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“O espectáculo mexe com toda a gente”: Dueto Duelo leva para palco a intimidade dos amores em crise

Rita Brütt regressa aos palcos de Lisboa com “Dueto Duelo”, um espetáculo que cruza teatro, música e psicologia para retratar o desgaste das relações amorosas. Depois de estrear em Coimbra e passar por outras cidades, a peça chega agora à capital com sessões na BOTA e no Teatro do Bairro. Em entrevista, a atriz fala sobre o desafio de interpretar Teresa, uma mulher em crise, sobre o processo de construção da personagem com apoio de psicólogos e sobre o impacto emocional da obra no público.

Desde 2007 a pisar palcos, Rita Brütt – rosto conhecido dos portugueses pela suas participações televisivas em séries e novelas, como  “Conta-me como foi”, “Anjo Meu”, “A Única Mulher” e “Fazenda” – prepara-se para levar a Lisboa “Dueto Duelo”, um espetáculo baseado num texto original de Eduardo Brito e Joana Bértholo, nos dias 28 e 29 de junho, na BOTA, e de 4 a 6 de julho, no Teatro do Bairro.

Entre o teatral e o musical, o espetáculo, que estreou em Coimbra no final do ano passado, apresenta Tiago e Teresa, um casal cuja relação se encontra por um fio. Mergulhados na atmosfera elegante de um restaurante e na companhia de um trio de jazz, a dupla protagonizada por Ricardo Vaz Trindade – que assume também a encenação da peça- e pela atriz descortina uma vida conjunta feita de bons momentos, mas também de rotinas, filhos, ciúmes, traições, mal-entendidos e perdas de intimidade e de autonomia. A moderar e a relatar este combate comunicacional encontra-se a actriz Mariana Rebelo, a anfitriã do restaurante.

Como descreveria Teresa, a sua personagem em “Dueto Duelo”? Sentiu-se próxima dela em algum momento?

A Teresa é uma mulher autocentrada por sobrevivência. É actriz e foi mãe há pouco tempo, luta pela sua felicidade, pela sua liberdade, mas é uma eterna insatisfeita. Acho que sou mais moderada do que ela, é bastante intempestiva, mas admiro-a por isso também. Senti-me próxima dela em muitas das suas lutas, mas não as resolveria da mesma forma.

O espetáculo acontece num restaurante com música ao vivo e conta a história de uma relação por um fio. Como foi trabalhar nesta fusão entre teatro, música e emoção?

Foi uma grande aventura e uma grande aprendizagem. Não percebo nada de música, sou muito instintiva mas isso não chega. Contei com a paciência e trabalho dos músicos e do meu professor de voz, tive muitas aulas, ainda tenho. E depois da preparação técnica, tenho de confiar no instinto e atirar-me para o trabalho e permitir-me vibrar como sei, como sinto e saber que me preparei o melhor possível.

Cantar em cena em momentos de tensão emocional parece quase terapêutico. Sentiu isso também como atriz?

(Risos) Ao início não, nada disso. Havia mesmo um momento de estranheza, como se fosse outra coisa, separada do que estava a acontecer em cena. Mas depois com os ensaios e o treino vocal fui conseguindo juntar as duas coisas, fazer uma transição suave. Também acho que ajudou não ser tão dura comigo, não pensar que tenho de cantar bem, não sou cantora, e sim que é uma forma que a Teresa tem de se relacionar com o Tiago. Eles comunicam através da música e é imperfeito, como a relação deles também é.

“Dueto Duelo” aborda o desgaste das relações, o luto afetivo e a perda de identidade após o fim de um amor. Como é dar corpo a estas emoções em palco, num mundo onde tantas mulheres vivem situações semelhantes?

Foi muito interessante olhar, estudar e pensar sobre relacionamentos. Olhar para um casal como um sistema, que opera de determinada forma e tem determinados problemas. A paixão inicial é só um momento do relacionamento e depois há o trabalho que tem de se fazer para que a relação dure e funcione. Acho que a minha geração confia muito “que as coisas se resolvem por si” e não. Não se resolvem por si, há que falar e ir ajustando um ao outro. É como uma dança. Aprendi imenso com este espectáculo e com as sessões de terapia “fictícias”. E dá-me muito gozo fazer a viagem emocional da Teresa com o Tiago da ruptura à esperança, acho que as pessoas se reveem muito nesta relação.

O espetáculo desafia a ideia de “felizes para sempre”. Acredita que esse ideal ainda nos condiciona?

Claro! Quer dizer, talvez “felizes enquanto for bom”. Acho que dantes havia um estigma grande com as separações, que agora já não existe. Não quer dizer que as pessoas fossem felizes sempre, resignavam-se. Agora se não estão felizes, partem para outra, felizmente.

Teresa é uma mulher que tenta manter a sua carreira artística enquanto a vida pessoal desmorona. Vê nela o reflexo de muitas mulheres de hoje, divididas entre o amor, o trabalho e a busca por si mesmas?

Mulheres e homens. Acho que cada vez mais partilhamos esse sítio de procura por uma vida equilibrada onde tenhamos um bocadinho de tudo, a carreira, a família, o lazer, a saúde, a vida social…tentamos ter tudo isso a correr bem, mas temos de ser bons connosco e com quem está ao nosso lado. Às vezes não dá para ter tudo ao mesmo tempo.  Acho que a Teresa adiou tratar de si e depois quando quis resgatar a sua vida atropelou o Tiago. O Tiago também, de certa forma, deixaram-se os dois andar e depois já foi difícil salvar a relação. Ai! Estou a fazer imensos spoilers!

“Dueto Duelo” teve o apoio de uma equipa de psicólogos que ajudou a construir a história a partir de sessões fictícias de terapia de casal. Como foi para si trabalhar com essa abordagem tão próxima da realidade emocional?

Foi uma experiência muito interessante, fizemos duas sessões em que os terapeutas cumpriram a estrutura formal de uma sessão verdadeira e nós, actores que estávamos em residência artística, trabalhámos a partir de um texto inicial que apontava quem eram aquelas personagens e improvisámos ao longo da sessão, usando, claro, a nossa experiência pessoal e emocional. Aconteceram coisas muito fortes ao longo da sessão e isso contribuiu muito para a construção da relação das personagens. Eu e o Ricardo, o actor que faz de “Tiago”, quase não nos conhecíamos. Mas nessas sessões construímos um património emocional fortíssimo. Que foi muito útil para o espectáculo. E foi, também, numa dessas sessões que descobrimos como se resolvia a segunda parte do espectáculo.

O espetáculo é, também, acompanhado por mesas redondas com especialistas em relações e família. Participou ou assistiu a alguma? Que tipo de reflexões têm surgido?

Só assisti a uma. É muito interessante ouvir o público e perceber o eco que este espectáculo tem nas pessoas. Tem havido reacções muito diversas e as conversas são sempre intensas e intencionais. O espectáculo mexe com toda a gente…É mesmo muito transversal isto do amor e das questões à volta do amor.

Acha que o espetáculo pode ter um efeito quase terapêutico para quem assiste? Já recebeu algum comentário do público que a tenha tocado particularmente?

Acho que faz pensar, sim. E já tive muitas conversas sobre potenciais rupturas depois do espectáculo. É delicado.

Há alguma cena ou momento em que se emocione sempre, por mais vezes que o repitas?

Há uma das canções do Tiago que ele canta sozinho para a Teresa, no final, choro sempre.

Depois de tantas apresentações em diferentes cidades, o que significa para si trazer agora este espetáculo para Lisboa?

É bom estrear fora de Lisboa e depois terminar em casa. Tenho a sorte de ter amigos que viajam para me ver, por isso alguns já viram no Porto e em Coimbra. Mas a minha mãezinha ainda não viu. Vai ser bom tê-la na plateia. E regressar ao Teatro do Bairro, que também é um bocadinho casa.

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