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Qual o método contracetivo ideal?

Isabel Sousa, Médica de Medicina Geral e Familiar da USF Saúde Oeste e ULS Braga, aborda o tema da contraceção no âmbito do Dia Mundial da Contraceção, assinalado hoje, 26 de setembro

A contraceção é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um investimento prioritário no bem-estar da população. Escolher um método contracetivo é uma decisão individual e importante, que deve ter em conta vários fatores, desde o estilo de vida, até à saúde reprodutiva e aos planos futuros.

Com tantas opções disponíveis pode ser difícil saber por onde começar. O seu médico/a e enfermeiro/a trabalham em equipa para o/a ajudar nesta, por vezes, difícil decisão.

Hoje, dia 26 de setembro, celebra-se o Dia Mundial da Contraceção. Sendo o acesso à Saúde Sexual e Reprodutiva um direito fundamental, que deve ser garantido universalmente e livre de discriminação, este dia constitui uma oportunidade para partilhar informação e esclarecer dúvidas.

Enquanto Médica de Família, reconheço que persistem assimetrias no acesso aos cuidados de saúde. Embora a legislação portuguesa assegure consultas de Planeamento Familiar gratuitas, ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade no acesso à contraceção. Este desafio ultrapassa a ação individual de cada profissional, mas todos nós -médicos, enfermeiros, psicólogos, utentes – podemos marcar a diferença, promovendo literacia em saúde sexual e reprodutiva.

“Doutora, qual é o melhor método?”

Não existe um método contracetivo perfeito ou universal. Cada mulher encontrará o método que melhor se adequa à sua situação clínica, ao seu estilo de vida e às suas preferências. O que é ideal para uma amiga ou familiar pode não ser o melhor para si.

Somos uma construção de crenças e expectativas! Por isso, é essencial desmistificar mitos, ouvir cada pessoa e promover um aconselhamento individualizado, para que cada mulher (e cada casal) se sinta capacitada a tomar uma decisão consciente e informada.

O que considerar na escolha?

Cada utente merece uma avaliação biopsicossocial e uma escuta ativa. Aspetos como doenças crónicas (por exemplo, enxaquecas), hábitos (por exemplo, fumar), idade, profissão, cultura, religião ou contexto familiar influenciam a decisão.

Nem sempre o método certo surge à primeira tentativa: podem aparecer efeitos secundários que justifiquem a mudança. O importante é saber que há sempre alternativas.

Quais são os métodos existentes?

1. Métodos de longa duração (LARC):

  • DIU de cobre
  • SIU hormonal (levonorgestrel)
  • Implante subcutâneo

2. Métodos hormonais de curta duração (SARC)

  • Pílula combinada (estrogénio + progestagénio)
  • Pílula só de progestagénio (“mini-pílula”)
  • Adesivo transdérmico
  • Anel vaginal
  • Injetável trimestral

3. Métodos de barreira

  • Preservativo masculino
  • Preservativo feminino
  • Espermicidas (menos eficazes)

4. Métodos definitivos

  • Laqueação (feminino)
  • Vasectomia (masculino)

5. Métodos naturais

  • Método do calendário
  • Temperatura basal
  • Método do muco cervical
  • Coito interrompido (muito baixa eficácia)

6. Contracetivo de emergência

  • Pílula do dia seguinte
  • DIU de cobre (até 5 dias após relação desprotegida)

Alguns dos métodos supramencionados podem ser obtidos/colocados, gratuitamente nos Cuidados de Saúde Primários (Centros de Saúde/Unidades de Saúde Familiares) ou a nível Hospitalar. Os métodos naturais são altamente falíveis, já que requerem um grande rigor e consistência para garantirem a sua eficácia e não recomendo que sejam usados isoladamente.

Informação é poder!

A Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC) e a Associação para o Planeamento Familiar (APF), alertam, e bem, que as restrições/dificuldades no acesso à contraceção e falta de informação aumentam o risco de uma gravidez não desejada com todas as consequências físicas, psicológicas e sociais que lhe podem ser inerentes.

Existe, ainda, muita falta de informação e desinformação sobre contraceção. A maioria da população feminina, sexualmente ativa, apenas conhece a pílula, o preservativo e o dispositivo intrauterino. Estes são, indiscutivelmente, métodos excelentes que oferecem um elevado nível de eficácia, mas…

Quantas de vocês relatam esquecimentos na toma da pílula?

Quantos casais enfrentam dificuldades com o uso do preservativo? Não esquecendo, contudo, que é o único método que vos protege das infeções sexualmente transmissíveis.

E no período pós-parto, será realista esperar que a mulher se lembre, diariamente, da toma da “pílula da amamentação”?

É fundamental abrir horizontes e reconhecer os benefícios de outros métodos pouco explorados e que apresentam inúmeras vantagens.

LARC: métodos de longa duração

Nos últimos anos, os métodos de longa duração (LARC) (Long Acting reversible Contraception) ganharam destaque pela sua eficácia (>99%), comodidade e segurança.

Incluem:

  • Implantes contracetivos (como o o Implante Subcutâneo)
  • DIU (Dispositivo Intrauterino hormonal ou de cobre)

Os  métodos de longa duração são ideais para mulheres:

  •       Com dificuldade em manter a disciplina de administração diária da pílula
  •       Que não querem engravidar no médio ou longo prazo
  •       Em elevado risco de uma gravidez não planeada
  •       Que pretendem um método contracetivo de longa duração
  •       Que pretendem uma contraceção livre de estrogénios
  •       Contraindicadas para o uso de estrogénios

Em resumo

Os métodos contracetivos LARC, como o Implante Subcutâneo, representam uma solução segura, eficaz e prática para quem procura proteção a longo prazo sem preocupações diárias. Embora cada método tenha vantagens e possíveis efeitos secundários, o mais importante é escolher aquele que melhor se adapta às suas necessidades e estilo de vida.

A contraceção é uma parte essencial da autonomia e da saúde sexual e reprodutiva. Não se trata de escolher o método “ideal” em abstrato, mas sim o que melhor se adapta a si, em cada momento da sua vida.

Informe-se, fale com um profissional de saúde e faça a escolha certa para si.

O melhor método é aquele que lhe permite viver com liberdade, saúde e tranquilidade.

Onde procurar ajuda?

  • Centros de Saúde/Unidades de Saúde Familiar do SNS – Consulta de Planeamento Familiar;
  • Linha SNS 24: 808 24 24 24;
  • Farmácias com aconselhamento contracetivo;
  • Clínicas de saúde sexual e reprodutiva.


Artigo de Opinião de Isabel Sousa

Médica de Medicina Geral e Familiar da USF Saúde Oeste e ULS Braga

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