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Como lidar com a exigência de uma mulher

Desde o século XX, que a exigência feminina envolveu o compreender como as transformações sociais, políticas e culturais que impactaram o seu papel na sociedade e os desafios que enfrentam. Este século revelou enormes mudanças, destacando-se o movimento feminista, o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, o direito ao voto, e a luta por direitos iguais, entre outros avanços significativos. Porém, apesar destes progressos, muitas pressões e exigências persistem, somando ainda a exigência de uma aparência impecável e saúde mental intactas que podem levar a um ciclo de ansiedade, culpa e autocrítica.  Assim, é impraticável manter a constância de todas essas expectativas e estes padrões, que muitas vezes, mascaram a diversidade de experiências de vida e ignoram as várias formas de nos expressarmos, como mulher.

A Filipa, fala-nos de como para ela a exigência de ser mulher a tem impactado, “neste momento da minha vida, sinto exigência como filha por ser agora a “mulher da família”; como mãe para dedicar tempo qualidade (..), sinto que falho muitas vezes (..); como manager estar sempre disponível para as pessoas, para as desenvolver (..); exigência como empresária num negócio que não domino, mas por ser familiar existe pressão; enquanto mulher, no meu autocuidado, atenção, presença, saúde mental e física.”

Será que todas as mudanças existentes vieram trazer mais benefícios?

A mulher é alguém que tem de corresponder a vários papéis. O primeiro é o de ser filha, que deverá à partida tomar conta de toda a gente, afastando-se dela própria porque está dentro de uma competição que não quer. Já no papel de mãe, descaracteriza-se pelos julgamentos, crenças ou pela falta de cuidado e apoio familiar. Depois, segue-se o papel de profissional, esposa, amiga entre outros, com diferentes obrigações e funções, acabando por criar uma mistura diferencial. Claro que a forma como lida com a exigências impostas depende muito do ambiente, da maturidade e das condições que possui ou que a Sociedade lhe impõe.

A vida exige mais à mulher: mais dedicação, mais esforço, mais trabalho, mais atenção. As exigências são para ambos os sexos, mas a mulher tem menos oportunidades que o homem, porque temos menstruação, filhos e, na sua generalidade, estes são fatores impeditivos ao recrutamento (…). Enfim, até politicamente se estabelece a Lei da paridade na Assembleia da República como uma obrigatoriedade ao invés de ser uma decisão individual e não sexista.”, relata a Célia que, mesmo não sendo mãe sentiu, na pele, essas exigências.

A nossa vida é, frequentemente, marcada por responsabilidades profissionais, familiares e sociais, aliada à pressão e expectativas que colocamos em nós. Muitas mulheres, cobram-se por serem “multitarefas” perfeitas, capazes de equilibrar tudo com uma certa leveza e elegância. Com o desejo interno de se sentirem competentes e bem-sucedidas, mas podendo, por vezes, levar à exaustão emocional, física e mental. O desafio parece estar no equilíbrio entre o que a sociedade espera e o que cada mulher realmente precisa para ser feliz, saudável e realizada. A pressão externa existente faz com as escolhas que fazemos, sejam elas sobre carreira, maternidade, relacionamentos ou cuidados pessoais, sejam largamente impactadas.

“A única grande exigência que sinto é de mim para comigo mesma, de me despir aos poucos dos efeitos da socialização que senti por causa do género. Quando crescemos vamos internalizando o que é esperado de nós e que não é esperado dos rapazes. Exemplo, as raparigas devem ser menos vocais, estar menos na esfera pública, ter menos opinião, ser menos física nas brincadeiras, ser mais responsáveis, ter menos prazer na vida, ser mais cuidadoras, desculpar mais, ter menos limites, etc.(..) também o fator idade ajuda muito a não dar tanta importância a coisas que antes dava. (..), a expetativa de cuidar ainda recai muito do lado das mulheres, seja da casa, ou da família. Sinto uma maior liberdade que é proporcionada por estar fora da esfera mais tradicional, e por estar muito em contacto com o mundo (..), entre mulheres.” relata a Vanda, que ao não estar enquadrada na sociedade mais tradicional reinventou-se numa sociedade que tem tanto ainda para evoluir.

Quais são, na verdade, as exigências que a mulher enfrenta?

  1. Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal: temos de conseguir dar conta de tudo;
  2. Padrões de beleza e imagem corporal: imagem e corpo impecável, criando stress e problemas de autoestima;
  3. Responsabilidades familiares e sociais: necessidades de corresponder as expectativas que têm por sermos mulheres, mesmo em sobrecarga;
  4. Preconceitos de gênero: ainda não se é totalmente aceite pela diferença;
  5. Autossuficiência emocional e financeira: necessidade independência emocional e financeira acarreta peso de mulher “guerreira”, enquanto tem de cuidar de si própria;
  6. Carreira profissional: pressão de ser bem-sucedida, e enfrentando muitas vezes assédio e discriminação;
  7. Relacionamentos: vida conjugal e intimidade, mesmo com situações de exaustão;
  8. Desafios em relação à saúde mental e bem-estar: O estigma relacionado à saúde mental ainda pode ser maior entre mulheres, especialmente em relação à ansiedade, depressão e stress;
  9. Expectativas de maternidade: mesmo depois da maternidade e todas as alterações hormonais que se sofre tem de ser capaz de tudo, sacrificando-se pela família, na busca de ser a mulher perfeita.

Será que, para muitas, a jornada seja encontrar-se e aceitar quem realmente são fora das imposições, comparações, expectativas alheias e do desejo de agradar os outros e ser aceite?

Compreender que ainda se vive numa consciência coletiva de não merecimento, de dificuldade em de se ser vulnerável e se permitir ser cuidadas. Transformar-se a si não é fácil, por muito estranho que possa parecer. É importante lembrar a individualidade de cada uma e que, só se é lembrada por ela. Uma mulher que pensa pela própria cabeça será sempre uma grande ameaça!!!! Manter o passo firme e caminhar na direção ao que o seu coração dita.

Seguem umas dicas para se poder ultrapassar com as exigências de ser mulher:

  1. Compreender as Exigências: Reconhecer de onde vem a origem das exigências pode ajudar a ter maior consciência das pressões que está a enfrentar e poder decidir, de forma mais estratégica, onde gastar o seu tempo e energia, sem olhar para as pressões sociais.
  2. Definir Prioridades: Saber definir prioridades é fundamental para que o nível de stress seja controlado e a qualidade de vida melhorada. Listar o que é urgente e importante, delegando e adiando ou até mesmo eliminando o que é menos relevante. É importante dizer “não” quando necessário para não se cobrar ou questionar, ou seja, na decisão há que encontrar um meio termo.
  3. Equilibrar a vida profissional e a Pessoal: Estabelecer limites maior espaço para que a sua vida seja menos sobrecarregada.  Criar limites no trabalho como em casa e procurar formas de ser mais eficiente, sem abrir mão do tempo para si mesma. Não ter vergonha de pedir ajuda aos amigos, a colegas e familiares ou mesmo profissionais para criar uma rede apoio e retaguarda.
  4. Cuidar da Saúde Mental e Emocional: Sem dúvida que a saúde mental das mulheres é largamente afetada, colocando-se em segundo plano. Ter hobbies, momentos de lazer, terapias, desporto, práticas meditativas ou de mindfulness que permitam recarregar energias e se poder conectar consigo. Fora que um grupo de amigas ou de apoio em que a partilha é a base, alivia igualmente o peso emocional.
  5. Desafios Relacionados à Carga Mental: A dupla, tripla jornada impacta na carga mental que ainda é, na sua maioria, as mulheres a lidarem com os detalhes do dia a dia. A comunicação tem de ser clara e existir uma partilha das responsabilidades diárias e não uma obrigação unilateral.
  6. Enfrentar Expectativas Sociais e Culturais: As expectativas impostas podem ser muito prejudiciais na mulher, dado que ainda existem padrões rígidos acerca do que é “ser boa mãe”, “boa profissional” ou “boa esposa”. A mulher não está atrelada à sua capacidade de atender a essas expectativas. Ser autêntica e fiel a si mesma é o caminho e é muito libertador.

O século XXI traz novas questões, mas também novas oportunidades para as mulheres, que, como nunca antes, têm o poder de transformar suas próprias vidas e a sociedade como um todo. Lidar com as exigências da vida de uma mulher não significa ser perfeita ou atender a todas as expectativas externas. Trata-se de se dar permissão para falhar, para pedir ajuda, e para cuidar de si mesma ao longo do caminho. Ao cultivar uma prática de auto compaixão, priorizar o que realmente importa e de se cercar de apoio, as mulheres podem caminhar nesta jornada de maneira mais saudável e equilibrada de mãos-dadas. A chave é lembrar-se de que, antes de ser tudo para todos, é necessário ser algo para si mesma.

O mais importante é lembrar que, ao longo dessa jornada, o autoconhecimento, o apoio mútuo e a busca por um equilíbrio saudável entre os diferentes aspetos da vida são essenciais.

Poema de Maria Teresa Horta

As mulheres voam como os anjos:

Com as suas asas feitas

de cristal de rocha da memória

Disponíveis

para voar

soltas…

(…)

Não somos violência

mas o voo

(..)

Somos os anjos

do destino

com a alma

pelo avesso

do útero

Voamos a lua

menstruadas

Os homens gritam:

– são as bruxas

As mulheres pensam:

– são os anjos

As crianças dizem:

– são as fadas

(..)

Soltas,

viando

até chegar ao fim

Dizem-nos:

que nos limitemos ao espaço

(..)

Não há nada

que a nossa voz não abra

Nós somos as bruxas da palavra 


Artigo de Opinião de Sandra Carujo 

Sandra Carujo

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