Poder encarnar outras personagens é a mais-valia que guarda do mundo da moda. A exatidão e precisão exigidas no mundo da pastelaria é a razão da paixão que lhe é intrínseca e que lhe faz brilhar os olhos. Margarita Pugovka, a manequim apaixonada por pastelaria é dos mais conceituados rostos da moda em panorama nacional mas foi com a participação no concurso ‘Masterchef’, no ano passado, que se tornou conhecida junto do grande público.
Nasceu na Letónia, mas veio viver para Portugal com apenas 8 anos. Palmeiras, laranjas e limões serviram de cartão de apresentação a um país onde viria a descobrir a verdadeira paixão. “Devo a minha paixão pela pastelaria e cozinha a Portugal. Foi aqui que, realmente, aprendi e ganhei o gosto pela gastronomia. Comecei com 12/13 anos a fazer, sobretudo, bolinhos para passar o tempo e, a partir daí, foi algo que sempre fez parte da minha vida”, diz. Vamos conhecer Margarita Pugovka?
Porquê a pastelaria, em concreto?
Acho que a culpa é, principalmente, do meu amor pelo açúcar! [risos] Para além disso, adoro a exatidão e a precisão necessárias para transformar ingredientes simples como a manteiga, a farinha e o açúcar em coisas incríveis e deliciosas.
Como foi participar no Masterchef?
O facto de termos estado diariamente fora da nossa zona de conforto foi um desafio e algo que dificilmente experimentaríamos na vida dita ‘real’. Daí poder dizer que foi uma experiência única, algo que me ensinou e me fez crescer imenso.
Algum momento particularmente difícil?
Diria a nossa primeira prova exterior, em Fátima. Foi no dia 13 de Maio, altura em que peregrinos de todo o país chegam ao Santuário. Estavam 36°C e cozinhámos para centenas de peregrinos, durante 8 horas. Houve sangue, muito suor e lágrimas… [risos]
Ia nervosa, no primeiro dia?
A minha primeira vez na cozinha do Masterchef foi para lá de stressante. Éramos 40 a competir por um dos 15 tão desejados aventais, que iriam garantir o nosso lugar nos 15 finalistas. Tremia por todo o que era lado, as minhas mãos não me obedeciam e o pânico estava instalado. Acabou por correr bem, mas perdi anos de vida nesses 45 minutos. [risos]
É natural da Letónia, mas veio para Portugal com apenas 8 anos. Tem memórias desses tempos?
Tenho muitas memórias desses tempos, ainda que pareçam situar-se noutro universo paralelo. Passava muito tempo no campo: a trepar árvores, a apanhar maçãs e a brincar no palheiro. Fui muito feliz.
Os seus pais mudaram-se para Portugal e acabaram por ficar… Do que se recorda quando veio para Portugal?
Fiquei incrédula ao ver palmeiras, laranjas e limões em todo o lado. Foi mágico. Não entendia como é que era possível alguém não comer todas aquelas laranjas caídas e deixá-las apodrecer, um desperdício.
Já voltou ao país de origem?
Sim, tenho família na Letónia, na Rússia e na Bielorússia e costumo ir, todos os anos, matar saudades.
O que mais gosta em Portugal?
Adoro a simpatia das pessoas, a inexistência de temperaturas negativas, mas, sobretudo, a comida e o facto das refeições serem consideradas quase um “ritual” sagrado. Adoro partilhar o amor pela comida com pessoas à mesa.
Como enveredou pelo mundo da moda?
Fui ‘caçada’ por uma scouter da Central Models, aos 15 anos, que me convenceu a inscrever-me no concurso de manequins que estava a decorrer.
Do que mais gosta no mundo da moda?
A possibilidade que me dá de ser uma personagem completamente diferente de mim por um dia.
Prefere pastelaria à moda?
A Moda fez e continua a fazer parte da minha vida. Deu-me a possibilidade de viajar, de conhecer pessoas e universos criativos, mas, neste momento, creio que estou mais focada na pastelaria.
Como concilia o mundo da moda com a cozinha?
Ao dedicar-me à pastelaria de uma forma profissional, acabo por ter pouco tempo para outras coisas, inclusive a Moda. Apesar disso, de vez em quando, sabe bem voltar a lembrar a vida de manequim por um dia.
Como consegue manter a forma?
Sou muito gulosa, mas procuro comer de uma forma equilibrada e, maioritariamente, vegetariana. Pratico ioga e vou a pé para todo o lado.
Que tipo de alimentação faz no dia-a-dia?
Uma alimentação focada em vegetais, fruta e produtos fermentados como o kefir, o chucrute, entre outros.
A cozinha é uma paixão?
Sem dúvida, ainda que cozinhar nunca tenha sido tanto ‘a minha praia’.
O que sente quando está a cozinhar?
É um momento de prazer, quase terapêutico. Gosto de estar na minha bolha a cozinhar coisinhas boas.
É fã da gastronomia portuguesa?
Totalmente, apesar de, no início, ter sido um processo de adaptação difícil.
Algum prato em particular?
Um bom arrozinho de tomate ou de feijão com pataniscas.
A cozinha está na moda e são cada vez mais os Instagrammers que vemos surgirem relacionados com cozinha. Mas a pastelaria nem tanto…?
Acho que a pastelaria passa ao lado e, de certa forma, é intimidante para algumas pessoas. Cada vez mais, a noção de que as sobremesas são algo secundário vai desvanecendo e acho que começa a surgir mais informação e conteúdos incríveis de pastelaria.
Há espaço para crescer na pastelaria em Portugal? Ou é um mercado pouco explorado, ainda, e muito conservador?
Creio que há muito espaço para crescer em Portugal, mesmo que seja um mercado mais difícil. De uma forma generalizada, sinto que a pastelaria é desvalorizada e que o consumidor é muito conservador. Há um mundo de possibilidades infinitas e deliciosas, que vão muito além da pastelaria conventual e das sobremesas clássicas. Aos poucos, isso começa a mudar e têm surgido chefs pasteleiros jovens, talentosos e cheios de vontade de trazer coisas novas e desafiantes. Afinal de contas, a sobremesa é o último momento de uma refeição e consequentemente a ‘chave de ouro’ para a tornar memorável.
Algum bolo que faça e que seja ‘o preferido’?”
Sem sombra de dúvidas, o “medovik”: um bolo de mel e creme fraîche muito popular nos países do leste.