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Ciência no Feminino: as vencedoras do prémio Mulheres na Ciência

Nesta quarta-feira, dia 10 de maio, realizou-se no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, a entrega das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Esta premiação resulta do Protocolo celebrado entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a L’Oréal Portugal e a Comissão Nacional da UNESCO, e tem como objetivo promover a participação das mulheres na Ciência, incentivando jovens e promissoras cientistas em início de carreira. Foram, por isso, atribuídas quatro medalhas a projetos científicos vencedores, que vão da Diabetes à Recuperação dos solos degradados. A LuxWoman falou com as premiadas Andreia Trindade Pereira, Joana Sacramento, Raquel Boia e Sara Peixoto.

Andreia Trindade Pereira

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Andreia Trindade Pereira, 31 anos, doutorou-se em 2020, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade do Porto, e prosseguiu o seu post-doc com o desenvolvimento de “biomateriais como nanogeradores triboelétricos para aplicações cardiovasculares”, no i3S – Instituto de investigação e Inovação em Saúde, onde prossegue a sua atividade como investigadora. Andreia reconhece que “os homens parecem ter mais progresso para papéis seniores na academia”, além de menor taxa de desistência de carreira, mantendo-se a relevância dos programas “para salientar o perfil de mulheres investigadoras (…) permitindo impulsionar a carreira e estimulando a igualdade de género”.

O que é que significa para si receber a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência?

Sinto-me muito lisonjeada por ser uma das premiadas com a medalha de Honra L’Oréal, uma vez que admiro e servem como meu modelo de inspiração muitas das cientistas distinguidas por este prémio.

O seu projeto passa por descobrir se “Poderá o próprio corpo gerar energia para alimentar e monitorizar dispositivos cardíacos?”. De onde surgiu o seu interesse e qual o objetivo do seu projeto BloodStream2Power?

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, tirando a vida a cerca de 17.9 milhões de pessoas todos os anos. Os dispositivos eletrónicos cardíacos implantáveis, como, por exemplo, o pacemaker, cardiodesfibrilhador implantável (CDI) e dispositivo de ressincronização cardíaca (CRT) são utilizados atualmente no tratamento destas doenças.  No entanto estes dispositivos eletrónicos têm limitações, nomeadamente a utilização de baterias convencionais para se alimentar. Estas baterias têm um tempo de vida limitado, sendo necessário um procedimento cirúrgico para a sua substituição, o que acarreta um grande risco para o paciente.

O projeto BloodStream2Power tem como principal objetivo estudar o uso de uma fonte de energia alternativa inesgotável, nomeadamente através da transformação da energia mecânica do paciente em energia elétrica para alimentar esses dispositivos. Para isso vamos desenvolver nanogeradores triboelétricos biocompatíveis.

Estimulado pelo boom tecnológico que estamos a viver, outro objetivo do projeto BloodStream2Power é utilizar esses nanogeradores triboelétricos para o desenvolvimento de nanosensores para fazer uma monitorização 24/7 do desempenho de próteses vasculares. Estas próteses vasculares são utilizadas para o tratamento da doença arterial periférica ou coronária ou nas fístulas de hemodiálise e estão associadas a taxas de falha que muitas vezes atingem os 50%, devido à ocorrência de trombose. Assim sendo, utilizando estes nanogeradores triboelétricos, pretendemos introduzir a próxima geração de próteses vasculares, que integram um sistema inteligente que permite monitorizar o seu estado e enviar sinais de alerta para o médico prevenindo a sua falha e a ocorrência de um evento vascular, como por exemplo enfarte do miocárdio que pode culminar com a morte do paciente.

Adereçando dois dos problemas centrais das pessoas que sofrem de doenças cardiovasculares – as cirurgias para substituição de baterias nos dispositivos eletrónicos implantáveis e as falhas nas próteses vasculares – o projeto BloodStream2Power poderá impactar a vida das 550 milhões de pessoas no mundo.

Este projeto nasceu durante o meu pós-doutoramento no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no grupo Advanced Graphene Biomaterials, que é liderado pela Dra. Inês Gonçalves e que me proporcionou a possibilidade de estabelecer e impulsionar uma nova área de investigação dentro do nosso grupo, que preenchesse os meus interesses científicos. Após estabelecermos uma parceria com o Professor André Pereira do IFIMUP – Instituto de Física para Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotônica, especialista no desenvolvimento de sistemas de recolha de energia, surgiu a ideia base para o BloodStream2Power, que foi posteriormente maturada e desenvolvida em conjunto com o Dr. João Ventura também do IFIMUP e com a Professora Helga Bergmeistar da Universidade Médica de Viena.

A ciência aparece quando na sua vida?

Desde o ensino básico que as minhas aptidões, preferências e motivação para as disciplinas de cariz mais científico eram mais visíveis do que para as áreas das humanidades e línguas. Com o passar dos anos e possivelmente incentivada pelo entusiasmo do cientista que tive oportunidade de acompanhar de perto, o meu irmão, fui tomando decisões que me levaram a enveredar pela licenciatura em Bioquímica na Universidade de Aveiro. Foi durante o projeto de licenciatura que tive o meu primeiro contacto com o mundo científico. Desde então prossegui estudos para o mestrado em Bioquímica e posteriormente doutoramento no programa GABBA da Universidade do Porto. Inspirada pelo facto de que estar confortável não é a maneira de aprender ou expandir as nossas competências, durante o meu percurso sempre me desafiei a explorar diferentes domínios científicos. Assim sendo, durante esta minha aventura científica explorei diferentes domínios de investigação, nomeadamente a química alimentar e computacional e biologia molecular e a bioengenharia passando por cinco laboratórios nacionais e internacionais em quatro cidades europeias. Foi durante o meu doutoramento, que realizei no i3S, em colaboração com a universidade médica de Viena, na Áustria, que comecei a direcionar o meu percurso científico nomeadamente no desenvolvimento de biomateriais para aplicações cardiovasculares.

Sente que há ainda um longo caminho a ser feito no reconhecimento das mulheres nesta área?

Estamos a viver uma fase onde existe o maior número de mulheres de sempre a enveredar por uma carreira científica. No entanto, parece ainda que os homens têm um maior progresso para papéis mais seniores na academia, uma vez que aparecem mais vezes como último autor, por exemplo. Muitas vezes a falta de prospeção na carreira é apontada como a causa de as mulheres abandonarem o mundo académico e científico. Especialmente em Portugal, a ausência de uma carreira científica dificulta o recrutamento e retenção de talento, não apenas feminino, mas no geral, para a investigação.

O que deve mudar?

Considero que programas como as Medalhas de Honra L’Oréal são cruciais para salientar o perfil de mulheres investigadoras através da atribuição deste prestigioso prémio permitindo impulsionar a carreira delas e estimulando a igualdade de género. Por outro lado, e numa visão mais global, seria importante definir uma carreira científica em Portugal para reter o talento e assim posicionar Portugal estrategicamente como uma referência científica e tecnológica internacional, contribuído para o seu desenvolvimento económico.

Joana Sacramento

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Joana Sacramento, 35 anos, doutorou-se em 2019, em “Mecanismos de doença e medicina regenerativa”, na NOVA Medical School e prosseguiu o seu post-doc em França, no l’Institut de Pharmacologie Moléculaire et Cellulaire, tendo regressado à Universidade Nova de Lisboa, onde integra o grupo de investigação de Sílvia Vilares Conde, que também recebeu uma Medalha de Honra (2009) com um projeto já então direcionado à diabetes. Para Joana, a desigualdade de oportunidades parece ser menor em início de carreira, mas “os lugares de topo nas instituições académicas e de investigação continuam a ser maioritariamente atribuídos aos homens”, e “a progressão de carreira para uma mulher pode ser mais difícil e morosa, principalmente quando adicionamos a esta questão a maternidade”. Joana é casada e tem um filho de dois anos.

O que é que significa para si receber a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência?

É uma grande honra receber uma Medalha de Honra L’Oréal, um prémio prestigiado não só em Portugal, mas em todo o mundo e que, reconhece o trabalho da Mulher na ciência. Sinto que é o reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no nosso laboratório, o que nos motiva continuar a nossa investigação na área do corpo carotídeo e das doenças metabólicas como, a diabetes tipo 2.

O seu projeto passa por descobrir “como alterar seletivamente a atividade do corpo carotídeo para reverter a diabetes tipo 2”. De onde surgiu o seu interesse e qual o objetivo?

O grupo no qual estou inserida, o grupo da Prof. Silvia Conde, na NOVA Medical School, demonstrou que o corpo carotídeo, um pequeno órgão que se localiza bilateralmente no nosso pescoço, está envolvido no desenvolvimento da diabetes do tipo 2. Testámos a modulação bioelectrónica do nervo do seio carotídeo, o nervo que liga o corpo carotídeo ao cérebro e, mostrámos que através desta abordagem, revertemos a diabetes do tipo 2. Contudo, de modo a desenvolver uma terapia que possa ser aplicada no Homem, é necessária uma abordagem que não afete as outras funções que o corpo carotídeo exerce no nosso organismo como, por exemplo, o controlo dos níveis de oxigénio no sangue. Deste modo, surgiu a ideia de se desenvolver uma terapia que permita modular seletivamente a atividade do nervo do seio carotídeo e, assim, tratar a diabetes do tipo 2. Esta nova terapia que propomos e que esperamos desenvolver no futuro permitirá avaliar e corrigir em tempo real a atividade do nervo do seio carotídeo para, desta forma, restaurar a sua atividade basal fisiológica. Assim, esta nova abordagem terapêutica permitirá o ajuste personalizado e em tempo real da atividade do nervo do seio carotídeo, a qual é adaptada às necessidades do doente.

A ciência aparece quando na sua vida?

Sempre gostei muito de ciências e biologia na escola. O facto de ter a oportunidade de investigar uma doença e, desta forma, contribuir para a compreensão da mesma, mas também, poder contribuir para o desenvolvimento de uma nova terapia que possa ajudar as pessoas a ter uma vida melhor, é o que realmente me motiva.

Sente que há ainda um longo caminho a ser feito no reconhecimento das mulheres nesta área?

Infelizmente ainda há um longo caminho a ser percorrido para que haja o reconhecimento das mulheres nesta área. Apesar de atualmente existirem cada vez mais mulheres na ciência, a progressão de carreira para uma mulher pode ser mais difícil e morosa, principalmente quando adicionamos a esta questão a maternidade. Se no início da carreira a desigualdade de oportunidades parece ser menor, os lugares de topo nas instituições académicas e de investigação continuam a ser maioritariamente atribuídos aos homens.

O que deve mudar?

Penso que temos de partir do princípio e educar os nossos filhos para que cresçam sem fazer distinções entre mulheres e homens. A saberem que uma mulher e um homem podem fazer as mesmas coisas e que têm os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Tem de existir não só uma mudança de mentalidade, mas também, em certa parte, cultural.

Raquel Boia

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Raquel Boia, 34 anos, doutorou-se em 2021 na área do “envelhecimento e doenças crónicas”, no iCBR – Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, a mesma instituição que acolhe o atual projeto de investigação. Considera que o meio académico está cada vez mais sensível às discrepâncias de género e, na fase de carreira em que se encontra, não encontra mais entraves por ser mulher. “Contudo, à medida que se vai progredindo na carreira, é notória uma menor representatividade de mulheres em cargos de maior responsabilidade institucional”.

O que é que significa para si receber a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência?

Ver o projeto de investigação que propus ser reconhecido pelas “Medalhas de Honra L´Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência” é muito importante para mim, primeiro porque é um reconhecimento do trabalho que desenvolvi até aqui, e segundo porque me vai permitir progredir na minha carreira científica na área das Ciências da Visão.

O seu projeto passa por descobrir se “será possível regenerar as células da retina para devolver a visão às pessoas com glaucoma. De onde surgiu o seu interesse e qual o objetivo?

O projeto de investigação proposto para as “Medalhas de Honra L´Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência” surge na sequência do meu projeto de doutoramento, no qual identificámos que a ativação de um recetor, que está presente nas células mais afetadas no glaucoma, as células ganglionares da retina, lhes confere proteção.

Atualmente, o glaucoma não tem cura e, geralmente, é assintomático, o que atrasa o seu diagnóstico. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento e progressão desta doença são a pressão intraocular elevada e o envelhecimento. As abordagens terapêuticas disponíveis são dirigidas ao controlo da pressão intraocular e apenas retardam a progressão da doença, não evitando a perda de visão ou cegueira. Portanto, um novo tratamento para o glaucoma que se foque nas células ganglionares da retina é, de facto, uma necessidade premente. O objetivo final de uma terapia focada na regeneração dos prolongamentos das células ganglionares da retina, os axónios, é o de “devolver” a visão já perdida, o que será uma mais-valia para estes doentes.

O objetivo deste projeto é avaliar se a ativação do recetor A3 de adenosina é capaz de promover a regeneração dos axónios das células ganglionares da retina e a correta reintegração destes novos axónios no sistema visual, permitindo a recuperação da visão. Neste trabalho, será utilizada uma estratégia diferenciadora para entrega de fármaco, através de um implante intraocular biodegradável, o que poderá substituir, futuramente, a necessidade de múltiplas injeções intravítreas necessárias no tratamento de doenças crónicas da retina.

A ciência aparece quando na sua vida?

Posso dizer que o meu interesse pela ciência não surgiu logo de imediato quando entrei na Universidade. Este foi um interesse que foi crescendo à medida que fui fazendo o meu percurso académico. E, sem dúvida, que hoje em dia me sinto realizada com o meu percurso científico.

Sente que há ainda um longo caminho a ser feito no reconhecimento das mulheres nesta área?

Sim, sem dúvida. As diferenças de progressão de carreira académica/científica entre mulheres e homens são uma realidade. No entanto, o meio académico está cada vez mais sensível a estas discrepâncias identificando e mitigando as dificuldades. Na fase de carreira em que me encontro estas diferenças ainda não são tão evidentes, contudo à medida que se vai progredindo na carreira é notório uma menor representatividade de mulheres em cargos de maior responsabilidade institucional.

 O que deve mudar?

Apesar de notar que há uma maior sensibilidade por parte das Universidades em mitigar as discrepâncias e as dificuldades que existem na progressão de carreira académica/científica entre mulheres e homens, é necessário a aplicação de medidas mais direcionadas para garantir igualdade de oportunidades para as mulheres crescerem e liderarem laboratórios, instituições de investigação e universidades.

Sara Peixoto

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Sara Peixoto, 32 anos, doutorou-se no início de 2022, em “biologia e ecologia das alterações globais”, pela Universidade de Aveiro, instituição que acolhe o projeto de investigação agora distinguido – o MicroStimulus. Na sua opinião, “ainda existe trabalho a ser feito na questão da igualdade de género no panorama da ciência em Portugal.”.

O que é que significa para si receber a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência?

Para mim é muito gratificante ser uma das vencedoras da Medalha de Honra da L’Oréal desta edição. Este prémio significa não só o reconhecimento do trabalho que desenvolvi nos últimos anos, mas também é um grande incentivo para continuar na ciência e realizar o projeto na área de investigação que pretendo seguir futuramente. Também a divulgação deste projeto através desta iniciativa é fundamental para nós, investigadoras em início de carreira, pois poderá ajudar na consciencialização do público em geral e académico para a problemática associada à conservação do ambiente (no meu caso em particular). E, que em parte, esta divulgação poderá também potenciar a aquisição de novas oportunidades futuramente.

O seu projeto passa por descobrir “como podem os bioestimulantes à base de micro-organismos benéficos ajudar a recuperar solos degradados, nomeadamente pela agricultura intensiva e pelos fogos florestais”. De onde surgiu o seu interesse e qual o objetivo do seu projeto MicroStimulus?

O meu projeto consiste em avaliar a potencialidade de usar bioestimulantes, que incluem micro-organismos benéficos para o solo na sua formulação, na recuperação funcional de solos degradados devido, essencialmente, a práticas agrícolas intensivas e fogos florestais. Para isto, pretendo avaliar os efeitos das interações entre os micro-organismos benéficos presentes nestas formulações de bioestimulantes com os micro-organismos residentes do solo (designado como microbioma do solo), particularmente na área circundante das raízes de plantas. É muito importante estudar esta interação, na medida em que o microbioma do solo é um agente ativo na regulação dos ciclos biogeoquímicos no solo, cujos influenciam a fertilidade e qualidade no solo. Para além deste objetivo, pretendo também perceber se estes bioestimulantes podem promover a tolerância do microbioma do solo a uma nova exposição com contaminantes usualmente aplicados no ambiente (por exemplo, pesticidas).

Esta ideia surgiu devido à necessidade de encontrar alternativas atrativas e sustentáveis (ou seja, “mais amigas do ambiente”) na recuperação da vitalidade de solos menos saudáveis. Sabendo que, anualmente, existe um aumento bastante considerável de áreas degradadas, tanto pela incidência de fogos nas florestas como de solos agrícolas afetados por pressões antropogénicas (como, pela introdução de químicos), tornou-se necessário encontrar estratégias para melhorar a qualidade e saúde destes solos. Esta preocupação também vai ao encontro das políticas definidas pela União Europeia para 2030 (isto é, Estratégia de proteção de solos), que definem como prioridade a recuperação funcional e biodiversidade de áreas degradadas, e visam reduzir a introdução de produtos químicos no ambiente. Um exemplo destas estratégias é a utilização de bioestimulantes que incluem micro-organismos nas suas formulações. Estes são considerados produtos naturais, que originalmente foram desenvolvidos para estimular o desenvolvimento de plantas, através da melhoria das condições do solo. Ou seja, os micro-organismos presentes nestes bioestimulantes tornam disponíveis diferentes nutrientes no solo para as plantas, essencialmente, através da fixação de azoto atmosférico e/ou solubilização de fósforo. Desta forma, possibilitam uma melhoria na qualidade e fertilidade destes solos, contribuindo diretamente para a recuperação funcional e indiretamente para a melhoria da biodiversidade no ecossistema terrestre. Atualmente, ainda pouco se sabe sobre os benefícios e riscos associados à utilização destes produtos no ecossistema terrestre, o que aumenta a relevância da concretização deste projeto.

A ciência aparece quando na sua vida?

Desde muito cedo que as ciências biológicas despertaram o meu interesse, mas foi durante o meu mestrado em microbiologia pela Universidade de Aveiro que tive a certeza que queria trabalhar na ciência, mais precisamente nas áreas de microbiologia ambiental e ecotoxicologia microbiana. Foi nesta etapa que adquiri conhecimento científico sobre a potencialidade de usar os micro-organismos dos solos (microbioma do solo) como indicadores de qualidade do ecossistema terrestre. Essencialmente, identificando alterações no microbioma do solo ao nível estrutural, composicional e funcional, quando exposto a diferentes contaminantes. Assim, o meu interesse em ecotoxicologia microbiana fez com que continuasse a investigar os efeitos de diferentes compostos em diferentes áreas terrestres, particularmente agora com os bioestimulantes.

Sente que há ainda um longo caminho a ser feito no reconhecimento das mulheres nesta área?

Apesar de nos últimos anos ter-se verificado uma crescente presença de mulheres investigadoras a realizar trabalhos de grande relevo a nível nacional e internacional, acho que ainda existe trabalho a ser feito na questão da igualdade de género no panorama da ciência em Portugal. Particularmente no âmbito académico, a presença das mulheres é claramente reduzida, no que diz respeito, a cargos de chefia. O que, evidentemente, requer medidas para colmatar esta desigualdade e promover a presença de mulheres neste campo.

 O que deve mudar?

A participação das mulheres na ciência deve ser continuamente incentivada e apoiada tanto dentro do ambiente académico (em universidades e instituições de investigação) como fora deste (por governos, organizações externas, entre outros). Também a divulgação de iniciativas que visam a participação das mulheres na ciência deve ser priorizada, sendo esta fundamental para motivar as mulheres a seguir/continuar carreiras na ciência. Neste sentido, considero que a iniciativa da L’Oreal é um bom exemplo de incentivo, divulgação e apoio para a permanência das mulheres na ciência.

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