Há algum tempo que queria partilhar sobre algumas marcas de moda nacionais com um posicionamento outdoor, descontraído, estética cool e natural, ou como o consumidor melhor as conhece, “as marcas de montanha”.
Nestes pós Copenhaga (feiras de moda CIFF e Revolver) e trade shows de Nova York, o negócio das marcas de moda portuguesas e a sua internacionalização são o epicentro desta profissão.
Sem dúvida os mercados escandinavos pautam-se por um ADN minimalista, advogam a sustentabilidade como um dado adquirido e, também pelas condições climatéricas, há ali um je ne sais quoi de “cuidadosamente casual”.
Das inúmeras concept stores visitadas na Dinamarca e agora no Minho, onde a referência ao Gerês está muito presente, surge o contexto para falar “delas”, das marcas portuguesas “de montanha” cujo conceito merece referência pelas seguintes características enformadoras do branding de marca:
- estética funcional;
- qualidade, resistência, durabilidade;
- transparência no processo – utilização de matérias-primas naturais, autóctones e certificadas, manualidade dos processos de fabricação;
- contemporaneidade do processo de “apropriação” e transferência do tradicional ao design atual;
- comunicação moderna e até sofisticada do ADN das marcas e dos seus negócios.
A alcateia, como se designam, representa um conjunto de 3 empreendedores que, através da marca Indagatio, “tentam unir e equilibrar a relação das pessoas com a Natureza”.
O projeto começou através de uma conta do Instagram na qual Pedro Caldas, o fundador, partilhava fotografias das florestas e dos animais que conhecia nas suas explorações nos bosques nacionais. Desde jovem Pedro é um apaixonado por lobos. Como todas as paixões também o pequeno Pedro tinha a sua, a qual enformou a Indagatio: um menino movido pela curiosidade em encontrar um lobo, mesmo que esse fascínio fosse pejado pelo medo (natural) de tal situação. Assim, o logotipo da marca é uma cabeça estilizada de um lobo associada à palavra latina “Indagatio” do latim “a busca”.
Com a colaboração de uma das duas co-fundadoras, a Indagatio passa também a retratar “uma marca portuguesa de artigos concebidos para a montanha, mas cuja elegância os faz atraentemente aptos para o uso na cidade. Criada para quem vive a natureza e não para quem apenas a visita. Eu visitava os bosques, mas quando voltava para a agitação da cidade, os bosques permaneciam profundamente em mim. A Indagatio, é a materialização desse sentimento. Uma extensão orgânica dessas sensações e da Natureza que nos rodeia, incorporadas em todo e qualquer produto que desenhamos.“
Trabalhar a jusante (ou a montante) da indústria têxtil, de confeção e marcas permite enquadrar e encontrar o meio termo entre um qualquer paradigma consumista e outro que analisa um contexto mais geral, pelo lado das métricas de gestão comercial (o posicionamento e target de mercado, o plano de negócios, a demonstração de resultados, a liquidez necessária a que estes projetos operacionalizem lucro e escalem internacionalmente como marcas de moda).
E onde já há um “good making” a Indagatio acrescenta-lhe, sem dúvida, um “best storytelling”. A conta de Instagram da marca é notória ao nível do conceito lifestyle, dos contos, da ilustração, do mapeamento das espécies e da casa de guardas florestais da Peneda-Gerês.
As marcas “de montanha” portuguesas – a sustentabilidade e o minimalismo pela transparência no processo
Com uma estética clean e looks smart-casual, a ISTO. apresenta-se com variadas referências das quais se destacam as camisas e as t-shirts. A marca é igualmente conhecida pela certificação das suas matérias-primas, produção transparente nacional, proporcionando uma experiência imersiva aos seus clientes, através do programa FACTOURISM. Aquando desta experiência, clientes e amigos da marca são convidados a visitar algumas das fábricas nas quais a ISTO. é confecionada.
Acresce a transparência de preços, estando as margens aplicadas em cada operação explícitas no site oficial da marca.
A marca 8000Kicks destaca-se por ser uma marca a trabalhar o cânhamo, aplicando-o a ténis e à icónica primeira mochila impermeável.
A marca foi desenvolvida por Bernardo Carreira e pela sua avó Otília Santarém, a qual, para além do seu saber técnico ao nível de confecção, também participa (orgulhosamente) na campanha de apresentação da mochila, no vídeo institucional em Inglês.
Segundo os fundadores, Bruno e Inês, “a Lobo Apparel é uma marca familiar, feita a uma pequena escala, próxima dos seus produtos e produtores. Sempre a pensar no melhor produto que podemos apresentar, focada na intemporalidade, qualidade e design. Feita em Portugal pelas nossas fábricas e pelos nossos artesãos. Acreditamos na economia local e de forma responsável. Comprar bem não é comprar muito. Desta forma respeitaremos mais os recursos e o planeta que nos acolhe. Cuide para durar”, pode ler-se num post da conta oficial de Instagram da Lobo Apparel.
A marca caracteriza-se por roupa (algumas referências unissexo), botas, malas, cintos, meias, canecas, patches.
Já abordamos noutro artigo relativo ao turismo industrial de moda alguns projetos da marca Burel Factory. A empresa entrou recentemente no segmento moda mas, já há algum tempo fazia parcerias com marcas como a Sanjo. E dessas parcerias resultaram artigos também eles dignos de referência como os ténis aqui em destaque, K100 Burel Moss.
Ainda no que toca ao calçado, um parêntesis para também referir a Zouri, a Nae e a Clamp. Todas elas marcas que se pautam por princípios de sustentabilidade ambiental, produção nacional, utilização de materiais naturais, reciclados e autóctones.
Menos na direção das “marcas de montanha”, mas sempre numa ótica de um ambiente cool, descontraído, mas elegante, destaque para a Näz. Esta é uma marca de moda portuguesa, sustentável (feita com excedentes de produção, materiais reciclados e fibras ecológicas), inspirada num quotidiano moderno, composta por peças de vestuário coerentes com um estilo de vida mais minimalista e consciente. Este design minimalista e democrático é apenas a superfície de um compromisso sério com a sustentabilidade e a transparência da informação e dos processos de fabricação que são encontrados no coração de cada produto com a etiqueta Näz.
A maioria das propostas da marca é feita a pensar em mulheres, mas a oferta alarga-se a homens.
E, se de marcas cool com design mais minimalista falamos, não podemos terminar sem referir as marcas (portuguesas) A Line, Benedita Formosinho e Ablesia.