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O Prazer é (ainda) todo meu: redescobrir a intimidade no Cancro da Mama Metastático

A propósito do Dia Mundial do Cancro da Mama Metastático (13 de outubro), Mafalda Cruz, Radioncologista e Sexóloga, fala às mulheres que vivem com esta doença e têm de enfrentar, sozinhas, as profundas alterações no seu corpo e autoestima

Quando uma mulher recebe um diagnóstico de cancro da mama metastático, o mundo parece parar. Compreensivelmente, a prioridade absoluta torna-se o tratamento, a gestão da doença, a luta pela vida. No meio deste turbilhão, há uma dimensão fundamental da sua identidade e do seu bem-estar que é frequentemente relegada para o silêncio: a sexualidade. Mas a saúde sexual não é um luxo, é uma parte integrante da nossa qualidade de vida. E falar sobre ela é um passo essencial no cuidado da mulher como um todo.

O silêncio em torno deste tema é, no entanto, construído por várias camadas. Por um lado, as mulheres sentem-se constrangidas em abordar o tema, seja por vergonha ou por sentirem que, face à doença, a sexualidade é um “problema menor”. Por outro, os próprios profissionais de saúde, focados na sobrevivência, nem sempre abrem proativamente a porta para esta conversa. O resultado é um tabu que deixa a mulher a lidar sozinha com as profundas alterações que a doença e os tratamentos impõem ao seu corpo e à sua intimidade.

As alterações são físicas e emocionais. A cirurgia pode mudar a imagem corporal, a quimioterapia pode trazer a fadiga e a queda de cabelo, e as terapias hormonais têm um impacto direto na resposta sexual, causando secura vaginal, dor na relação sexual e uma diminuição drástica da libido. O corpo muda, e com ele, a forma como a mulher se vê e sente. A autoestima e a confiança são abaladas, e o desejo parece, por vezes, desaparecer.

É aqui que a conversa se torna tão necessária. O primeiro passo é desmitificar: estes não são problemas “psicológicos” ou “menores”, são consequências médicas diretas dos tratamentos. E, como tal, existem estratégias para os gerir.

A recuperação da vida sexual após o cancro é possível, mas exige, quase sempre, uma adaptação. Não se trata de “voltar ao normal”, mas de encontrar um “novo normal”. Isto passa por redefinir o conceito de sexualidade. A intimidade não se resume à penetração. O toque, o carinho, a cumplicidade e a redescoberta do prazer através de outras formas de estimulação são caminhos que podem e devem ser explorados.

A comunicação com o parceiro ou parceira é, claro, fundamental. Muitas vezes, o receio de magoar ou a incerteza sobre o que o outro está a sentir criam uma barreira. Falar abertamente sobre medos, desconfortos e desejos é o que permite ao casal encontrar, em conjunto, esta nova forma de intimidade.

Existem também ajudas práticas e eficazes. O uso de hidratantes vaginais e de lubrificantes à base de água ou de silicone durante a relação sexual pode fazer uma diferença enorme no conforto e no prazer. São ferramentas simples, mas que devolvem à mulher a possibilidade de uma vivência sexual sem dor.

A mensagem que quero deixar é de esperança e capacitação. A sexualidade é sua. O prazer é seu. Permitir-se redescobri-lo, mesmo num corpo que mudou, é um ato de afirmação da sua identidade e da sua vida. Fale com o seu médico, procure informação, converse com o seu parceiro. A campanha “O Prazer é todo meu | Conversas de intimidade” é um convite para que esta conversa comece agora, sem medos e sem tabus. Porque cuidar da sua intimidade é também uma forma de cuidar de si.


Mafalda Cruz

Radioncologista e Sexóloga

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