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O impacto da obesidade na fertilidade

A obesidade é uma epidemia global que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e as suas consequências vão muito além das questões de saúde física e bem-estar emocional. Uma das áreas mais impactadas pela obesidade é a saúde reprodutiva, podendo desempenhar um papel significativo na fertilidade e na gravidez.

O impacto na fertilidade pode ocorrer em mulheres, mas também em homens. Nas mulheres, a obesidade está associada a uma variedade de distúrbios hormonais que podem afetar a ovulação. É, atualmente, a causa mais frequente de anovulação nos países desenvolvidos e intimamente associado à síndrome do ovário policístico. Nos homens, a quantidade e a qualidade dos espermatozóides também é reduzida por alterações na expressão das hormonas sexuais, com redução da testosterona e aumento dos estrogénios, dependente da função do tecido adiposo.

Após a perda de peso, muitos casais recuperam rapidamente a fertilidade, sendo aqui necessário um aconselhamento eficaz para evitar gravidezes indesejadas ou não aconselháveis nos primeiros meses após uma cirurgia metabólica.

Para as mulheres que conseguem engravidar, a obesidade pode representar desafios adicionais durante a gravidez. As mulheres com obesidade têm um risco aumentado de complicações durante a gestação, nomeadamente diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro e complicações obstétricas durante o parto. A pré-eclâmpsia é o principal fator de risco para morte materna, sendo que as mulheres com obesidade têm este risco extraordinariamente aumentado, com todas as consequências que vêm desta possibilidade de interrupção de um projeto de maternidade e de constituição de uma família completa.

Também para o feto, a obesidade durante a gravidez é prejudicial, aumentando o seu risco de macrossomia (bebé demasiado “grande”), de complicações obstétricas e risco aumentado de obesidade e de doenças do metabolismo na idade adulta.

É, portanto, fundamental que os médicos reconheçam a influência da obesidade na fertilidade e na gravidez, oferecendo o necessário suporte e referenciando estas doentes para tratamento atempado da obesidade. Estima-se que um doente leve cerca de 9 anos até abordar com o seu médico de família o problema da obesidade. Neste sentido, em doentes com projetos de vida que incluam a maternidade, frequentemente é impraticável esperar tantos anos para iniciar um tratamento eficaz e o aproveitamento da vida reprodutiva necessita de abordagem mais célere para o controlo da obesidade.

Um dos receios mais frequentes das mulheres em idade fértil é a possibilidade de reganho de peso após cirurgia, filiado no aumento de peso esperado da gravidez. Ora, o controlo de peso após gravidez ocorre de forma natural e fisiológica, sendo fundamental não entrar em propostas de tratamento “milagrosas” que, muitas vezes, mais não fazem do que agravar a situação clínica.

Apesar do desafio individual que é controlar a obesidade, com as intervenções adequadas e com apoio familiar e profissional conseguimos ajudar os indivíduos no seu projeto de conceção, de forma integral e saudável.

 Artigo de Opinião de Gil Faria

Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo

Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde

Professor da FMUP

Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

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