O Im Viadukt está para Zurique como o Lx Factory ou a Rua de São Paulo estão para Lisboa. Localizado na Viaduktstrasse e sob 36 arcos do viaduto ferroviário (construído em 1894) é a hype zuriquense do momento no que concerne marcas e cultura, com galerias de arte, estúdios, cafés, mercearias gourmet e, claro, uma panóplia de concept stores de moda e desporto, ao jeito industrial e minimalista.
Im Viadukt, Zurique, imagem cotedazurich.ch
Foi no arco 22 (ou em alemão bogen 22) do Im Viadukt que encontrei a concept store Street-Files Journey. Sabendo de antemão que este conceito multimarca, fundado em 2006 por Alex Braunschmidt tem outras filiais espalhadas pela Suíça, apelou-me à alma lusitana a inscrição na montra “made in Portugal”…
Loja multimarca Street-Files Journey, no Viaduktstrasse 43 (Bogen 22), Zurique.
O espaço da loja, outrora dedicado à indústria de manufatura e metalurgia, mantém as paredes revestidas com pedra bruta, em dois andares, com um toque arquitetónico único.
Da curadoria de marcas, destaque para a francesa parages e para a dinamarquesa Colorful Standard, ambas “made in Portugal”.
Marca de moda masculina parages
@ https://parages-clothing.fr
Falar da Colorful Standard remete-nos inevitavelmente para esse “made in Portugal”, mote que encontramos em todas as flagship stores da marca.
Lojas Colorful Standard – à esquerda 59 Rue du Temple, Paris; à direita 1121 ABBOT KINNEY BLVD, Los Angeles.
Outras marcas com uma pegada internacional incontornável, como sejam a Veja e a Pangaia também seguem esta prática de produção em Portugal.
Nunca é demais destacar que fatores como a forte herança têxtil e de calçado em Portugal, as regulamentações laborais da União Europeia e a localização estratégica no mercado europeu tornam o país uma opção de produção e confeção muito atrativa para marcas conscientes.
Vídeo ilustrativo da fábrica da Colorful Standards, em Barcelos, Portugal. @ https://colorfulstandard.com/pages/factory
Vejamos o caso da marca Veja, a qual, em 2023 transferiu parte da sua produção do Brasil para Portugal, assinalando a primeira vez nos 20 anos de história da marca, a deslocalização da produção para fora do Brasil.
Volvidos dois anos, a Veja conta com 95 mil pares de sapatilhas “made in” Portugal.
Parêntesis para referir que com as exportações portuguesas de calçado a atingiram o recorde de 2 mil milhões de euros em 2022, o governo anunciou planos de investimento de 6 mil milhões de euros em inovação e sustentabilidade no setor do calçado até 2030.
Estes exemplos refletem a ampla tendência registada na indústria de moda, caracterizada por marcas de moda e desporto a procurarem alternativas aos tradicionais pólos de produção asiáticos.
Se pensarmos no Vietname enquanto país produtor de artigos moda, vale a pena referir que, segundo dados do Wage Indicator e da Asian Floor Wage Alliance os salários médios mensais ali praticados nas indústrias de têxtil e calçado estão cifrados na ordem dos USD 200-240.
Embora as grandes marcas continuem a depender sobretudo da produção asiática, a crescente exigência dos consumidores em torno da sustentabilidade e da transparência das cadeias de valor poderão acelerar mudanças nas estratégias de produção das referidas marcas, algumas das quais, como referimos, já em curso.
Para os consumidores e para as marcas, esta tendência traduz-se, sem dúvida, em opções mais éticas e sustentáveis — embora, claro está, a preços mais elevados.
Se tem curiosidade acerca de outras marcas de moda suíças, algumas “made in Portugal”, leia este artigo.
Lamarel, R.basics e Ina Kess – algumas das marcas de moda helvéticas “made in Portugal”
@elsadionisiofashionbusinessmanagement.com
Elsa Dionísio

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