónicos, foram encontrados nuns sapatos da Adidas e num fato de banho da Burberry. No entanto, a maior concentração estava num fato de banho da Adidas.
– No total das 36 amostras, foi encontrado antimónio e todas apresentavam poliéster na sua composição ou uma combinação de polyester com outras fibras.
A propósito deste tema, vale a pena conhecer ‘The True Cost’, um documentário que fala sobre as roupas que usamos, quem as faz e o impacto que a indústria têxtil tem no mundo e que está disponível para compra em várias plataformas. Aqui fica o teaser:
Não deixe de ler a reportagem completa na LuxWOMAN de setembro.