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Recuperação pós-parto: Barra e Pilates

Dizer ‘adeus’ ao baby weight numa experiência contada na primeira pessoa.

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O poder do Pilates clínico e da consciência corporal

A ajuda chegou pelas mãos da fisioterapeuta Inês Cancela de Abreu, especialista em saúde da mulher e cuidados infantis e fundadora da Fisioterapia Mães & Filhos, empresa que disponibiliza vários serviços ao domicílio no âmbito do pré e pós-parto, e também do bebé.

Antes de mergulhar de cabeça nas aulas de S.barre, fui ter com Inês e pedi-lhe acompanhamento durante a recuperação pós-parto com aulas de Pilates clínico ao domicílio. Esta vertente não é mais do que uma forma de praticar Pilates sob orientação terapêutica, funcionando como um método para tratar ou prevenir possíveis lesões. A grande preocupação é “fazer com que a pessoa que o pratica se torne mais consciente da sua postura corporal, melhore o seu equilíbrio, força e fluidez de movimento”, explica-me Inês.

O primeiro passo depois de ter recebido a alta médica foi fazer uma avaliação com a fisioterapeuta. Nesta sessão, Inês avalia a diástase (afastamento das duas porções do músculo reto abominal, resultante do crescimento do útero e consequente aumento do volume da barriga), a mobilidade da cicatriz, a eficácia da contração muscular, entre outros aspetos, para que seja possível definir objetivos e constatar eventuais contraindicações nas aulas que se vão seguir. “Tudo conta! Desde o exercício que a mãe realizava antes da gravidez até ao estado clínico do abdómen e do períneo após a gravidez e o pós-parto imediato”, refere a jovem terapeuta. No meu caso, estávamos perante uma diástase de cerca de um dedo, com necessidade de reforçar o períneo e recuperar a tonificação muscular. “Nada mal. Há mães que me chegam com uma diástase de três dedos!”, conta-me Inês. Ótimo, mas, ainda assim, há que seguir com prudência.

Além da diástase, a fraqueza do pavimento pélvico, e consequente incontinência urinária, é outro dos problemas frequentes entre as recém-mamãs, devido ao peso do bebé durante a gravidez e à sua saída, em casos de partos por via vaginal. O que acontece é que a “musculatura do pavimento pélvico sofre alongamento e perde força”, tornando-se “essencial iniciar um bom treino desta musculatura”, explica.

Dou então início às sessões de Pilates clínico com Inês no conforto do meu lar e num ambiente familiar para o meu bebé. Para isso, só precisei de ter um colchão e uma bola de Pilates à mão, e uma grande dose de motivação (que chegou também através dos divertidos sorrisos do pequeno espetador). O acompanhamento da Fisioterapia Mães & Filhos permite escolher entre ter as aulas em casa, sozinha ou com um pequeno grupo de mães (com preços a partir de €200, duas vezes por semana), ou numa das instalações onde a empresa opera, em Lisboa e em Algés (a partir de €50, duas vezes por semana).

Apesar de já ter feito uma ou outra aula e de estar familiarizada com alguns dos movimentos, desconheço em profundidade o mundo do Pilates. Sei apenas que é tudo controlado, tudo devagar e sempre difícil! Na primeira sessão, Inês explica-me pormenorizadamente cada exercício e conta-me que assume sempre uma postura de “polícia”, constantemente a verificar se estamos a fazer tudo corretamente e corrigindo posturas. Este é mesmo um dos maiores privilégios das aulas ao domicílio: são altamente personalizadas, não deixam margem para erros, mas não nos obrigam a grandes logísticas ou a ter de abdicar do conforto do nosso espaço. Nosso e do bebé, que pode participar em vários exercícios, sempre que ambos quiserem.

O que se seguiu? Uma hora de repetições de vários exercícios controlados, sempre com uma palavra em mente: transverso. Não sabe do que se trata? Eu também não sabia, até ter conhecido a Inês. Se pratica Pilates, é normal estar familiarizada com este músculo profundo da zona abdminal, uma espécie de cinta que passa pela linha da cintura. É ele a chave para se conseguir uma boa postura e para proteger a coluna, seja na prática de exercício físico ou no dia a dia.

Posso dizer que ganhar consciência deste músculo foi, sem dúvida, o maior trunfo na recuperação pós-parto. Se no início pensei que ia lá com umas séries puxadas de abdominais em casa, orientada por uma qualquer personal trainer youtuber, e com corridas pelo paredão, aprendi que esse caminho poderia custar-me muito caro, não só em termos funcionais, mas também estéticos, seja a médio ou longo prazo.

Porque é que é assim tão importante evitar exercícios mais intensos na recuperação pós-parto? “Durante a gravidez, ocorrem várias alterações físicas no corpo da mulher, já para não falar da flutuação hormonal, que em tanto influencia a flacidez dos tecidos corporais e a carga que aguentam. Após o momento vulnerável que é o parto, todo o nosso corpo se encontra a trabalhar para nos levar de volta aonde estávamos antes de engravidar. Neste momento, ainda não estamos aptas a aguentar exercício físico intenso. Os músculos do abdómen estão separados (diástase), a relaxina deixou os ligamentos mais laxos, os órgãos pélvicos estão a voltar à sua posição normal, a cicatriz do períneo ou da cesariana encontra-se em recuperação e sabemos que nenhuma destas situações beneficiará com exercício forte ou descontrolado. Pedir um grande esforço a um músculo ou usar cargas altas numa articulação que não está preparada resulta frequentemente em lesão, stress articular e compensações por parte do resto do corpo”, esclarece Inês. Isto aplica-se também à corrrida. Segundo a fisioterapeuta, correr só é aconselhável a partir dos seis meses após o parto, e depois da confirmação de que “tudo se encontra bem com o pavimento pélvico”.

As corridinhas à beira-rio terão mesmo de esperar. No dia seguinte à primeira aula com Inês, o cenário era este: dores, muitas dores, daquelas que sabem bem, porque nos mostram que, afinal, os músculos continuam lá. Glúteos, coxas, zona da cintura e braços, tudo dorido. Bingo! Estas são precisamente as zonas que mais preciso de trabalhar, além da barriga, que, pela questão da diástase, precisa de ser treinada mais indiretamente.

A dificuldade dos exercícios aumenta ao longo da sessão e de sessão para sessão. Por isso, o desafio é constante. No início, sentia quase uma certa frustração por não conseguir fazer alguns dos exercícios propostos (sem esquecer o transverso, que tem de estar sempre ativado!), mas rapidamente esse sentimento foi substituído pela satisfação de conseguir um pouco mais em cada aula. A progressão é mais lenta do que estava habituada antes do parto, é certo, mas aprendemos a ouvir e controlar melhor o corpo.

O trabalho que desenvolvi com a Inês foi, sobretudo, de consciência corporal. Sinto que mudou em muito o meu dia a dia e, claro, a maneira como fiz as aulas de S.barre. Depois do parto, ganhar este domínio do corpo foi um objetivo mais importante do que apenas perder peso ou voltar a vestir o mesmo número de calças.

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