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Mariana Carvalho sobre a Artrite Reumatóide: “achava que era o “reumático” que as avós têm”

Tinha 20 anos quando foi diagnosticada com Artrite Reumatóide. As dores na cervical, o cansaço extremo e o inchaço e as dores nas mãos, levaram Mariana Carvalho, fisioterapeuta e vice-campeã nacional em trampolim, a procurar ajuda médica.

A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória crónica que se caracteriza pela inflamação das articulações – principalmente mãos, punhos, joelhos e pés – e traz consigo uma série de desafios significativos. Os sintomas, que se caracterizam por dor intensa, rigidez matinal, fadiga, inchaço intenso, rubor e calor, são debilitantes e podem ter um impacto profundo na qualidade de vida dos pacientes, se não forem identificados e tratados atempadamente.  

Mariana Carvalho

Embora os primeiros sintomas tendem a aparecer nas idades entre os 35 e os 50 anos, Mariana é a prova de que a doença pode surgir em todas as idades. Além disso, a prevalência desta doença é duas a três vezes superior nas mulheres do que nos homens e o pico de incidência é após a menopausa.

A propósito do Dia Nacional dos Doentes com Artrite Reumatóide, celebrado no passado dia 5 de abril, a atleta foi convidada a participar nas XXIV Jornadas da A.N.D.A.R para falar sobre a importância do exercício físico na recuperação. Mariana Carvalho, hoje com 26 anos, faz parte do grupo de trabalho da EULAR (European Alliance of Associations for Rheumatology), que se dedica a lutar pelos direitos e qualidade de vida dos jovens com doenças reumáticas, é fisioterapeuta e, ainda, atleta. Falámos com a jovem.

Tinha 20 anos quando foi diagnosticada com Artrite Reumatoide. Sabia do que se tratava quando lhe disseram?

Tinha uma vaga ideia porque já tinha andado a pesquisar, mas antes disso achava que era o “reumático” que as avós têm…

Que sintomas a levaram até ao hospital?

Comecei a ter muitas dores na cervical, não conseguia rodar a cabeça, e mais tarde aconteceu o mesmo com as minhas mãos – começaram a ficar inchadas, de manhã não as conseguia mexer porque tinha muita dor e rigidez, ao ponto de não me conseguir vestir ou preparar o pequeno-almoço. Também andava muito cansada, mais do que o normal. Como fazia desporto fui primeiro ao ortopedista, que me referenciou para o reumatologista.

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Quando é que começou a praticar trampolim?

Tinha 9 anos. Na altura fazia acrobática e trampolins, ainda não havia uma classe de competição de trampolins. O meu atual treinador entrou no clube nesse ano e acabei por ficar só nos trampolins.

Teve de parar de praticar trampolim? Em que fase da sua carreira estava?

Naquele momento sim, não conseguia mesmo treinar. Tinha integrado há pouco tempo a seleção nacional sénior, pelo que a carreira “a sério” estava mesmo a começar. Era altura de evoluir e de continuar a lutar pelo meu lugar na equipa.

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Como lidou com a doença?

No início não lidei, fiquei um pouco desorientada e foi, principalmente, a minha Mãe que me ajudou a pôr os pés na terra. Aos poucos fui tentando aprender mais sobre a doença, conhecer outras pessoas com artrite, pesquisei na internet outros atletas com doenças reumáticas e fiz-me sócia de associações de doentes – ANDAR e LPCDR (Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas). A partir daqui, entrei para um grupo de trabalho da EULAR (European Alliance of Associations for Rheumatology), que luta pelos direitos e qualidade de vida dos jovens com doenças reumáticas. Além disso, comecei a estudar mais para me especializar nestas doenças (sou fisioterapeuta), para conseguir dar uma resposta e apoio às pessoas que passaram pelo que eu passei. Acho que foi o conjunto de tudo isto que me fez aceitar a doença e encontrar um significado para tudo o que aconteceu.

Referiu que a sua mãe a ajudou a lidar com a doença. O apoio dos mais próximos foi fundamental?

Sem dúvida alguma, principalmente na fase inicial. Conviver com uma pessoa que está com dores desde que acorda até que se deita não é nada fácil… Essa compreensão e empatia são fundamentais para que seja um bocadinho menos difícil.

Quando é que voltou aos trampolins?

Fui diagnosticada em janeiro de 2019 e no final de março pedi para fazer uma competição regional, só para me despedir. Correu muito bem, mas fiquei com tantas dores que tive de voltar a parar. O meu treinador ia-me incentivando a tentar e acabei por fazer os apuramentos e o campeonato do mundo em novembro de 2019. Decidi que seria a última competição, por ter ficado com a doença descontrolada. Parei, acabei o curso, trabalhei, e em maio de 2021, depois de ver os meus amigos competir no campeonato da Europa, decidi voltar, e mantenho-me até hoje!

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A sua rotina foi afetada de alguma forma? De que maneira?

Toda a minha forma de pensar no meu dia se alterou – eu sei que tenho que gerir as horas que trabalho, sei que tenho mesmo que garantir 8h de sono, sei que tenho de fazer exercício físico nos dias em que não treino – caso contrário, vou ficar com dores. Tive que me habituar a preparar a medicação para a semana toda e andar com os medicamentos atrás. Tive que aceitar que posso não conseguir cumprir o plano de treino e não há nada a fazer e que, por muito que tente controlar, nunca sei como vou acordar no dia seguinte, e o que planeei pode não ser realista.

Foi uma das oradoras do programa das XXIV Jornadas da ANDAR – Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide e falou sobre a importância do exercício físico na recuperação de quem sofre de Artrite Reumatóide. De que forma o exercício a ajudou na recuperação?

O exercício físico foi fundamental na minha recuperação. Quando parei de treinar ganhei algum peso, perdi massa muscular, não tinha força nem mobilidade, mas rapidamente comecei a perceber que, à medida que me mexia, as dores aliviavam. Como não estava a treinar trampolins, inscrevi-me no ginásio da minha mãe e comecei a ir às aulas. Não foi fácil ao início e tive que adaptar muitos exercícios, mas comecei a recuperar a minha força e a ficar em forma, o que me permitiu voltar aos treinos e a trabalhar de forma mais confortável. Mais importante, descobri que o exercício físico funcionava quase como medicação para alívio das dores e da rigidez. Por isso (e por haver evidência científica) é que insisto tanto no exercício físico com os meus utentes!

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