Pensar nos mercados de moda asiáticos vai, cada vez mais, muito além do tradicional “made in China”. Estes mercados são também sinónimo de dinâmicas que privilegiam a utilização ativa da economia criativa e da dimensão cultural (inclusive em termos diplomáticos), aplicando e expandindo de forma distinta movimentos como o soft power sul-coreano. De ambos, são exemplo o caso de várias influenciadoras de bandas k-pop e de k-dramas (o equivalente às nossas séries televisivas) se terem tornado, de forma sem precedentes, Key Opinion Leaders (KOL) ou embaixadoras para marcas como Dior, Chanel, Louis Vuitton, Versace, Kenzo, Tiffany and Co., etc., não só na região Ásia-Pacífico, mas no mercado global ao nível do “culto e consumo” de bens de luxo.
E se este fenómeno de representação de marcas não é propriamente uma novidade para o mundo ocidental, o dinamismo digital e os cifrões ali gerados, são de uma magnitude que corresponde ao poder económico destes mercados, dos quais se destacam Singapura, Hong Kong, Taiwan, Japão, Coreia do Sul.
Características diferenciadoras como qualidade, design e inovação são parte do valor acrescentado que mercados como o Japão exigem às marcas que nele se querem implementar. Tendências como o street style, estilo desportivo, alta funcionalidade e desempenho/performance fazem parte do DNA de marcas locais, globalmente implementadas como são os casos das conhecidas Uniqlo, Onitsuka Tiger, Snow Peak, White Mountaineering, Comme des Garçons, Issey Miyake, Yohji Yamamoto, Sacai.
Paralelamente, em 2023, os consumidores chineses foram os mais propensos a gastar em moda de luxo, beleza e cuidados de pele, joias e relógios, sendo estas as categorias que têm vindo a liderar as intenções de compras, durante viagens domésticas.
Assim, e caracterizada por uma base populacional jovem, prosperidade da classe média, com uma recuperação económica recentemente impulsionada pelo governo e início de variados negócios em cidades menores, importa relembrar que a China continua a ser destacada pelas principais consultoras de estudos de mercado como o país que se espera continuar a liderar globalmente, pelo menos até 2025, as vendas e consumo de bens de luxo.
Previsões à parte e indo ao encontro de casos concretos, em Dezembro de 2023 a empresa sul-coreana Coupang anunciou um acordo para a aquisição da plataforma de venda de marcas de luxo Farfetch, a mesma fundada em 2008 pelo português José Neves.
Com a aquisição da Farfetch, o marketplace Coupang posiciona-se como um dos líderes do mercado global do segmento de bens de luxo pessoais (avaliado em 400 mil milhões dólares americanos) dando à empresa uma posição de negócio única na Coreia do Sul, país tido como líder global ao nível da despesa ‘per capita’ em bens de luxo pessoais.
Sendo Portugal um país de elevada tradição na produção de moda e lifestyle (maioritariamente em regime de subcontratação) mas, também e como acabamos de referir com alguns serviços, empreendedores e marcas a trilharem o caminho da distribuição a Oriente – geografias com países a liderarem o ranking dos PIB per capita mais elevados do mundo (como podemos ver sumariamente no quadro abaixo), afigura-se pertinente para a escola de moda Modatex fomentar o curso “Marcados Asiáticos – abordagem para a fileira de moda”.
Sinal dos tempos “digitais” em que vivemos, este é um curso online, que se pretende ser uma ferramenta útil tanto para profissionais do setor, com um horário laboral, como para o público geral, com respetivo horário pós-laboral.
Alinhando a perspetiva da abordagem internacional aos mercados de moda, a Modatex solicitou-me a elaboração desta temática. Desempenhei durante mais de uma década o meu percurso profissional ligado à área do retalho de moda nos mercados do Médio Oriente e Ásia, dominando assim e em primeira mão, a necessidade da comunicação e adaptação interculturais na internacionalização dos negócios de moda a aspetos variados como sejam a cultura, a religião, o clima, e a própria realidade económica dos locais per se.
Num mundo cada vez mais digitalizado e tecnológico, é crítico que os profissionais da Indústria Têxtil e Vestuário (ITV) se mantenham em permanente aprendizagem para assim serem capazes de manter a orientação certa nesta complexa e altamente competitiva teia que caracteriza a indústria da moda.
No seio de um país com longa tradição de produção e exportação, expandir negócios de moda através da internacionalização, seja em modelo B2B ou B2C resultará numa aposta mais acertada se compreendermos e soubermos interagir tanto com os mercados-alvo como com os clientes-alvo.
Atualmente os mercados Asiáticos apresentam taxas de consumo e valores de compra de produtos moda que os posicionam nos lugares cimeiros a nível global. São caracterizados por economias modernas, altamente digitais e competitivas, no seio das quais importa detetar oportunidades de negócio, os principais canais de distribuição, o ecossistema nativo digital e saber operacionalizar essas vertentes.
Neste curso, que pretende ser um road map, serão abordadas temáticas como sejam a importância dos estudos de mercado para um sólido plano de internacionalização; a posição dos mercados asiáticos vs. outros blocos geográficos (tradicionalmente de exportação nacional); serão contextualizados os “mercados asiáticos” enquanto bloco geográfico e será, claro, dada relevância a cada mercado, com respetivos exemplos de canais de distribuição e ferramentas práticas para entrada e permanência neles.
Artigo de Opinião de Elsa Dionísio
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