Quando pensamos nas refeições em família, quase sempre o foco está no prato: o que cozinhar, se é saudável, se o filho vai aceitar ou não. Mas a verdade é que, para a mesa, levamos muito mais do que comida. Levamos as nossas memórias de infância, de quando fomos obrigadas a comer, ou de quando nos diziam que éramos “lindas meninas” se acabássemos tudo. Levamos a pressão de querer que os nossos filhos simplesmente comam para sentirmos que estamos a cumprir bem o nosso papel. Levamos a culpa de não saber se estamos a fazer certo, e as dúvidas constantes perante conselhos contraditórios que nos chegam de familiares, especialistas, redes sociais.
E os nossos filhos? Eles também não chegam “vazios” à mesa. Trazem o cansaço do dia, a vontade de brincar, a curiosidade, mas também o desejo profundo de serem vistos, respeitados e aceites… mesmo quando rejeitam a comida. É por isso que as refeições podem ser momentos tão tensos. Porque não é só sobre legumes ou colheradas de arroz. É sobre expectativas, emoções e relação.
Já pensaste que a mesa é um lugar tão importante no dia a dia? É nela que encontramos aqueles minutos em que, depois de um dia em cheio, estamos todos juntos. É o espaço onde podemos partilhar como foi o nosso dia, ouvir os nossos filhos e ter um diálogo interessante até sobre as coisas mais banais.
À mesa, não alimentamos só o corpo, alimentamos também a ligação, a segurança e a confiança. É ali que a criança percebe se pode ser ouvida, se pode confiar que as suas necessidades emocionais também têm espaço, se pode ser aceite mesmo quando diz “não”. É nesse espaço que a relação ganha força, não por causa da quantidade de legumes ingeridos, mas pela qualidade da conexão criada. É um momento que vai muito além do prato.
Imagina como seria se, na próxima refeição, em vez de olhares apenas para o prato, olhasses para o momento como um todo. Se para além de te preocupares com a nutrição, pensasses em nutrir também a vossa relação. Podes trazer para a mesa não só comida, mas também curiosidade, brincadeiras, conversas que fazem rir, histórias que aquecem o coração. Pode ser tão simples como perguntar “O que foi mais divertido no teu dia?” ou contar uma memória engraçada da tua infância. Pequenos gestos que transformam a refeição em algo que todos querem viver.
Porque em cada refeição levamos a oportunidade de semear memórias. O teu filho vai lembrar-se das gargalhadas à mesa. Vai recordar o carinho, a forma como o ouviste contar uma história interminável, ou como todos celebraram uma pequena conquista. É isso que fica, e é isso que constrói uma relação saudável em família. Não se trata apenas de nutrir corpos, mas também de nutrir relações. E isso, no fim, é o que verdadeiramente nos sustenta.
E por fim queria deixar-te uma reflexão: Um dia ele vai sentar-se noutra mesa a partilhar o que foi vivido. E isso deixa-te um brilho nos olhos ou um nó no estômago de preocupação?
Com carinho,
Filipa Gomes

Especializada em alimentação responsiva e fundadora do projeto Oishi, a sua missão é apoiar famílias na construção de refeições mais tranquilas, promovendo confiança, autonomia e ligação à mesa. Com base na sua experiência profissional e na maternidade, acredita que a alimentação é um espaço privilegiado para fortalecer relações. Atualmente, acompanha mães e crianças a criarem memórias felizes e uma relação mais saudável com a comida.
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