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O Divórcio e o Depois

Quando se vive numa relação em que não se sente felicidade, torna-se urgente encontrar soluções. Tenta-se recuperar essa felicidade enquanto casal, ou opta-se pelo divórcio. E quando essa decisão é tomada, o que é que acontece depois? Como se vive diariamente essa nova realidade? 

Joana Carvalho, economista de formação, escreveu o livro “Estado Civil: Divorciadade forma a “aceitar e clarificar” a sua situação na altura em que se divorciou e de lhe dar “um novo significado”.  Hoje é coach pessoal e ajuda mulheres em processo pós-divórcio a ganharem mais confiança, sentindo-se melhor consigo mesmas.

Joana Carvalho

Joana Carvalho

O divórcio é ainda visto com “maus olhos” na sociedade?

O divórcio é visto como um fracasso pessoal e, para mim, isso é um reflexo de como a sociedade o olha. Os últimos registos (censos 2021) demonstram que 8% da população está divorciada, com maior incidência na população feminina (58%). É a primeira vez que a taxa é superior à taxa da população viúva. 59,5% dos casamentos dão origem a divórcio. Na minha opinião, fala-se pouco do impacto que essa realidade tem na vida da pessoa que se divorcia. Há vergonha, há muita tristeza e há uma pressão enorme para que a pessoa saia rápido do estado de depressão e ansiedade, que é normal após esta grande mudança. É uma realidade instalada na nossa sociedade que precisa de ser considerada como tal e respeitada como uma das grandes fontes de degradação de saúde física e emocional.

O divórcio é a solução para a felicidade?

O divórcio pode ser ou não uma solução para a felicidade. Tudo depende do que se faz a seguir. Esse evento, em si mesmo, apenas reflete uma vontade de se sair de algo que não está bem, mas abre uma ferida na alma, mesmo que se perceba que é a melhor solução. O que vem a seguir é uma outra história. Este é um dos temas que mais gosto de desenvolver porque o trabalho que hoje desenvolvo junto de mulheres está assente no meu enorme “porquê”: acredito que as separações devem ser vividas, não como fracassos pessoais, mas como verdadeiras oportunidades para começar algo de novo. E para isso é preciso trabalhar, e muito, em nós mesmos. Com um casamento, que resultou num divórcio doloroso, e uma separação, que levou a uma completa transformação da forma como vivo e me relaciono, entendi que estes momentos foram cruciais para me desenvolver. Por isso, entrego às mulheres a possibilidade de trabalhar em si mesmas, através do programa que desenvolvi “Terminei um Relacionamento. E Agora?”. As feridas de alma precisam de ser curadas. Trata-se de um processo doloroso, demora tempo e pode trazer danos colaterais, criando um impacto na relação connosco próprios, nas relações pessoais, nos relacionamentos íntimos futuros e na própria carreira profissional. Depois do divórcio não há garantias que a ferida se feche. É urgente cuidar.

É difícil para as mulheres voltarem a entrar numa relação, depois de um divórcio? 

Pela minha análise acontecem as duas situações. Por um lado, a mulher mergulha numa nova relação após o divórcio, não digo facilmente, mas como consequência da sua pouca capacidade em viver sozinha. Por outro, a mulher procura esse tempo após o divórcio para estar sozinha, ou porque fica descrente quanto aos relacionamentos e fecha-se, ou porque quer usar esse tempo para se fortalecer. A verdade é que, segundo os Censos de 2021, os homens voltam a casar mais do que as mulheres. E isto quer dizer muita coisa. Se é difícil para uma mulher entregar-se novamente a um relacionamento é porque a sua necessidade de segurança e estabilidade fala mais alto. Num relacionamento a mulher procura segurança a todos os níveis. Se não encontrar fora, a mulher vai desenvolver dentro de si, seja de que forma for.

E os filhos, como devem ser abordados pelos pais?

Eu não tenho filhos, por isso, nos finais de relacionamento não tive de lidar com essa realidade. Mas, de acordo com a minha análise, os filhos refletem bastante a relação que os pais estabelecem após a decisão de se separarem. Eu diria, que antes de se pensar em como se irá abordar a questão aos filhos, é necessário e urgente reflectir como é que vai ser dali para a frente a relação desse ex-casal. Essas conversas difíceis devem ser preparadas e apoiadas com ajuda externa. Há muitos gatilhos que se acionam após o final de um relacionamento que, a meu ver, devem ser espelhados por profissionais qualificados. Só assim os filhos saberão como reagir. Caso contrário, a confusão do ex-casal instala-se na vida dos filhos e isso traz um impacto enorme ao nível emocional. A comunicação é essencial, mas só há comunicação se as pessoas se escutarem mutuamente. E isso não é garantido no final de um relacionamento. É preciso trabalhar, e muito.

Face à inflação e à crise da habitação pela qual estamos a passar, são muitos os casais que não se conseguem divorciar, sendo obrigados a viver no mesmo espaço. Qual o impacto desta situação nessas pessoas? 

Tenho ouvido muito de alguns casais que a logística e reorganização financeira é um dos grandes entraves à separação de facto. Tenho ouvido ainda mais que o divórcio ou separação nem é colocado “em cima da mesa” exactamente por essas questões. Para mim, continuar a dividir a minha vida com alguém por questões financeiras nunca foi uma opção, apesar de, quando tomei a decisão de me divorciar ter ouvido dizer que nunca conseguiria viver sozinha. Também me dizem que é porque não tenho filhos, mas conheço de perto casos de mulheres que saíram de relacionamentos com filhos e que são exemplos de reorganização financeira com bastante sucesso. Da forma como vejo, as pessoas sentem uma necessidade enorme de ter certezas quanto à segurança e estabilidade. Esquecem-se que as situações mais desconfortáveis são aquelas que mais despertam soluções que alavancam as suas vidas. Ficar em relações que não acrescentam, não ajuda no próprio desenvolvimento pessoal, nem a encontrar o potencial que não se pensa ter. Para além disso, ficar num relacionamento que não se quer, pode trazer ainda mais ansiedade e depressão do que a decisão de sair. Trata-se apenas escolher o que é conhecido. O impacto dessas decisões é variado. Depende de cada situação e de cada pessoa. No meu caso, o impacto de ficar num relacionamento sem futuro seria uma saúde física e emocional ainda mais debilitada derivada de uma baixa autoestima, falta de confiança em mim mesma, pouco sentido de direcção e de não me colocar no topo da minha lista de prioridades.

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O livro “Estado Civil: Divorciada” nasceu de que forma?

O início do livro deu-se com uma carta que escrevi a mim mesma após o final do meu último relacionamento, em 2019. Ao ler e reler aquela carta, vezes sem conta, a dor era tanta que perguntas como “o que vou fazer com isto” e “como vou sair daqui” saltavam na minha mente. E a partir daí nasceu a urgência de escrever para perceber melhor o que tinha acontecido no passado. Essa foi uma das formas de aceitar e clarificar a minha situação atual e de lhe dar um novo significado. Escrever sempre foi uma forma de reflexão para mim. É um movimento terapêutico que tenho comigo mesma e do qual saio sempre diferente. À medida que ia escrevendo ia crescendo a vontade de o partilhar com outras mulheres. Depois passou a ser um dever. Não podia ficar na gaveta. Teria de o entregar ao mundo.

Que mensagem pretende passar?

Quero que o livro sirva como um exemplo de uma mulher, como tantas outras, que aceita a sua fragilidade, a sua vulnerabilidade e a sua história pessoal como conteúdos vivos de desenvolvimento pessoal. Uma história de uma mulher que viveu situações difíceis, mas que um dia tomou a decisão de seguir em frente. Pretendo que essa experiência seja uma oportunidade para unir muitas mulheres na dor e na libertação, porque nós podemos fazer coisas difíceis. E juntas fazemo-lo muito melhor. Quero que as mulheres ao lerem esta história encontrem uma alavanca para viverem melhor os relacionamentos e para perceberem, ainda mais, as mulheres maravilhosas que são.

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