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Preservar a fertilidade: um passo essencial no tratamento do cancro da mama

No Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, destaca-se uma vertente ainda pouco falada no tratamento oncológico: a preservação da fertilidade. Com o aumento de casos em mulheres jovens, Diana Melo Castro, especialista em Ginecologia e Obstetrícia na Procriar, sublinha a importância de incluir esta preocupação no plano terapêutico desde o diagnóstico

Hoje, 30 de outubro, assinala-se o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, que tem como objetivo alertar para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce deste tumor, cuja incidência tem aumentado em mulheres jovens, em idade fértil. É precisamente neste contexto que surge uma preocupação muitas vezes negligenciada: a preservação da fertilidade.

No momento do diagnóstico — entre a avalanche de informações, decisões urgentes e o impacto emocional —, a necessidade de considerar a fertilidade pode passar despercebida. O avanço dos tratamentos oncológicos tem aumentado significativamente as taxas de sobrevivência, especialmente entre jovens e adultos em idade fértil. Contudo, muitos esquemas terapêuticos — como quimioterapia, radioterapia e algumas cirurgias — podem comprometer, temporária ou definitivamente, a fertilidade.

Para Diana Melo Castro, especialista em Ginecologia e Obstetrícia na Procriar, “a preservação da fertilidade deve ser uma parte integrante do plano terapêutico”. Em entrevista à LuxWoman, a especialista aborda os impactos dos tratamentos na fertilidade, a importância do acompanhamento multidisciplinar e o papel da criopreservação como parte do plano terapêutico.

Este mês, com o Outubro Rosa, destaca-se a importância da prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama. Por que a preservação da fertilidade ganha tanto relevo nas mulheres jovens diagnosticadas?

O diagnóstico de cancro representa um dos momentos mais difíceis na vida de qualquer pessoa. Entre a avalanche de informações, decisões urgentes e o turbilhão emocional, um aspeto crucial é ainda negligenciado: a preservação da fertilidade. O avanço dos tratamentos oncológicos tem aumentado significativamente a taxa de sobrevivência ao cancro, especialmente entre jovens e adultos em idade fértil. Contudo, muitos esquemas terapêuticos podem comprometer de forma temporária ou definitiva a capacidade de ter filhos. Para muitas mulheres, a vitória sobre a doença é seguida por um luto silencioso – a perda da possibilidade de serem mães biológicas. É uma consequência que pode e deve ser mitigada sempre que possível. Por isso, a preservação da fertilidade deve ser uma parte integrante do plano terapêutico, já que permite que estas mulheres, após a superação da doença, possam retomar os seus projetos de vida, incluindo o de serem mães, se assim o desejarem.

Diana Melo Castro, especialista em Ginecologia e Obstetrícia na Procriar

Quais são os principais impactos dos tratamentos oncológicos, como quimioterapia e radioterapia, na fertilidade feminina?

A quimioterapia e a radioterapia, embora muitas vezes essenciais no tratamento oncológico, podem ter efeitos adversos significativos sobre a fertilidade, especialmente em mulheres jovens. Abordar esta questão antes de iniciar qualquer terapia é fundamental, porque as opções de preservação da fertilidade são, na sua maioria, apenas viáveis antes do início deste tipo de tratamento.

A quimioterapia pode causar toxicidade ovárica, levando à destruição dos folículos ováricos e à diminuição da reserva ovárica, podendo mesmo provocar insuficiência ovárica prematura. O impacto depende da idade da paciente, da dose e do tipo de fármacos utilizados.

A radioterapia dirigida à região pélvica pode também afetar os órgãos pélvicos. Mesmo em doses moderadas, sobretudo quando combinada com a quimioterapia, pode ter consequências irreversíveis na função reprodutiva.

Por isso, é fundamental avaliar o risco de infertilidade antes do tratamento oncológico, de modo a podermos propor soluções de preservação de fertilidade que salvaguardem o futuro reprodutivo da paciente.

Muitas doentes recebem o diagnóstico e têm de tomar decisões rápidas. Como é possível, nesse momento tão complexo, integrar a preservação da fertilidade no plano terapêutico?

Sabemos que o diagnóstico de cancro é um momento avassalador e que exige decisões rápidas. No entanto, a fertilidade futura deve ser considerada desde o início. É um direito da paciente ser informada sobre os riscos e as opções disponíveis.

Idealmente, assim que o diagnóstico é feito, a mulher deve ser encaminhada de forma célere para uma consulta de medicina da reprodução. Aí, será acompanhada por uma equipa especializada, que explicará as possibilidades de preservação da fertilidade de forma clara, empática e sem pressões.

Atualmente, a criopreservação de ovócitos ou embriões pode ser feita de forma eficaz, segura e em tempo útil, sem comprometer o início do tratamento oncológico. A chave está na rapidez do encaminhamento e na coordenação entre as equipas médicas.

Quais são as técnicas mais eficazes disponíveis hoje para preservar a fertilidade em mulheres oncológicas?

Atualmente, as técnicas mais eficazes para preservar a fertilidade em mulheres com diagnóstico oncológico incluem a criopreservação de ovócitos e, em casos selecionados, a criopreservação de tecido ovárico.

A criopreservação de ovócitos está indicada para mulheres em idade reprodutiva e permite-lhes congelarem os seus próprios óvulos para uso futuro.

A criopreservação de tecido ovárico é uma alternativa viável em casos específicos, como em raparigas pré-púberes, ou quando o tratamento oncológico tem de começar de imediato.

O mais importante é agir rapidamente e garantir que a mulher é avaliada por uma equipa especializada, que possa propor a melhor estratégia, adaptada ao seu caso clínico e pessoal.

O que é a criopreservação da fertilidade e em que casos é recomendada?

A criopreservação da fertilidade consiste no congelamento e armazenamento de gâmetas (óvulos e espermatozoides), embriões ou tecido ovárico/testicular, com o objetivo de preservar a capacidade reprodutiva.

É indicada sobretudo em situações médicas que colocam em risco a fertilidade — como tratamentos oncológicos, doenças autoimunes ou genéticas associadas à insuficiência ovárica prematura. Também pode ser uma opção para mulheres que desejam adiar a maternidade por razões pessoais ou profissionais, especialmente a partir dos 30 anos, quando a fertilidade começa a diminuir de forma mais acentuada.

É uma ferramenta que dá às mulheres maior liberdade e controlo sobre o seu futuro reprodutivo, oferecendo-lhes tempo e opções.

Há casos em que a preservação da fertilidade não é viável? Como se apoiam essas pacientes?

Sim, infelizmente, há casos em que a preservação da fertilidade não é possível — por falta de tempo, pela idade da paciente, ou por contraindicações médicas.

Nestes casos, o papel do apoio emocional é ainda mais importante. A mulher deve ser acompanhada por profissionais que possam ajudá-la a lidar com esta perda, e devem ser-lhe apresentadas alternativas para o futuro, como a doação de ovócitos ou de embriões, gestação de substituição (quando legalmente permitida) ou adoção.

Acima de tudo, importa garantir que a paciente se sinta amparada e informada, que sabe que continua a ter opções, mesmo que diferentes das inicialmente esperadas.

Como funciona o acompanhamento multidisciplinar no tratamento destas pacientes? Que profissionais estão envolvidos?

O acompanhamento destas pacientes deve ser feito por uma equipa multidisciplinar, que integra diferentes especialidades e trabalha de forma coordenada.

O oncologista avalia o tipo de cancro, a urgência do tratamento e o impacto esperado na fertilidade, e encaminha a paciente para uma consulta de medicina da reprodução. Aí será discutida a técnica de preservação mais adequada, tendo em conta o tempo disponível e os objetivos da mulher.

O apoio psicológico é também crucial. Este processo envolve decisões difíceis, num momento de grande fragilidade emocional. O psicólogo pode ajudar a paciente a lidar com o diagnóstico, com o medo da infertilidade e com o impacto emocional destas escolhas.

A fertilidade é não só uma questão médica, mas também uma questão emocional, ética e de qualidade de vida a longo prazo. Por isso, uma abordagem integrada, que envolva diferentes especialidades desde o início, permite decisões mais informadas, céleres e centradas na paciente.

Que desafios emocionais e práticos são mais comuns para as mulheres que enfrentam esta decisão?

Embora o foco imediato seja muitas vezes o controlo da doença, a fertilidade futura não pode ser negligenciada e deve ser um tópico obrigatório no plano inicial.

Do ponto de vista emocional, estas mulheres enfrentam múltiplos desafios: o impacto do diagnóstico, o medo da doença, a ansiedade sobre o futuro e a possibilidade de perderem a fertilidade. Tudo isto num espaço de tempo muito curto.

Muitas nunca tinham pensado na maternidade, e de repente são confrontadas com a necessidade de decidir se querem preservar essa possibilidade. Isto pode gerar sentimentos de angústia, confusão e solidão.

Do ponto de vista prático, há dificuldades logísticas: marcar consultas, realizar exames, iniciar tratamentos — tudo isto numa janela temporal limitada entre o diagnóstico e o início da terapêutica.

Por isso, é essencial que a paciente se sinta amparada. Uma comunicação clara, um ambiente acolhedor e uma equipa bem coordenada fazem toda a diferença.

De que forma a informação e o aconselhamento pré-tratamento podem fazer a diferença na qualidade de vida futura destas mulheres?

A abordagem da fertilidade antes de iniciar o tratamento é crucial, já que a criopreservação de ovócitos e embriões só pode ser feita antes da quimioterapia ou radioterapia, pois o tratamento pode comprometer a qualidade dos óvulos. Isto evita arrependimentos futuros e permite que o foco no combate à doença seja acompanhado pela preservação da sua autonomia reprodutiva.

Num tempo em que a medicina permite aumentar as taxas de sobrevivência, é nossa responsabilidade garantir que estas pacientes mantêm os seus projetos, os seus sonhos e o seu potencial de maternidade. A criopreservação deve assim fazer parte integrante do plano terapêutico das mulheres em idade fértil diagnosticadas com cancro.

Proteger a fertilidade é, acima de tudo, proteger a esperança!

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