Pronto, lá veio o ano novo, que de novo só tem a ideia de novo, mas é exactamente isso que abre a possibilidade, o sonho ou a oportunidade auto-inventada de que se quiser criar uma nova versão de si já tem a liberdade poética para brincar ao “novo eu” (sem ter que dar explicações ao tio chato) mas com o velho e costumeiro “eu de sempre”.⠀
Pois. Janeiro chega e traz aquele cheiro de novidade no ar. Um cheiro meio ilusório, diga-se de passagem. Porque, sejamos honestas, o ano novo é apenas um número diferente no calendário. A promessa de renovação está ali, mas o pacote é opcional. Você é quem escolhe se assina ou não. O ano, por si só, não vai fazer nada. É só uma quarta-feira com os restos de glitter.
Ainda assim, a viragem do ano dá-nos uma oportunidade valiosa: a de mentir para nós mesmas – mas com boas intenções. É aquele momento em que nos prometemos que agora vai! Vai emagrecer, vai economizar, vai curar, vai sorrir, vai cantar, vai fazer e acontecer, vai largar os vícios e – porque não? – vai tornar-se uma versão melhor de si mesma?! Mas há um detalhe que ninguém lhe disse: o ano só muda no papel. Quem precisa mudar, de verdade, é você mesma.
O réveillon é lindo. Porém, nem fogos de artifício, nem champanhe morto, nem jantar caro num restaurante badalado: a magia do réveillon acontece dentro de nós.
Você promete mundos e fundos a si mesma com a convicção de quem encontrou o elixir da produtividade. “Este ano vai ser diferente”, diz você. Mas então vem a vida. E a vida é perita em desmanchar intenções frouxas.
Ali pela terceira semana de Janeiro, as resoluções começam a derreter como gelado esquecido ao sol. O ginásio que lotou no dia 2 já começa a esvaziar. A dieta desanda na primeira sobremesa irresistível. E aquela meta de “ser mais organizada” morre soterrada no caos da caixa de entrada do seu e-mail.
E porque é isto acontece? Porque você confundiu “desejar” com “fazer”. Você achou que a motivação do dia 1 seria suficiente para sustentar mudanças gigantescas ao longo dos restantes 365 dias. Não é. A motivação, caríssima, é como um fósforo: acende rapidamente, brilha lindamente, mas apaga antes de poder cozinhar o arroz, pois o que sustenta as mudanças reais é outra coisa. É a consistência. E o compromisso. E, convenhamos, estas palavras não são tão sexys quanto um feed cheio de frases motivacionais.
Para alguns, pode ser apenas mais um dia, mas para mim é um símbolo. Não é só a viragem do ano que se aproxima, pode ser a viragem de uma página amassada, de uma história mal contada, de sentimentos ainda não elaborados.
O simbolismo da “viragem de ano” inspira-nos importantes reflexões que, em outros momentos das nossas vidas, dificilmente as evocamos.
É hora da viragem. Então, vire-se. Do avesso. Permita-se. Escolha-se. Priorize-se. Ponha as suas metas no papel e vá lá. Vá com medo e com vontade. É hora de recarregar as baterias. Energizar. Acreditar que um futuro melhor é possível. Buscar forças. Buscar ânimo. De apoiar-se. É hora de seguir o caminho que o seu ‘Eu real’ deseja. De viver os seus sonhos. De ter uma vida melhor.
Terminei o ano com a certeza de que não fui exactamente tudo aquilo que esperava há um ano, mas fui seguramente muito mais do que eu poderia ser e fazer com o que eu tinha e o que sentia.
Por isso, para todos nós, não tem de haver arrependimentos. Mas pode haver, sim, coisas para melhorar. E que haja muita vontade. Metas, desejos, sonhos e acção!
Cada Homem, cada Mulher, cada Pessoa simboliza o novo reino, a nova fé, a boa nova — o nosso messiânico porvir, porque uma criança pode vir a ser algo diferente do que somos. E nós também, podemos sempre ser algo diferente, algo melhor dentro do que fomos condicionados a ser.
Nesta altura do ano, milhares e milhares de pessoas tentam ter mais resiliência para encerrar ciclos antigos, e desejam mais alegria, energia, vitalidade e motivação para abraçar outros ciclos ou até, simplesmente, ter um melhor humor no dia-a-dia… Mas são poucas as pessoas que procuram um método comprovado para alcançar esses objectivos.
Algumas pessoas ficam completamente travadas, levando uma vida medíocre e adoecida, com uma rotina malsã. E o motivo é simples: verdadeiramente, só é possível transformar-se quando você investe em si mesma.
Mudar dá trabalho. Dá medo. Dá preguiça. E tudo isso é perfeitamente normal. O problema é que a maioria de nós vive no famoso “piloto automático”. Acorda, pega no telemóvel, reclama do trânsito, sobrevive ao trabalho, assiste à mesma série pela enésima vez, dorme. Repete.
E sabe qual é a armadilha? Achamos que mudar significa lutar contra o mundo. Porém, mudar significa lutar contra si mesma. Contra os hábitos que já estão confortavelmente instalados no seu cérebro, como aquele velho sofá psicológico que ninguém tira da sala porque “dá trabalho”. Mudar significa ter uma conversa séria com a parte de si mesma que adora inventar desculpas: “Hoje não dá porque estou cansada”, “Segunda-feira eu começo”, e o clássico: “Mas e se eu falhar?”.
Querer mudar é lindo, mas querer sozinho não move montanhas. Visualizar ajuda, sonhar é óptimo, acreditar é essencial, mas o que faz a diferença é o verbo agir. E, antes que você diga “Mas eu não sei como”, aqui vai uma revelação: ninguém sabe. Você vai errar. E errar de novo. Mas erra melhor. O importante é que cada erro a leve um passo mais perto do acerto.
A mudança, afinal, não é um salto, é uma construção. E as construções são lentas, barulhentas, cheias de poeira e exigem paciência. Você não vai acordar no dia 1 de Janeiro como uma nova pessoa só porque o relógio deu as 0:00. Mas pode começar a plantar a semente. Pode começar a agir, mesmo que pequeno, mesmo que com medo.
Aqui vai uma verdade inconveniente: os seus desejos não se tornam realidade porque não são tratados como projectos. Desejar perder peso é um começo, mas sem um plano concreto, é só uma ideia bonita. Planear significa definir metas reais, fazíveis, com passos claros.
Por exemplo, ao invés de “vou ser saudável”, diga: “Vou caminhar 20 minutos por dia.” Ao invés de “vou poupar dinheiro”, decida: “Vou guardar 50 euros por mês.” Pequeno. Realista. Sustentável. É disso que se trata.
E mais: planeie sabendo que haverá obstáculos. Porque haverá. Dias de indolência, desculpas criativas, imprevistos, recaídas. Não planeie como se fosse uma super-heroína. Planeie como um ser humano que (como qualquer ser humano) falha – mas que, mesmo assim, se levanta e continua.
E se nada der certo? Se nada der certo, saiba que você não está sozinha. Janeiro pode parecer um palco para novos começos, mas para muitos, é só um lembrete do que ficou por fazer no ano anterior. A frustração bate, a ansiedade cresce, e o peso das cobranças internas parece insuportável.
Mas não se culpe. A maioria das resoluções não sobrevive ao Verão porque nascem frágeis. São promessas feitas à pressa, na embriaguez da meia-noite e sem estrutura alguma. Não são metas, são desejos. E os meros desejos, por mais poéticos que sejam, não têm pernas para correr maratonas.
E é aí que eu a convido a fazer algo diferente: em vez de se afogar na culpa, que tal olhar para dentro? Que tal começar este ano a cuidar daquilo que realmente importa? A sua saúde mental. Porque, convenhamos, não adianta conquistar o mundo se você está exausta, ansiosa ou infeliz. O mundo precisa de um pacto pela saúde mental. E ele começa dentro de si.
Então, aqui vai o meu desafio: em vez de correr para a linha de partida de 2025 arrastando-se, que tal começar hoje, passo a passo, sem pressa, mas com constância? Que tal parar de tentar mudar o mundo todo de uma vez e focar em mudar o que está ao seu alcance? Que tal trocar a corrida pelo cultivo? Porque grandes mudanças começam com pequenos actos repetidos.
Nestes dias o apelo é grande às resoluções de ano novo. Queremos iniciar 2025 de forma diferente, queremos chegar ao final de Janeiro com resultados melhores. Seja a nível profissional, pessoal ou familiar queremos sair de onde estamos e alcançar as nossas metas.
O problema é que muitas vezes os dias passam-se e ficamos presas em meras intenções. Em desejos bonitos, em sonhos inspiradores. Perdemo-nos nestes pensamentos durante as 24h do dia e nada muda. Querer é uma semente da mudança. Mas não é a mudança, em si.
Você tem um ano inteiro pela frente. Não o desperdice esperando que ele seja diferente. Faça você diferente.
Nesta viragem de ano, eu estou praticamente uma publicidade de supermercado em feriado religioso: desejo muita felicidade, fartura e abundância, e faço votos de muito amor, paz, saúde e alegria para todos e todas nós.
E lembre-se: a magia do ano novo não está no calendário. Está em si.
Sara Ferreira
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