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Vida de bailarina: uma visão de Filipa de Castro e Leonor de Jesus

Filipa de Castro tinha 12 anos quando recebeu as suas primeiras pontas. Recorda com carinho esse momento e diz-nos que, mesmo sem a autorização da professora, andou o fim de semana inteiro de pontas calçadas.

Hoje, é Bailarina Principal – executa essencialmente os primeiros papéis no repertório de uma companhia de bailado – na Companhia Nacional de Bailado e do seu currículo fazem parte os mais variados bailados, desde Romeu e Julieta ao Lago dos Cisnes. 

Leonor de Jesus (c) Hugo David 2020

Leonor de Jesus (c) Hugo David 2020

Leonor de Jesus tinha 9 anos quando teve o primeiro contacto com a dança, no Ginásio Clube Português. Por conselho da sua professora de ballet, Anabela Vieira, fez audição e entrou, aos 10 anos, para a Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional (EADCN). Entrou na Companhia Nacional de Bailado em 2013 e foi promovida a Bailarina Corifeu – dança no corpo de baile mas pode também executar papéis de Solista – em setembro de 2021.

Ambas têm em comum a paixão pela dança e uma vasta experiência que lhes permite sanar todas as nossas dúvidas e curiosidades.

Começámos por questionar-lhes o que é, depois de tantos anos, ainda as deixa nervosas. Leonor, a mais nova das duas, conta-nos que todos os espetáculos a deixam nervosa.

“Todos os espetáculos me deixam nervosa. Bastante nervosa. Sinceramente eu acho que não vai passar. Antes de começar um espetáculo, eu tenho aquela ansiedade e quero dançar e estou muito entusiasmada, mas não gosto de falhar. Mas os nervos fazem parte e é o que nos dá força”, afirma Leonor.

Para Filipa os nervos são algo familiar, estiveram consigo desde sempre. No entanto, revela-nos que está mais nervosa quando está no backstage do que quando está em palco.

“A antecipação e o saber que vais passar por aquele momento, deixa-me nervosa. Mas depois entro e estou tão concentrada naquilo que estou a fazer e a desfrutar o momento que acaba por não ser tão relevante o nervo”, conta-nos Filipa.

Quanto aos desafios, eles estão sempre presentes. Pois como nos explica Filipa, “o objetivo é sempre ir mais além e descobrir mais coisas”, independentemente de ter sido um papel que já fez. “Há medida que a experiência vai aumentando, que a vida vai passando e que a bagagem que nós levamos também vai aumentando, nós acabamos por ser pessoas diferentes do que éramos há dois, três, quatro anos atrás. Portanto a abordagem é sempre cada vez mais completa, mais abrangente. O desafio nunca acaba”, conclui.

Filipa de Castro. (c) Ana J. Nunes

Filipa de Castro. (c) Ana J. Nunes

Não é novidade para ninguém, que muitos artistas têm rituais antes de entrar em palco. Desde rezar a beber um chá específico, quisemos saber se Leonor e Filipa também os tinham. Filipa, é a primeira a afirmar que tem, conta-nos que tem sempre de comer um smint ou uma pastilha de mentol e se ficar a faltar “já não é a mesma coisa” e “normalmente, eu tento que não falte”. Leonor, apesar de não identificar imediatamente, diz-nos que o que começou por ser uma mania foi só lavar os dentes depois de estar maquilhada. “Porque eu penso sempre que eu posso ter fome, ou precisar de algum açúcar. Então deixo para o fim”, conta-nos.

Quanto aos enganos em palco, prontamente respondem que já se enganaram. Mas o que é que se faz nessas horas? “Disfarça-se”, respondem quase em uníssono. O objetivo é sempre que o público não perceba o engano.

E se há uma coisa, que estamos fartinhas de ver nos filmes sobre ballet é a competitividade entre as bailarinas. No entanto, será que é uma realidade, ou não passa de ficção? Leonor responde que existe, mas que não é de uma maneira má.

“Nos filmes é sempre aquele drama e são más umas para as outras. Na vida real, eu acho que isso não é assim. Toda a gente quer o mesmo, queremos nos exceder, fazer coisas melhores. Mas eu acho que é mais uma admiração. Por exemplo, a Filipa Castro é principal, tentar chegar ao lugar dela”, explica Leonor.

Filipa concorda com Leonor e acrescenta: “A competição é algo saudável, é algo que nos faz evoluir imenso. Com o tempo e com a experiência a competição vira-se para nós próprios também. Deixa de ser uma coisa exterior e passa a ser uma coisa interior.”

Symphony of Sorrows (c) Hugo David 2022

Symphony of Sorrows (c) Hugo David 2022

Desde Gisele, passando por A Sagração da Primavera, até Symphony of sorrows, Leonor e Filipa elegem estas como algumas das peças que as marcaram mais. “Cresci imenso como bailarina, gostei imenso do processo, é uma peça com uma atmosfera muito tensa e intensa no movimento. Deu-me imenso prazer e continua a dar-me imenso prazer”, revela Leonor em relação à peça Symphony of sorrows.

Para as bailarinas do futuro aconselham a que tenham muita resiliência, perseverança e força de vontade. “É melhor dar 70% todos os dias, do que dar 100% nuns e 20% noutros. Quanto mais constante for a evolução, o trabalho, a dedicação, o esforço, mais longe se chega”, aconselha Filipa.

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